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Brasileiro recorre ao tradicional carnê para driblar crédito mais difícil

Crediário (ou "buy now, pay later”) é modalidade escolhida por 20,7% dos endividados, diz CNC

Gabriel Tomé

Gabriel Tomé

Juros em alta, risco de inadimplência e bancos mais cautelosos na liberação de empréstimos estão fazendo com que um método antigo de pagamento volte a cair na preferência do consumidor: o carnê (ou crediário). E o brasileiro vem tirando proveito não só do tradicional carnezinho em papel, mas também das alternativas digitais das grandes varejistas, como Casas Bahia e Lojas Americanas (AMER3).

Mas quem ainda usa carnê? Segundo a pesquisa de endividamento realizada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), 20,7% dos endividados tinham obrigações no carnê em janeiro de 2022. Um ano antes, essa participação era de 16,8%. O patamar alcançado no mês passado também é o maior da série desde fevereiro de 2013, quando ficou em 21,5%.

O cenário macroeconômico, leia-se inflação e juros em alta, explica em grande parte a maior adesão à modalidade, que também tem sido tratado pelo nome de “buy now, pay later” (compre agora e pague depois) em iniciativas digitais de fintechs.

A disparada nos preços corrói o poder de compra do consumidor, que para dar conta de seus compromissos acaba recorrendo ao crédito e muitas vezes comprometendo o limite do cartão. Nos 12 meses encerrados em janeiro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumula uma alta de 10,38%.

Outro fator é a alta dos juros. Em momentos de juros em alta, os bancos se tornam mais criteriosos na concessão de limites dos cartões de crédito e outras modalidades, e dessa forma os clientes recorrem ao crédito fornecido diretamente pelo varejista. A taxa Selic está em 10,75% ao ano, mas deve alcançar mais de 12% até o final do ano.

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“Isso deve continuar acontecendo em um cenário de inflação mais alta e juros crescendo no mercado”, diz Izis Ferreira, economista da CNC.

Ferreira ressalta ainda os investimentos que as grandes redes estão fazendo para aprimorar seus mecanismos de análise de crédito.

“As varejistas têm informação sobre o histórico [de compras e pagamentos] do consumidor na loja, o que já ajuda o varejista a oferecer modalidades de crédito mais favoráveis aos clientes”, explica.

Maior recorrência

Pelos dados da CNC, o carnê é um instrumento mais utilizado pelas famílias com renda de até 10 salários-mínimos. Nessa fatia, 21,1% dos endividados responderam que possuem obrigações no carnê, ante 18,3% 12 meses antes. O grande salto, no entanto, ocorre nas famílias com renda acima de 10 salários-mínimos, que avançou de 9,1% em janeiro de 2021, para 18,1% em janeiro deste ano.

De olho nesse público, as varejistas acreditam que a venda com carnê aumenta a recorrência de compra, ou seja, o consumidor volta ao estabelecimento para novas aquisições.

Vital Leite, diretor de Crédito e Cobrança da Via (VIIA3), dona da Casas Bahia e Ponto (antiga rede Ponto Frio), afirma que dos clientes com contratos de crediário no terceiro trimestre de 2021 (a companhia ainda não divulgou o balanço do quarto trimestre), 50% são considerados recorrentes, que são aqueles que fazem um novo crediário em até 24 meses após o pagamento do último contrato.

“Cerca de 30% das compras nas lojas físicas são pagas no crediário. Há dois anos esse número era menos de 14%”, diz o executivo.

A Via quer que o crediário também seja relevante nas compras feitas no comércio eletrônico, de olho no público não bancarizado ou sem acesso a outras formas de financiamento ao consumo. Por essa razão, deu início em 2021 ao “crediário virtual”, que tem uma participação de 4% das vendas. Essas compras podem ser parceladas em até 24 vezes e a análise de crédito é feita no mesmo momento da solicitação.

Considerando o crediário digital e o tradicional, a Via contava em setembro com 4,3 milhões de clientes ativos e uma carteira de crédito de R$ 4,8 bilhões.

Neste mês, a varejista também passou a oferecer o crediário online para os produtos vendidos no market place da Casas Bahia. A iniciativa já atinge 170 lojas parceiras.

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A Lojas Americanas é outra varejista que resolver dar uma cara nova ao velho crediário e lançou, em outubro, a versão digital no Ame Digital, a plataforma de serviços financeiros da rede.

A ideia é que o crediário Ame atenda aos clientes que não possuem cartão de crédito. As compras por esse mecanismo podem ser parceladas em até 18 vezes.

Cuidado com as taxas

Mas o consumidor deve ter cuidado com esse instrumento. Como todo crédito, existe um custo embutido – e que deve estar especificado. De acordo com o Banco Central (BC), em dezembro a taxa de juros do crédito pessoal estava 85,2% ao ano em dezembro (o equivalente a 5,27% ao mês).

Como exemplo, em uma compra de um eletrodoméstico de R$ 2 mil em 12 vezes e taxa de 5,27% ao mês, a parcela será de R$ 229,10, o que significa que ao final desse período o gasto com juros terá chegado a R$ 749,20.

Apesar desse custo, Silvio Paixão, professor de macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis (Fipecafi), afirma que esse meio de pagamento cresce pelo contexto macroeconômico e também pelo apetite das varejistas em vender.

“O sistema de avaliação de crédito é mais flexível por parte dos varejistas [na comparação com bancos], que usam o pagamento das prestações como uma forma de gerar novas compras”, diz.

 

 

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