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Bancos esperam ganhar (ainda) mais com juros dos clientes; saiba por que isso vai acontecer e o que fazer

Instituições financeiras vão priorizar empréstimos que possuem taxas mais elevadas

Foto: Shutterstock

Os grandes bancos brasileiros esperam crescimento do crédito em 2022, mas a perspectiva é de uma expansão ainda maior na chamada margem com os clientes. Para o consumidor, essa equação reflete a tendência das instituições financeiras em priorizar a oferta de linhas de crédito mais caras, ou seja, aquelas em que os juros são mais elevados.

De forma simplificada, a margem com clientes é uma espécie de lucro bruto das instituições financeiras com empréstimos a pessoas físicas e jurídicas — em outras palavras, quanto os bancos ganham com financiamentos a consumidores e empresas.

No Itaú Unibanco (ITUB4, ITUB3), a projeção para 2022 é que essa margem com clientes cresça entre 20,5% e 23,5%. No caso do Bradesco (BBDC4, BBDC3), o crescimento esperado é de 8% a 12%. Nos dois casos, o crescimento esperado para a margem é muito acima da projeção para expansão da carteira de crédito (9% a 12% e 10% a 14%, respectivamente).

Em relação ao Banco do Brasil (BBAS11), a projeção divulgada é referente à margem financeira bruta, que inclui também as operações com o mercado [ou seja, ganhos ou perdas com investimentos em títulos públicos, derivativos, câmbio e ações]. O esperado pela instituição financeira é que essa linha do balanço cresça de 11% a 15%, acima do esperado para o total dos empréstimos (8% a 12%).

Gordura para queimar

Carlos Daltozo, diretor de renda variável da Eleven Financial, afirma que esse crescimento esperado pelos bancos com a margem está ligado ao tipo de crédito que vão priorizar, que são os de maior risco e, portanto mais caros, como o cartão de crédito.

“As linhas de crédito que estão crescendo são as mais arriscadas e causa esse efeito na margem com clientes”, explica.

Os bancos estão indo para esse cenário de maior risco no momento que a inadimplência começa a subir. Os atrasos acima de 90 dias subiram nos três bancos no segmento pessoa física no quarto trimestre de 2021.

Na avaliação de Daltozo, apesar da inadimplência na pessoa física dar sinais de atenção, os bancos estão mais propensos ao risco porque estão com “gordura” para queimar. As provisões para devedores duvidosos (PDD) são a reserva que os bancos fazem para lidar com eventuais calotes.

“Os balanços dos bancos têm um colchão. Caso a inadimplência suba, não vão ter que fazer provisões adicionais “, explica Daltozo.

O índice de cobertura é a relação entre as provisões de crédito e os créditos inadimplentes. Se ela é de 100%, por exemplo, significa que o total de provisões equivale ao volume de operações em atraso. No Itaú, essa cobertura é de 241% e, no Bradesco, de 261%. No BB, esse indicador era de 294,3% no quarto trimestre.

Nos três casos, essa cobertura está bem acima do nível histórico, que é abaixo de 200%, indicando que há “gordura” para os bancos se arriscarem na oferta de crédito aos clientes.

Para os analistas do Bank of America, o Itaú é o banco que apresenta um mix de crédito mais arriscado, com uma maior participação do cartão de crédito na carteira — essa linha tem poucas garantias para a instituição financeira, diferente de operações como o consignado ou um financiamento de veículos.

E o que fazer?

Os grandes bancos estão com apetite para emprestar e, no caso das pessoas físicas, essa estratégia passa pela oferta das linhas mais arriscadas. Para as instituições financeiras, maior risco significa maior chance de inadimplência e dificuldade de recuperação do valor emprestado. Por isso, os créditos mais caros são aqueles que não possuem garantia.

Crédito direto ao consumidor (CDC), cartão de crédito e cheque especial são as principais linhas que se encaixam nessa categoria e também aos com maiores aumentos de juros nos últimos meses – e o movimento deve continuar.

No caso do cheque especial, o juro é de 127,6% ao ano em dezembro (o equivalente a 7,09% ao mês), segundo dados do BC. Essa taxa representa um aumento de 12 pontos percentuais na comparação com dezembro de 2020. No CDC, estava em 85,2% (5,27% ao mês), alta de 10,8 pontos no mesmo período.

No cartão de crédito, o consumidor encara aumento das taxas nas duas modalidades. No rotativo (quando a fatura não é paga integralmente e há incidência de juros sobre o valor remanescente), era de 349,6% (13,35% ao mês) e no parcelado, de 168,5% (8,58% ao mês), altas de, respectivamente, 21,8 pontos percentuais e 19,6 pontos percentuais.

Para fugir desse movimento, o potencial tomador de crédito vai precisar mais do que nunca pesquisar pelas melhores taxas de juros, mas também contratar o empréstimo do tamanho e prazo que precise – nada de cair na armadilha de pegar um pouco a mais só porque há limite.

O ideal é buscar as alternativas mais em conta, como o crédito consignado (aquele com desconto em folha) e tentar quitar a dívida no menor prazo possível – assim, se reduz a despesa com juros.

Esse cuidado é necessário porque o brasileiro está cada vez mais comprometendo sua renda com o pagamento de dívidas. Os últimos dados do Banco Central mostram que 27,9% da renda comprometida com o pagamento de dívidas. Doze meses antes, esse indicador era de 23,1%.

 

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