Com os ativos das reservas internacionais congelados por sanções impostas pelos Estados Unidos e países da União Europeia, a Rússia pode dar, nesta quarta-feira (16), o primeiro calote da dívida externa desde 1917.
O país tem que pagar hoje US$ 117 milhões em juros correspondente a dois títulos de dívida com vencimentos em 2023 e 2043 que somam US$ 4,5 bilhões. E há outro grande vencimento de títulos de dívidas externa em 4 de abril, que soma mais de US$ 2 bilhões.
Com grande parte dos US$ 630 bilhões em reservas internacionais congelada, o governo russo informou que faria o pagamento em rublo até que haja o desbloqueio de US$ 300 bilhões em ativos pelo Ocidente. Mas os títulos da dívida externa não podem ser pagos em moeda local.
A Rússia tinha 55,2% das reservas em euro, dólar e libra esterlina. O restante estava em ouro, yuan e outros ativos.
De acordo com a Fitch, o uso pela Rússia de moeda local para pagar os juros da dívida externa representará um calote e o país terá uma carência de 30 dias para quitar essa obrigação.
Rebaixamento
No início de março, as agências de classificação de risco já haviam rebaixado a nota de crédito russa para ‘junk’, grau especulativo, prevendo alta chance de não pagamento.
Se os juros da dívida não forem pagos pela Rússia após o prazo de carência, a nota de crédito será rebaixada pela Fitch de ‘C’ para ‘D’, de default (calote). Isso pode dificultar ainda mais o acesso do país a financiamento externo, que já está restrito após as sanções impostas pelo Ocidente.
Os Estados Unidos impuseram restrições inclusive para novas emissões de dívida da Rússia no Ocidente.
Segundo a Fitch, o país deixou de pagar os investidores estrangeiros detentores de títulos do governo russo emitidos em moeda local, com vencimento em 2024 e que venceram em 2 de março, devido às sanções financeiras.
US$ 40 bilhões em circulação
A Rússia tem 15 títulos internacionais com um valor de cerca de US$ 40 bilhões em circulação, cerca de metade deles detida por investidores internacionais.
A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, informou na semana passada que teve perdas em torno a US$ 17 bilhões em ativos russos. Segundo a empresa, seus clientes detinham US$ 18,2 bilhões em investimentos nesses ativos no fim de janeiro.
A Rússia fechou a bolsa de valores e impôs restrições sobre a saída de recursos estrangeiros do país após o rublo cair mais de 30% com a invasão da Ucrânia.
A Pimco tinha pelo menos US$ 1,5 bilhão em títulos de dívida soberanos da Rússia e cerca de US$ 1,1 bilhão em Credit Default Swaps (CDS), contratos que garantem proteção contra calote.
A Janus Henderson, a Ashmore e a Western Assets, todas gestoras, também tinham exposição a bônus russos, segundo a Morningstar. O banco de investimentos JPMorgan estima que há cerca de US$ 6 bilhões em CDS pendentes que precisariam ser pagos.
Risco sistêmico baixo
O mercado não espera, contudo, que um calote da Rússia represente um risco sistêmico, dada a baixa exposição de bancos ocidentais a ativos da Rússia, devendo ter maior impacto para as instituições financeiras europeias.
Isso, contudo, deve agravar a recessão econômica da Rússia. Mas pode beneficiar outros emergentes como o Brasil, que oferece uma das maiores taxas de juros reais do mundo e tem atraído investimentos destinados a países emergentes.