Dezembro foi o segundo mês do ano em que a poupança conseguiu registrar mais depósitos que resgates, com captação líquida de R$ 6,2 bilhões – em maio, foi de R$ 3,5 bilhões. Os demais dez meses foram de sangria e com isso os resgates chegaram ao recorde de R$ 103,2 bilhões em um único ano.
A poupança terminou 2022 com um saldo de R$ 998,9 bilhões. O valor é nada desprezível. É mais do que o dobro do patrimônio dos fundos de ações (R$ 477,8 bilhões) e próximo ao dos fundos de previdência (R$ 1,2 trilhão).
No entanto, a sangria constante da poupança fez com que o estoque se afastasse de seu recorde, de R$ 1,039 trilhão alcançado em julho de 2021.
E essa sangria está ligada a diferentes fatores, mas o cenário de juros elevados explica parte desse movimento. A taxa Selic começou a subir em março de 2021 e estimulou parte dos poupadores a buscar alternativas mais rentáveis.
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Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano, o que equivale a 1,08% ao mês. Já a caderneta está pagando 0,5% ao mês mais a TR, o que totaliza 0,74%.
Enquanto a poupança perde R$ 103,2 bilhões no ano, o estoque de CDBs registrados na B3 cresceu 23%, para R$ 1,8 trilhão (esse crescimento considera novas emissões e também a valorização dos ativos).
Inflação atrapalha
Outro motivo para os saques na poupança é o aperto na renda. A desaceleração da economia ocorreu e o IPCA nos 12 meses encerrados em novembro está em 5,90%. No entanto, ao considerar apenas o grupo de alimentos, a alta é de 11,84%.
O recorde de resgates na poupança em 2022 contrasta com o ocorrido em 2020, ano em que teve início a pandemia da Covid-19 e as famílias deixaram de gastar com serviços presenciais, como viagens. Naquele ano, a captação da poupança ficou positiva em R$ 166,3 bilhões.
Rentabilidade
O brasileiro que tem recursos aplicados na caderneta de poupança recebe uma remuneração de 6,17% ao ano mais a variação da TR. A rentabilidade da poupança está em 0,74% ao mês e é livre de IR sobre os rendimentos.
Mas mesmo sendo livre de IR, essa é uma alternativa de rendimento inferior ao registrado por outras aplicações consideradas seguras.
O CDI (taxa dos empréstimos interbancários) foi de 1,12% em dezembro. Se um investidor aplicou R$ 1.000 em um CDB que pagou 100% do CDI e deixou aplicado por um mês, significa que ele recebeu líquido ao final do período R$ 8,68, ante R$ 7,4 se tivesse deixado na poupança.
Quando o resgate é feito em até 180 dias, a alíquota do IR é de 22,5%. Para o prazo entre 181 e 360 dias, cai para 20%. Ainda há outras duas faixas, 17,5% (361 a 720 dias) e 15% (acima de 721 dias).
Além do diferencial de rendimento, a poupança rende apenas no aniversário, a cada 30 dias. Nas demais aplicações, é pró rata, ou seja, o investidor recebe o rendimento proporcional aos dias em que o dinheiro ficou aplicado.