Previdência de cara nova: número de fundos multimercado e de ações salta 31% em 2021

Queda de juros e flexibilização de regras impulsionaram opções para aplicações de longuíssimo prazo

Em meio à redução de juros e flexibilização de regras, a previdência privada vem passando por uma revolução nos últimos anos. A ideia de contribuir para um único fundo de previdência de renda fixa pela vida toda ainda é predominante entre os brasileiros, mas é um conceito que começa a mudar.

Atualmente, 65% dos recursos alocados nesses fundos estão em renda fixa altamente conservadora, segundo dados de novembro da Anbima (Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Pode parecer muito, mas esse percentual vem caindo: em dezembro do ano passado, a fatia era de 70%.

Já os recursos em multimercados (que investem em renda fixa e variável) saltaram de 12,33% para 18% na mesma comparação. Não é só uma questão de volume de patrimônio, mas também da quantidade de novos produtos que vêm sendo criados.

Em dezembro de 2020, havia 1.723 fundos de previdência multimercado no país, número que saltou para 2.224 no mês passado, um crescimento de 29%. No caso de fundos dedicados a ações, o total passou de 174 para 266, mais de 50% de alta. O número de aplicações de renda fixa subiu apenas 11,4%.

Ou seja, há um número cada vez maior de aplicações de longuíssimo prazo fora da tradicional renda fixa na mesa, em resposta à demanda dos investidores brasileiros por diversificação.

“A queda recente das taxas de administração desses fundos, por causa da redução dos juros, é um dos pontos que está ajudando nesse processo. Antes muitos investidores não olhavam para isso”, aponta Eduardo Massin, especialista em previdência complementar da Messen Investimentos. “Os bancos tinha fundos que cobravam 4%, até 6% de taxa de administração, mas como a Selic [taxa básica de juros] estava alta, o investidor não sentia tanto”.

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A taxa básica se reduziu de 14,25%, do final de 2015, para o piso de 2% ao ano em 2020, e se manteve neste nível até o início de 2021 – os juros voltaram subir ao longo do ano passado, mas ainda estão em 9,25%, bem abaixo do patamar de seis anos atrás.

Esse cenário estimulou a procura por aplicações em renda variável e estimulou à criação de novos produtos. “Existe uma onda de gestoras criando produtos novos com exposição a ativos internacionais”, aponta Massin. “Há também os fundos de previdência quantitativos, em que parte da gestão é feita através de cálculos automatizados”.

Esse movimento também vem acontecendo por causa de alterações em regras desses fundos que vêm sendo conduzidas pela Susep (Superintendência de Seguros Privados). De acordo com Massin, há até poucos anos não era possível a criação de fundos de previdência 100% dedicados à renda variável ou com exposição a ativos internacionais, por exemplo.

O especialista lembra que a ideia de possuir somente um fundo por toda a vida está mudando bastante. As corretoras vêm apresentando cada vez mais aos clientes portfólios para a aposentadoria que podem ser divididos em vários produtos, como se fossem uma carteira própria, com balanceamento de risco e retorno.

Esse cenário também é possível pelo fato de que a previdência será exercida somente após décadas, nos casos de quem começa a poupar cedo, o que permite elevar o nível de risco da aplicação para conseguir um retorno maior.

Portabilidade

Afinal de contas, será que vale a pena trocar o seu fundo? Se você já tem uma aplicação mas está insatisfeito, uma saída é trocar de plano ou instituição, na chamada portabilidade. Isso permite transferir seus recursos sem custos se você encontrar um plano mais vantajoso.

De acordo com a Susep, que regula o setor, o consumidor só não pode fazer a portabilidade de um PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) para um VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre). Se essa regra for respeitada, o beneficiário pode migrar seus recursos para outra instituição financeira ou para um outro fundo do mesmo gestor.

O caminho é fazer uma solicitação à nova instituição financeira (ou na mesma gestora) e apresentar documentos como extrato e características do plano anterior.

Se decidir por migrar para outra instituição, o investidor também deve saber que seu dinheiro ficará no plano antigo por 60 dias mesmo após a contratação da nova aplicação, segundo a Susep.

Independentemente se você vai contratar um novo plano ou migrar, é essencial seguir os seguintes cuidados: entender o seu perfil de investidor (se conservador, moderado ou agressivo) e o seu objetivo, ou seja, em quanto tempo pretende resgatar os recursos. Pesquisar bastante sobre qual é a gestora do fundo e a estratégia do produto também é essencial.

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