Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Os movimentos da China que devem definir o cenário para commodities em 2023

Demanda do gigante asiático é considerado principal fator para determinar a dinâmica de preços

Foto: Shutterstock/Aussie Family Living

Ainda que questões como a economia dos Estados Unidos e sanções à Rússia sejam importantes, os olhos dos investidores de commodities estarão voltados a um outro grande tema em 2023: as dinâmicas econômicas da China.

“Quando se fala da China, tudo é no superlativo. A relevância dela no setor de óleo e gás é muito forte”, declara Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “E, em minério, eles são formadores de preço, e as estratégias dos competidores vão dialogar muito com as expectativas de China”, completa.

E, considerando o peso do gigante asiático na demanda por commodities, o foco do mercado para tentar determinar o cenário para os materiais básicos neste ano estará sobre as dúvidas que cercam a economia do país, principalmente em relação à política de combate à Covid-19 e ao estímulo ao mercado imobiliário.

A China chamou atenção nos últimos anos por sua dura política de combate à Covid-19, que impunha rígidas restrições à mobilidade na tentativa de impedir a disseminação da doença.

Mais recentemente, porém, o país enfrentou uma onda de protestos contra essas medidas, o que levou o governo a adotar certas flexibilizações. “Tudo leva a crer que a China irá caminhar para uma abertura, e isso tem ajudado o sentimento de algumas commodities que são mais ligadas à economia chinesa”, afirma Pedro Acioli, analista de commodities da Mantaro Capital.

Leia mais:
Dá para confiar na reabertura econômica da China? Wells Fargo ainda tem dúvidas

A força da economia chinesa, contudo, não é a única variável em cima da mesa, segundo os analistas ouvidos pela Agência TradeMap. A economia dos Estados Unidos também está em foco, com o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) apertando a política monetária para conter a escalada da inflação.

Rússia e Opep+ se somam às preocupações para o petróleo

“Quando se analisa o petróleo, não focamos apenas na oferta e demanda. Temos que olhar para o cenário econômico como um todo, e não há dúvidas que a forma como a China e os EUA irão reagir às suas atuais questões são pontos chave para vermos como vai se dar a demanda da commodity para frente”, explica Arbetman, da Ativa.

Ao olhar especificamente para o petróleo, Arbetman menciona também as sanções que têm sido impostas à commodity russa por países do Ocidente, em retaliação à invasão na Ucrânia, como ponto de atenção.

Finalmente, o comportamento da Opep+ (Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados) também será determinante para o patamar de preços da commodity, segundo o analista. Isso porque, explica, cada decisão da organização tem potencial de mudar drasticamente o cenário de oferta global, mexendo com os preços.

“De forma bem resumida, o dinamismo econômico de EUA e China e a forma como irão se dar as sanções do Ocidente com a Rússia são pontos chave, ao lado do posicionamento da Opep+, para vermos como irão se dar os preços do petróleo em 2023”, resume Arbetman.

Considerando todas essas variáveis, a percepção de Acioli, da Mantaro Capital, é que o mercado segue bem apertado em termos de oferta e demanda, o que deve sustentar os preços em patamares elevados.

Veja também:
Fitch reduz previsão para preços do gás natural, mas ainda espera petróleo a US$ 85 em 2023

Neste contexto, dadas as incertezas e a complexidade destas questões, Ilan Arbetman aponta a dificuldade em fazer projeções para o preço do petróleo. O analista, porém, acredita que o barril da commodity deva permanecer na faixa entre US$ 90 e US$ 100 em 2023.

Já Vitor Souza, analista do setor de petróleo da Genial Investimentos, acredita que a commodity deva permanecer em patamares historicamente elevados, em torno de US$ 90 por barril, devido principalmente a restrições na oferta global.

Souza acrescenta que a reabertura econômica na China e a recomposição das reservas estratégias de petróleo dos EUA podem ser gatilhos positivos no curto prazo, enquanto um aprofundamento da recessão global pode derrubar a commodity para abaixo de US$ 80 por barril.

O Brent começou 2022 cotado a US$ 73,68 o barril e, em terminou o ano passado perto de US$ 86. Hoje, no entanto, o preço da commodity no mercado futuro da ICE estava em US$ 79,91.

Minério depende de mercado imobiliário chinês

Assim como para o petróleo, o principal fator por trás da performance do minério de ferro em 2023 é a economia chinesa. Usando como exemplo o caso da Vale (VALE3), Ilan Arbetman, da Ativa, menciona que mais de 50% das vendas da companhia vão para a China, e a empresa não tem como substituir esta demanda.

Mais especificamente, os principais fatores por trás da demanda por minério são a produção de aço na China, os níveis de estoque das siderúrgicas, que não dão sinais de diminuir, e a atividade dos setores de construção civil e infraestrutura, que são os principais consumidores da commodity, explica Arbetman.

Neste sentido, os estímulos que o governo chinês vem distribuindo a estes setores criam otimismo para a demanda, ainda que questões como a concessão de crédito para as incorporadoras e as restrições para combater a Covid-19 sigam como pontos de preocupação.

“Seguimos com dificuldade. Esperamos que o governo possa estimular mais estes setores, e isso vai ser chave para vermos como o minério irá chegar ao ano de 2023”, declara o analista da Ativa.

Leia:
Minério de ferro vai ficar mais barato em 2023, assim como outros metais básicos, diz Fitch

No mesmo sentido, Igor Guedes, analista do setor de mineração e siderurgia da Genial Investimentos, afirma: “Vemos esta questão de Covid zero como algo de curto prazo. As nossas preocupações estão mais ligadas à questão imobiliária na China, ao segmento imobiliário, que é um grande consumidor de aço e, por tabela, é um grande consumidor de minério.”

Do lado da oferta, Guedes enxerga dificuldades para aumento de produção pelas mineradoras, envolvendo, por exemplo, dificuldades com relação a licenças ambientais, como no caso da Vale. O analista acredita que o minério deva ficar em torno de US$ 105 a US$ 110 por tonelada neste ano, impulsionado pela reabertura esperada para a economia chinesa.

A inevitável queda da celulose

No caso da celulose, que segue em patamares de preço muito elevados, Acioli, da Mantaro, afirma que há um consenso no mercado de que haverá uma correção.

“Quando olhamos para as expectativas daqui para frente, todo mundo espera um arrefecimento do preço da celulose, porque realmente está muito alto. A questão é quanto, como e para que nível”, afirma Acioli.

Para o analista, o que vem sustentando os preços são questões que prejudicam a oferta, devido principalmente a problemas climáticos em alguns países e interrupção em planos de expansão de produção por uma série de companhias.

Nesse sentido, o analista explica que boa parte do mercado vê este movimento de preço como insustentável, uma vez que ele é puxado por problemas na oferta, e não por um crescimento de demanda.

Veja:
Santander eleva projeção para preço de papel e celulose em 2023, e prefere ação da Suzano (SUZB3)

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.