Petrobras (PETR3/PETR4): desconto compensa riscos e papel pode subir após eleição, dizem gestores

Avaliação é que ação pode até dobrar de preço se o próximo governo adotar uma postura mais pró-mercado

Foto: Shutterstock

A AGO (assembleia geral ordinária) da Petrobras (PETR3/PETR4), realizada em 13 de abril, mostrou na visão de analistas que, apesar de todos os ruídos políticos envolvendo a empresa, a governança da companhia tem se mantido preservada.

Com a estatal sendo negociada com desconto, abaixo de seus pares internacionais, gestoras como SPX, Claritas e Forpus Capital avaliam que o risco de intervenção política já está em boa parte refletido no preço do papel. Essas gestoras veem potencial de alta para a ação após a eleição se o próximo governo adotar uma postura mais de centro, mais pró-mercado e menos intervencionista.

Ontem, os acionistas aprovaram o novo conselho de administração, que contou com um aumento da participação dos acionistas minoritários que passaram a ocupar quatro assentos, de um total de 11.

“Esperamos uma reação positiva dos mercados para esse importante marco, que permitirá à Petrobras retomar o dia a dia das operações após semanas de turbulência, bem como deve trazer mais equilíbrio para a composição do conselho e fortalecer a governança da companhia”, afirmou o Itaú Unibanco em relatório.

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Na assembleia foram eleitos Márcio Weber, que já era membro do conselho, para presidente do conselho de administração da petroleira, e José Mauro Ferreira Coelho como conselheiro da companhia –ele deve ser confirmado como presidente da estatal hoje.

“Acreditamos que as nomeações e o processo destacam a governança e independência da empresa e reiteramos nossa visão positiva sobre a Petrobras, vendo o risco fortemente inclinado para o lado positivo”, apontou o UBS em relatório. O banco está com recomendação de compra no papel e preço-alvo de R$ 44.

Eleições definição preços

Desde o anúncio da demissão do presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna, a ação da Petrobras (PETR4) acumula queda de 2,20%, pressionada pela preocupação dos investidores com a possibilidade de intervenção política na estatal e mudança na política de preços dos combustíveis, que hoje segue a paridade internacional.

O Goldman Sachs aponta que a ação da empresa é negociada hoje a um múltiplo EV/Ebitda (ou seja, o valor econômico da empresa sobre a geração de caixa) de 2,1 vezes para 2023, abaixo da média dos pares globais, de 2,6 vezes. Em outras palavras, hoje a Petrobras é negociada a um valor econômico de pouco mais de duas vezes o seu caixa.

O analista de ações da Forpus Capital, Rafael Cintra, acredita que boa parte do risco político já está precificada no papel, que tem potencial de subir se o próximo governo adotar uma postura mais de centro, menos intervencionista na estatal. A estatal está sendo negociada a um múltiplo de P/L (preço sobre lucro projetado) de cerca de três vezes.

“O espaço para cair com uma eventual vitória de Lula [ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva] é menor e a vitória de um outro candidato de centro traz um upside [potencial de alta] muito maior”, diz Cintra, destacando que o cenário macroeconômico ainda é favorável para o petróleo.

Para Eduardo Morais, gestor de portfólios da Claritas, se o governo Bolsonaro sair ganhador das eleições, as ações da estatal podem até dobrar de preço. “Se o Bolsonaro [presidente Jair Bolsonaro] ganhar o papel pode dobrar de preço, se o Lula ganhar e não for radical a ação pode subir também”, avalia.

Apesar do ministro Paulo Guedes já ter defendido a privatização da Petrobras, Cintra, da Forpus Capital, afirma que esse não é o cenário base da gestora.

Para Morais, a Lei das Estatais [Lei 13.303/2016] ajuda a blindar a governança da empresa. “Para mudar a governança da empresa vão ter que mudar a Lei das Estatais, não é um CEO que consegue destruir isso”, aponta.

Testes de governança

O gestor da Claritas lembra que a Petrobras já enfrentou três grandes testes de governança.

O primeiro com a saída de Pedro Parente, em 2018, em meio à pressão para mudança do preço dos combustíveis diante da greve dos caminhoneiros no governo do ex-presidente Michel Temer. O segundo com a troca de Roberto Castello Branco por Silva e Luna, em fevereiro de 2021, e agora com a demissão do general.

Ele lembra que em 2018 o Tesouro Nacional desembolsou R$ 6,8 bilhões para ressarcir a Petrobras e os demais agentes por vender o diesel R$ 0,30 mais barato em relação ao preço de referência.

“Os nomes indicados para o conselho foram barrados dessa vez [ele se refere ao veto aos nomes de Adriano Pires e Rodolfo Landim] porque não se enquadravam na política de governança da empresa. Isso mostra que, no fim das contas, ela tem sido respeitada. Não estou falando que ela é intransponível, mas para alterá-la, vão ter que mudar a Lei das Estatais”, diz Morais.

A Claritas tem posição comprada em ações na carteira do fundo Claritas Valor Feeder FIC FIA, mas cerca de um terço da posição está protegida com opções de venda do papel (puts) que vencem em outubro, após a eleição, conta o gestor.

“Sobre a política de preços da Petrobras, acreditamos que até a eleição presidencial haverá pouco tempo para implementar qualquer mudança significativa e a abordagem deve ser muito semelhante ao que foi implementado até agora”, diz o Bradesco em relatório divulgado em 13 de abril.

Estatuto e Lei das Estatais

O Estatuto da Petrobras e a Lei das Estatais estabelecem regras para a indicação de nomes para a estatal, que exigem, por exemplo, que os membros da diretoria executiva devem atender ao requisito de dez anos de experiência na área de atuação da estatal.

Coelho, aprovado para a presidência da estatal, tem experiência no setor, tendo ocupado o cargo de diretor de petróleo, gás e biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

O indicado para o cargo de administração também não poderá possuir qualquer forma de conflito de interesse com a companhia.

A Lei das Estatais impede que um executivo da empresa tenha parentes atuando no mercado para empreendimentos que possam ser considerados concorrentes. Isso fez com que Adriano Pires, que chegou a ser indicado para a presidência da estatal, recusasse o cargo devido á sua atuação no CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), comandado por seu filho, que presta serviços de consultoria para concorrentes da Petrobras.

Ontem o governo, por meio de representante da PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional), pediu o adiamento da assembleia geral extraordinária marcada para ontem. A ideia foi evitar a votação de uma proposta feita pela estatal para reforço dos mecanismos de governança, que propunha a necessidade de quórum qualificado para eleição e destituição do diretor de governança e conformidade pelo conselho de administração.

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