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Petrobras (PETR4) sofre (nova) intervenção. O que muda para a estatal?

Adriano Pires será o terceiro presidente da Petrobras durante o mandato de Jair Bolsonaro

Foto: Shutterstock

Prestes a completar 69 anos de vida, a Petrobras (PETR4) agora tem seu 40º presidente. A cada 20 meses, a estatal renova seu comando, com uma visão que varia conforme as decisões políticas.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir Joaquim Silva e Luna do cargo. O general permaneceu à frente da Petrobras por cerca de um ano, após Bolsonaro retirar Roberto Castello Branco, presidente anterior da estatal, em crise instaurada no início do ano passado.

Ambos os nomes não tiveram o apreço de Bolsonaro em função de uma conjuntura à parte de seus domínios: o preço dos combustíveis.

O tema, altamente sensível à popularidade do presidente da República, ganhou notoriedade com a disparada dos preços dos combustíveis nos últimos meses. No ano passado, a gasolina subiu 47,49%, e o diesel avançou 36%.

O novo estopim para a decisão de Bolsonaro em relação à estatal foi o recente reajuste de 18% na gasolina, aprovado por Silva e Luna. Hoje, após as recentes baixas do petróleo no mercado internacional, o preço dos combustíveis praticado no Brasil está em linha com o PPI (Preço de Paridade Internacional). 

De acordo com a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), em relatório desta terça-feira (29), a defasagem média está em 3% no diesel e de 0% para a gasolina.

O substituto

O escolhido por Bolsonaro para substituir Joaquim Silva e Luna é Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). 

Graduado em economia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e doutor pela Universidade de Paris XIII, o executivo possui mais de 40 anos de experiência no segmento de energia e deve ser bem visto pelos investidores da estatal. 

Isso porque Pires é contrário à intervenção de preços dos combustíveis, entendendo a dinâmica do mercado internacional e o problema que um desabastecimento causaria na economia brasileira.

Por outro lado, em recentes declarações públicas, o executivo já mencionou de forma positiva a criação de um fundo de estabilização para o preço dos combustíveis. Isso seria possibilitado pelo pagamento de dividendos da Petrobras à União (referente ao exercício de 2021, a empresa terá pago R$ 37,3 bilhões ao governo).

Na visão dele, o fundo não evitará o aumento dos combustíveis em si, mas pode arrefecer a volatilidade dos preços. Isto é, o repasse aos consumidores não seria tão rápido.

Vale ressaltar, contudo, que a criação de um fundo específico como um colchão para o preço dos combustíveis não é uma atribuição do presidente da Petrobras, tampouco é uma ideia nova. A pauta passa pelos corredores de Brasília, mas segue sem definição. 

Pires já havia se encontrado com Bolsonaro no último fim de semana. O profissional da área tem o apreço do mandatário por ser forte crítico da gestão petista, sobretudo no que se refere ao setor. 

Em meados da década passada, a Petrobras passou pela pior crise da sua história, com uma dívida bruta que atingiu US$ 130 bilhões em 2014. Hoje, são menos de US$ 60 bilhões. 

Poucas horas antes da indicação oficial do nome de Pires por Bolsonaro, o executivo publicou em suas redes sociais uma mensagem com sua visão atual acerca dos combustíveis.

“Acho que o risco de intervenção na Petrobras antes das eleições é muito baixo por duas razões”, comenta Pires. “A primeira é que a regulamentação e o compliance da empresa após a Lava-Jato dificultam muito que tanto a diretoria quanto o conselho de administração tomem ações que possam prejudicar os acionistas.”

Ele lembra que o mercado imaginou que Silva e Luna interferiria nos preços dos combustíveis quando assumiu a cadeira no ano passado, o que não aconteceu. 

“Se o presidente Bolsonaro interviesse na empresa, seria acusado de fazer a mesma política que (o ex-presidente) Lula.”

A importância da manutenção do PPI

Em seu cerne, o Preço de Paridade Internacional busca alinhar a rentabilidade das empresas que operam na venda de combustíveis no país. Com isso, permite a manutenção de um mercado competitivo e que atenda a demanda dos consumidores.

A Petrobras tem um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para a manutenção do PPI, com compromisso pela abertura do mercado de refino e descentralização dos negócios, que décadas atrás estavam na mão da estatal. 

Uma ampla defasagem dos preços praticados no Brasil em relação ao exterior pode causar dois problemas graves ao país. 

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De um lado, as refinarias que não podem vender os derivados de petróleo a preços internacionais podem quebrar. Do outro, perde-se o incentivo à importação de combustíveis, já que no exterior se paga mais caro, o que desabastece o país. O Brasil produz o equivalente a 70% de seu consumo total. 

A resposta do mercado ante a indicação de Adriano Pires para o cargo é um sinal de expectativa de que o PPI seja honrado. 

Por volta das 11h50 desta terça, as ações preferenciais da Petrobras subiam 2,66%, para R$ 32,44 na B3. Curiosamente, o movimento é contrário ao barril do petróleo Brent, que recuava 3,02% em Londres, para US$ 106,18, no mesmo horário. Nas últimas três semanas, a matéria-prima caiu 14%. 

Os riscos percebidos pelos investidores, porém, podem ser outros.

O que esperar da Petrobras daqui para frente?

Do ponto de vista operacional, os negócios da Petrobras seguem a todo vapor. A empresa previa um Brent na casa dos US$ 45 no ano passado, e a média ao longo do ano foi de US$ 75.

É de se esperar que a companhia continue gerando muito caixa com o petróleo em qualquer patamar acima dos US$ 45 estimados. 

Notável crescimento do Ebitda, aproximação da geração de caixa, da Petrobras

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Os custos da empresa, claro, também devem subir (como foi o lifting cost no quarto trimestre de 2021), mas com o Brent na casa dos US$ 100 de forma consistente, como preveem especialistas, é um cenário benéfico para a Petrobras.

Isso é possível em razão da alta diligência da companhia e seu foco no core business. Ao longo de 2021, a empresa anotou o recebimento de US$ 5,6 bilhões no caixa com o programa de desinvestimentos (venda de ativos), tendência que deve continuar. 

Mas, como uma tradicional empresa estatal, a incerteza ligada ao controlador sempre será um risco a ser monitorado. O preço dos combustíveis está diretamente ligado à inflação e, por consequência, afeta a popularidade dos governantes.

Em cerca de sete meses, as eleições presidenciais se tornarão realidade. Até lá, é esperada muita volatilidade, conforme levantamento da Agência TradeMap

A depender de quem se sagrar vencedor, as premissas da Petrobras podem mudar. Por ora, a indicação de Adriano Pires para a presidência da empresa parece positiva, mas pode se tornar apenas um tapa buraco. 

Hoje, as ações da empresa já negociam a múltiplos muito menores do que seus pares globais. Na visão de alguns especialistas do mercado, ouvidos pela Refinitiv, as ações da estatal são uma boa pedida, a despeito dos riscos.

Os dados, apresentados na plataforma do TradeMap, mostram que oito das dez casas de análise recomendam compra das ações da Petrobras. O preço-alvo mediano é de R$ 36,20, upside de 11,5%.

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