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Petróleo pode fechar 2022 abaixo de US$ 100, mas apenas se medo de recessão falar mais alto

Se alguém dissesse no início de junho que os preços do petróleo terminariam este ano abaixo de US$ 100 o barril, poucos acreditariam. Na época, a cotação da commodity estava em alta, e caminhava para a faixa dos US$ 120. Agora, algumas instituições financeiras já consideram esse cenário mais baixista plausível, mas apontam que as condições do mercado ainda sugerem preços mais elevados que os do mês passado.

“O medo permanente de uma recessão continua pesando sobre o mercado, e a força do dólar e o aumento no número de casos de Covid-19 em partes da China certamente não ajudam”, diz o chefe de estratégia de commodities do banco holandês ING, Warren Patterson.

Segundo especialistas, a expectativa de preços mais baixos para o petróleo está muito mais relacionada a esses fatores do que às condições de oferta e demanda, que em tese ainda justificariam um valor mais elevado para a commodity.

Num relatório recente, a AIE (Agência Internacional de Energia) alertou que os estoques mundiais estavam “criticamente baixos”. Na OCDE – grupo que inclui grandes economias ocidentais, como os Estados Unidos e os países da Europa, que são grandes consumidores de petróleo -, os estoques comerciais estão cerca de 17,5% abaixo da média observada nos últimos cinco anos.

Outros fatores também contribuiriam, em tese, para impedir a queda nos preços do petróleo – desde a dificuldade da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em aumentar a produção até a possibilidade de aumento repentino no consumo chinês -, mas nada disso tem sido visto como um fator primário na definição das cotações.

“O mercado está buscando direção em lugares diferentes de há um mês”, afirmou Harry Altham, analista de energia da consultoria StoneX Group para a Ásia, África, Europa e Oriente Médio. “O que era um mercado conduzido por fundamentos se transformou em outro, dominado por fatores econômicos e aversão ao risco”, acrescentou.

De (quase) zero a US$ 140

O curioso é que foi a rápida valorização do petróleo nos últimos anos que plantou a semente para o cenário traçado agora pelos especialistas. A velocidade com que a commodity ficou mais cara ajudou a diminuir a demanda e empurrou para cima a inflação, que tem sido combatida pelos bancos centrais com altas de juros prejudiciais à atividade econômica.

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Em abril de 2020, quando o mundo estava mergulhado em dúvidas a respeito da Covid-19 e de como a doença afetaria a economia, o barril de petróleo chegou a ser cotado a menos de US$ 10 o barril no mercado internacional, valor 80% menor que o registrado um mês antes.

O raciocínio, à época, era que as medidas adotadas por vários países para evitar a disseminação da Covid travariam o crescimento econômico e, consequentemente, o consumo de petróleo.

O mercado se adaptou ao novo cenário. A Opep e outras nações aliadas, como a Rússia, reduziram a produção em quase 25% para estabilizar os preços. A estratégia funcionou e, conforme a economia começou a se recuperar, o petróleo voltou a se valorizar.

 

A alta nos preços se acelerou no fim do ano passado, quando ficou mais claro que a demanda por petróleo estava crescendo mais rápido que a oferta, e disparou depois de a Rússia, um dos principais exportadores mundiais da commodity, invadir a Ucrânia em fevereiro deste ano.

O evento fez com que o valor do barril chegasse perto de US$ 140 em março, em meio a receios de que a União Europeia e os Estados Unidos deixariam de comprar petróleo russo para punir o país por começar uma guerra.

Sem os suprimentos vindos da Rússia, porém, americanos e europeus teriam que comprar de outros fornecedores, aumentando artificialmente a demanda e inflando os preços da commodity.

De lá para cá, os EUA efetivamente barraram a importação de petróleo russo, enquanto a Europa se comprometeu a fazer isso, mas sob um cronograma que ainda permite as compras. Outros grandes consumidores, como China e Índia, continuaram adquirindo os suprimentos da Rússia a um belo desconto.

Para onde vão os preços?

Ainda que o medo de uma recessão possa ter alterado a percepção dos investidores a respeito dos preços do petróleo e seja capaz de fazer o valor do barril ficar abaixo de US$ 100 no fim do ano, a visão prevalecente é de que os preços continuem acima deste patamar, embora sigam com muita volatilidade.

No primeiro semestre, o preço médio do petróleo Brent – que serve como referência no mercado internacional – foi de US$ 107,20 por barril. Dados da S&P Global, no entanto, mostram que apenas quatro entre dez instituições especializadas acreditam que essa média vai baixar até o fim do ano.

O UBS, por exemplo, avalia que o petróleo terminará 2022 cotado a US$ 125 por barril. “Não achamos que a era dos preços altos de petróleo acabou ainda”, disse o banco, em um relatório.

“Primeiro, do lado da oferta, apontamos que muitos produtores estão tendo dificuldades para atingir metas de produção. Segundo, as autoridades da China estão buscando respostas mais localizadas para controlar a Covid-19. Sabemos que as exportações de petróleo da Rússia continuam instáveis, e ela parece estar disposta a usar interrupções de fornecimento de energia à Europa em retaliação ao apoio à Ucrânia”, acrescentou.

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Na outra ponta, o Citigroup (que não entrou no levantamento feito pela S&P) acha que o valor do barril terminará 2022 em US$ 85 o barril, com possibilidade de recuar para US$ 65 se a economia mundial caminhar para uma recessão no ano que vem.

A agência de classificação de risco Fitch, que espera uma leve queda no preço médio do petróleo neste ano (para US$ 105 o barril), ressalta que a desaceleração no crescimento econômico vai afetar “apenas moderadamente” o consumo de energia, e que a oferta reduzida de petróleo da Rússia deixará o mercado mundial desabastecido apenas temporariamente. “Como resultado, os preços das commodities de energia devem continuar altos, pelo menos no curto prazo”.

O que vai mexer com o mercado?

Altham, da StoneX, ressalta que nas próximas semanas os preços do petróleo ficarão mais sensíveis a indicadores que possam sinalizar diminuição da demanda pela commodity – por exemplo, dados que mostrem manutenção da inflação em níveis elevados ou lentidão no crescimento real dos salários.

As decisões dos bancos centrais para conter a inflação também serão relevantes e “darão a tônica para o final do ano”, afirmou. Quanto mais intensas as altas de juros, maior a chance de queda nos preços.

Decisões que possam afetar o nível de produção de petróleo – como as da Opep sobre a recomposição da oferta ou sanções econômicas à Rússia – também têm potencial para movimentar os preços, mas é preciso analisar caso a caso.

“A variabilidade na produção como resultado de sanções ainda contém risco considerável para os preços”, disse Altham, acrescentando, no entanto, que a política de preço-limite para o petróleo russo defendida pelos EUA dificilmente vai influenciar o valor do barril se for adotada.

“É extremamente improvável que a China e a Índia adotem esta política, ou que a Rússia concorde em vender para o que ela considera ‘países hostis’ em condições desfavoráveis, principalmente se a demanda na China e na Índia continuar robusta.”

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