Temor com Ômicron aumenta e Ibovespa começa semana em queda

Em linha com as bolsas do exterior, o Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira, dia 10, pressionado pelo aumento da variante Ômicron ao redor do mundo. O índice terminou o pregão de hoje em baixa de 0,75%, aos 101.945 pontos. No mês até aqui, a queda é de 2,74%.

A Ômicron, variante do coronavírus que vem se provando mais contagiosa, já fez com que uma série de países registrasse recorde de casos nas últimas semanas, como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália.

No Brasil, a medição de casos segue limitada depois do ataque hacker ao Ministério da Saúde no início de dezembro. Porém, a evidente disparada de infecções vem causando preocupações, especialmente para o setor de serviços.

Hospitais privados de dez estados e do Distrito Federal já informaram um aumento significativo de pacientes com Covid-19, de acordo com levantamento da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), que mostra alta de 655% nos casos desde dezembro. Um terço dos casos exigiu internação.

É um número que preocupa, uma vez que estudos internacionais indicavam que o risco de internações com a Ômicron, uma variante que parece mais branda, era 80% menor que a média das demais variantes. Assim, algumas das principais empresas do setor tiveram quedas no dia de hoje. Qualicorp (QUAL3) perdeu 5,53%, Hapvida (HAPV3) caiu 5,24%, NotreDame (GNDI3) teve baixa de 4,52%, e a SulAmérica (SULA11) recuou 3,23%.

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Em virtude do aumento de casos, a Ablos, associação que representa lojistas, informou que irá encaminhar aos shoppings um pedido para que os horários de operação sejam reduzidos por algumas semanas. Segundo a associação, uma redução nos horários ajudaria os lojistas que têm sofrido com falta de funcionários infectados por Covid-19 ou Influenza.

Entre as operadoras de shopping listadas na bolsa brasileira, Multiplan (MULT3) perdeu 1,32% e BR Malls (BRML3) caiu 2,47%.

Também reflexo da disseminação do vírus, centenas de voos foram cancelados no Brasil após o aumento de casos de Covid-19 e influenza, tanto entre pilotos e comissários de bordo quanto na população em geral. A Gol não reportou cancelamentos, enquanto Azul e Latam foram as que mais tiveram decolagens suspensas, com mais de 500 no total. Gol (GOLL4) fechou em baixa de 0,44% e Azul (AZUL4) teve recuo de 1,13%.

“Vemos um cenário inverso ao de 2020. Na época, os governos que mandavam fechar [os estabelecimentos], e agora vemos os lojistas e empresas sofrendo com surtos nas equipes e fazendo isso na marra”, afirmou Renan Sujii, estrategista de investimentos da consultoria RIMS3 Capital, em entrevista à Agência TradeMap. “Isso vai afetar resultado de vendas, shoppings, varejo e aviação civil, por exemplo. Os perdedores de 2020 no início da pandemia estão voltando a sofrer hoje”.

Além da Covid-19, a ata do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), divulgada na semana passada e referente à última reunião do comitê de política monetária, segue preocupando os mercados, que esperam a fala do presidente da instituição, Jerome Powell, prevista para amanhã, dia 11. Teme-se ainda que os dados de inflação no país, esperados para quarta-feira, confirmem as expectativas de alta de juros já em março.

Em Wall Street, o S&P 500 fechou em baixa de 0,16%, o Dow Jones caiu 0,45% e o Nasdaq teve leve alta de 0,05%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 500 teve baixa de 1,54%.

A alta de juros por lá pesa no mercado brasileiro porque, em um cenário de subida maior do que o esperado das taxas de economias como a americana, a tendência é que o Banco Central (BC) tenha que elevar mais os nossos juros para evitar que uma saída maior de recursos pressione o câmbio e a inflação.

Nesta manhã, a mediana das projeções de analistas de colhidas pelo Boletim Focus para a taxa de juros básica, a Selic, subiu para 11,75% ao ano no final de dezembro. Se a aposta se confirmar, o ano terminará com a maior taxa desde abril de 2017, quando estava em 12,25% ao ano.

Os especialistas voltaram a reduzir suas expectativas para a alta do PIB deste ano, de alta de 0,36% para expansão de 0,28%.

Sujii considera o ambiente de 2022 em risco. “Estamos vendo novamente a inflação sendo um problema. Ao mesmo tempo, vemos sinalização do BC de que devemos ter um ciclo de alta de juros maior, além de instituições estarem reduzindo as projeções para o PIB”, disse o analista.

Em outra frente, o governo segue em busca de uma solução para a questão do Refis às pequenas empresas, recentemente vetado por Bolsonaro. O Congresso vem trabalhando para derrubar o veto. “Hoje devemos ter uma decisão para atender o pessoal do MEI (Microempreendedor Individual) que contraiu um empréstimo por ocasião da pandemia, para que seja negociado. Pretendemos uma solução parcial agora e, com a volta do parlamento, eu tenho certeza que o Parlamento vai derrubar o veto”, disse o presidente em entrevista à Rádio Sarandi.

Permanece também o clima de tensão em torno do impasse dos reajustes salariais dos servidores.

Para amanhã, o mercado local estará de olho nos dados de inflação de dezembro, medidos pelo IPCA.

Destaques do pregão

No fechamento, as maiores quedas do Ibovespa eram de Banco Inter (BIDI11), Magazine Luiza (MGLU3) e Méliuz (CASH3), com perdas de 8,57%, 7,72% e 5,75%. Liderando as altas, por outro lado, estavam Usiminas (USIM5), Fleury (FLRY3) e CSN (CSNA3), com avanços de 4,77%, 3,74% e 3,32%, respectivamente.

O Banco Inter tem vivido dias intensos, tendo disparado mais de 15% na sexta-feira. Sujii ressalta que empresas de tecnologia são muito sensíveis a ambientes de correção de taxas de juros.

As maiores altas são de empresas que trabalham com exportação, em meio à apreciação do dólar em relação ao real nos últimos dias.

Vale (VALE3), CSN (CSNA3), CSN Mineração (CMIN3) e Usiminas (USIM5) paralisaram operações de mineração em Minas Gerais para garantir a segurança dos trabalhadores e das comunidades em meio às fortes chuvas na região. Ao contrário das altas de Usiminas e CSN, Vale teve baixa de 1,19%, enquanto CSN Mineração teve leve alta de 0,14%.

Ainda que a Vale tenha afirmado que a paralisação não muda sua projeção de produção para o ano, analistas do Itaú BBA estimam que a produção de minério de ferro da companhia poderá ficar mais perto do limite inferior da meta de 2022, de 320 milhões a 355 milhões de toneladas. A restrição da oferta, segundo o banco, poderá ainda sustentar os níveis globais de preço do minério de ferro.

Além das exportadoras, um dos poucos setores que apresentaram alta foi o dos grandes bancos, seguindo a movimentação dos investidores de migração para ações de valor. Itaú (ITUB4) teve avanço de 0,93%; Bradesco (BBDC4), de 0,35%; Santander (SANB11), de 1,28%; e Banco do Brasil (BBAS3), de 0,52%.