As ações da Petz (PETZ3) foram um dos destaques entre os componentes do Ibovespa em janeiro. Enquanto o índice subiu 3% no primeiro mês do ano, o papel teve alta cinco vezes maior, de 15,7%.
O desempenho pode ser considerado uma surpresa, visto que empresas mais sensíveis à economia doméstica – caso do setor de varejo, do qual a Petz faz parte – têm enfrentado desde 2021 um cenário adverso, de juros altos e perspectiva pouco promissora para o consumo.
No caso da dona da rede de pet shops, por exemplo, a ação chegou a acumular queda de 68% entre março de 2021, quando o Banco Central começou a elevar os juros, e o final de 2022, quando a instituição parou de aumentar as taxas.
A recuperação dos preços no início de 2023 pode ter deixado alguns investidores se perguntando se este é o ano da virada para as ações da Petz. Até porque, ao olhar as projeções de parte do mercado, a expectativa é de que ela possa, sim, ter um desempenho positivo em 2023.
Dentre 11 bancos e corretoras consultadas pela Agência TradeMap, todos recomendam a compra do papel, com preços-alvo que variam de R$ 10 a R$ 26 para o final de 2023. Se o cenário mais otimista for alcançado, a significará uma valorização de quase 300% em relação ao preço do fechamento de quarta-feira (15), de 6,51.
Mas a empresa ainda enfrenta desafios que podem limitar o avanço do preço dos papéis.
Para Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável do escritório de agentes autônomos Blackbird Investimentos, a rede brasileira de pet shops será impactada em suas margens pelo cenário de juros altos no Brasil, mesmo entregando resultados “sólidos no crescimento”. “Temos sugerido compra para um horizonte de tempo mais longo”, diz.
No caso de setores mais dependentes do desempenho da economia brasileira, os juros elevados prejudicam a capacidade de realizar investimentos e crescer.
No varejo, porém, há um efeito particularmente nocivo dos juros altos, que é encarecer o financiamento do capital de giro – o dinheiro que a empresa usa para rodar as operações. As empresas do setor precisam de um grande volume de recursos deste tipo para manter as atividades.
Além disso, como os juros maiores encarecem o crédito, o consumidor fica menos inclinado a comprar, principalmente itens de valor mais alto, e acaba gastando menos dinheiro.
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O analista da Skopos João Abdouni relembra que a ação da Petz estreou na Bolsa num momento em que os juros brasileiros estavam baixos e havia expectativa de expansão da companhia. A Petz realizou seu IPO em setembro de 2020, quando a taxa Selic estava em 2% ao ano.
“A empresa tem uma tese de crescimento. Como estamos em um período de juros elevados, esse crescimento fica comprometido. Mesmo que a empresa mostre números positivos nos últimos trimestres, são abaixo do que o mercado projetava no passado”, afirma Abdouni.
No terceiro trimestre de 2022, por exemplo, a companhia registrou lucro líquido de R$ 17,1 milhões, queda de 43% em relação ao terceiro trimestre de 2021. Apesar disso, a receita líquida com a venda de produtos e serviços prestados somou R$ 739,9 milhões, alta de 35,7% na mesma comparação.
O que esperar para a Petz em 2023?
O cenário de juros elevados ainda deve continuar em 2023, o que é ruim para a Petz.
Se antes o mercado projetava que a Selic, a taxa básica de juros, começaria a cair no primeiro semestre, agora as previsões são menos otimistas e já há quem diga que ela ficará no nível atual até o fim do ano.
Na última edição do Boletim Focus, por exemplo, a mediana das projeções dos especialistas do mercado financeiro é de que a Selic encerre 2023 em 12,75% e 2024 em 10% ao ano. A expectativa anterior era de 12,50% e 9,75%, respectivamente.
Ou seja, o mercado passou a acreditar que o Banco Central demorará mais para começar a cortar os juros, atualmente em 13,75% ao ano.
Diante disso, o analista da Terra Investimentos Luis Novaes cita que a Petz deve adotar uma postura de “disciplina com os custos e a estrutura de capital” em 2023. A Terra possui uma recomendação de compra para o papel da empresa, com preço-alvo de R$ 12 ao final deste ano.
“As dificuldades são para todas as empresas do setor [de varejo], e conseguir atravessar esse momento de forma sólida pode trazer grandes benefícios no futuro. Isso deve ser o principal foco até que as condições de mercado fiquem melhores e seu ritmo de expansão possa ser retomado”, afirmou Novaes.
Já Harada, da Blackbird, acredita que, no curto prazo, esse cenário ainda traz desafios à empresa por conta da inflação de alimentos, que impacta as margens da mesma.
Em relatório, a analista Danniela Eiger, da XP, afirmou que a Petz pode ver uma melhora nas margens em 2023 devido à normalização da participação de alimentos nas receitas. Somado a isso, Eiger enxerga o segmento pet como resiliente na economia.
“Há chances de alta nas margens, pois o novo vice-presidente de serviços da empresa está focado em impulsionar sua produtividade. Além disso, devemos começar a ver sinergias de aquisições recentes nos resultados, principalmente Zee.Dog e Petix”, afirmou.
A Petz adquiriu a primeira em agosto de 2021 por R$ 715 milhões e a segunda por R$ 70 milhões em 2022.
A XP possui um preço-alvo de R$ 10 para o papel, além de uma recomendação de compra.