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Taxas podem comer mais de um terço do retorno da sua previdência; veja cuidados a tomar

Com queda na Selic, peso do valor cobrado pela gestão de fundos aumentou

Você já deve ter ouvido falar sobre o impacto que taxas de administração elevadas podem ter sobre o retorno de fundos de investimento. Pois saiba que, quando o assunto é previdência, aplicação de longuíssimo prazo e que tem como objetivo garantir nada menos que sua aposentadoria, os cuidados devem ser redobrados.

Isso é válido em especial para os investimentos de renda fixa altamente conservadores, que atualmente abrigam mais de 60% do patrimônio total das aplicações voltadas à previdência, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Sua gestão é simples, já que os recursos são investidos em títulos públicos, e pagar uma taxa alta ao gestor por esse trabalho definitivamente é uma má ideia.

Um simulador construído ao longo de dois anos por uma startup especializada em previdência complementar, a Longevità, fundada pelos economistas Fabio Giambiagi e Arlete Nese, ajuda a explicar a razão.

A calculadora mostra que, para quem começa a acumular recursos aos 30 anos em busca de uma renda mensal de R$ 1.000 a partir de 65 anos, pagar uma remuneração de 2% em vez de 1% em um investimento de previdência de renda fixa significa desembolsar 33,3% a mais todos os meses durante a fase de acumulação de recursos. Esse é um cenário que presume uma inflação anual média de 3% e juros reais (ou seja, descontada a variação de preços do período) de 4% ao ano.

Para explicar em valores: ao contratar um plano VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) nas condições acima, o contratante pagará R$ 248,22 por mês ao longo de 35 anos se escolher um fundo com taxa de 1%; se optar por uma aplicação com taxa de 2%, desembolsará muito mais ao longo de três décadas: R$ 331,02 por mês.

Giambiagi, um dos maiores especialistas em previdência do país, explica que avaliar esse peso se tornou especialmente importante após a queda da taxa básica de juros, a Selic, que era de 14,25% em 2016 e chegou a um piso de 2% em 2020. Atualmente, a taxa está em 9,25% e em trajetória de alta, mas a expectativa é que volte a cair nos próximos anos.

“Quando os juros eram muito altos, quando tínhamos uma Selic de 14%, uma taxa de administração de 1% ficava escondida. Mas se os juros reais ficarem em um patamar baixo, de 5% ao ano, uma taxa de administração de 1% não é factível”, afirma.

O impacto de uma inflação de décadas

O simulador da Longevità, que pode ser conferido aqui, foi construído com o objetivo de facilitar a avaliação de quanto é necessário guardar para a aposentadoria, dependendo da renda pretendida, o capital inicial, a idade em que a pessoa começa a poupar e com quantos anos pretende parar de trabalhar.

A ferramenta permite ainda calcular essa mesma contribuição em diferentes premissas, como taxa de administração, tipo de plano e tempo de usufruto estimado, e quanto seria necessário contribuir para diferentes planos, como PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) ou VGBL (Vira Gerador de Benefício Livre).

“O que queremos mostrar para as pessoas é: se tudo der certo, ela vai ter 70 anos, 75 anos um dia, e se não se preparou vai ficar sem renda ou com uma renda restrita”, aponta Giambiagi. “Criamos um modelo parecido com o de reserva de avião. Quero viajar dessa forma, e aí aparece o resultado. Esse sistema é a anti caixa-preta, que você não sabe como funciona.”

Esse impacto deve ser colocado na ponta do lápis por uma simples razão: ao longo das décadas do período de acumulação de recursos, a variação de preços vai corroer seu retorno. Esse é um dos efeitos que o simulador da Longevità calcula.

“Você receber uma renda de R$ 10 mil daqui a 30 anos não vai querer dizer nada, porque esse valor será corrigido  pela inflação. Se as taxas de juros voltarem a cair, que é o que esperamos, estamos falando de juros reais de 3%, 4% ao ano. Se você paga 1% de taxa de administração, isso quer dizer que um terço da sua rentabilidade será consumida”, explica Carlos Heitor Campani, professor do Copeead-UFRJ (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Seguradoras x bancões

Campani é um dos autores de um estudo de 2020 que concluiu que as seguradoras independentes oferecem, em geral, um retorno melhor em seus fundos de previdência do que os oferecidos pelos grandes bancos. O especialista explica que um dos motivos para isso é exatamente o fato de que, para serem atrativas aos clientes, as instituições precisam oferecer taxas menores em seus produtos.

Outro estímulo é o fato de essas instituições e seus planos serem de menor tamanho. “Imagine que você tem uma lancha e um transatlântico. Quem muda mais rápido em caso de tempestade no mar? A lancha, que é mais ágil. No caso de investimentos, é a mesma coisa. Uma seguradora com bem menos dinheiro para movimentar ganha agilidade.”

Essa competição maior vem levando à redução das taxas administrativas cobradas no mercado, e da incidência cada vez menor de outras taxas, como de carregamento (valor percentual calculado sobre cada nova movimentação financeira realizada no plano de aposentadoria complementar). “Hoje em dia, a taxa de carregamento é praticamente zero”, afirma o professor.

Taxa de administração de 3%?

Essa melhoria nas condições de mercado, entretanto, não impede que fundos de grande porte conservadores ainda pratiquem taxas de administração que vão de 1,5% a 3% ao ano.

A casa de análises Spiti montou um ranking dos fundos de previdência conservadores mais nocivos ao investidor. Encabeça a lista o BrasilPrev RT Fix II FIC Renda Fixa, que possui um patrimônio de R$ 29 bilhões e com taxa de administração de 1,50%.

No acumulado de 12 meses até 30 de setembro do ano passado, o retorno da aplicação foi de 1,16%, enquanto o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, que é o benchmark dos investimentos em renda fixa) rendeu 3,42%.

Mas comparar a rentabilidade não é tudo quando o assunto é fundo de previdência. Campani lembra que existe um ponto bastante importante que é a tábua atuarial, uma tabela que calcula a expectativa de vida de determinado grupo de pessoas (e define a renda vitalícia a ser recebida).

Com base nesses números, as operadoras de planos e seguros calculam os valores dos seus produtos previdenciários e de seguros. “Para simplificar, quando você se aposentar, vão calcular sua renda. E essa conta é baseada na expectativa de vida. Se eu for viver 90 anos, é uma coisa; se for viver 70 anos, é outra. Isso precisa ser definido em contrato.”

Ou seja, quando mais tempo de vida é previsto na tabela atuarial, pior para o contratante, já que a renda vitalícia a ser recebida pelo consumidor será dividida por mais anos e, portanto, menor.

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