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Os bancos seguraram a onda no crédito para pessoa física – mas e para as empresas?

Concessão de crédito para as empresas tem crescido mais do que para pessoa física desde dezembro

Foto: Shutterstock

Enquanto os bancos pisam no freio com a concessão de crédito para pessoa física, em uma resposta ao aumento da inadimplência, os empréstimos para empresas, em especial as de menor porte, têm ganhado espaço desde o final do ano passado.

De dezembro para cá, todos os balanços mensais divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que as novas concessões de crédito têm crescido mais para pessoa jurídica do que para pessoa física, invertendo o sinal em relação ao que se viu durante praticamente todo o ano de 2021, quando os empréstimos para pessoa física cresciam em ritmo mais intenso.

É preciso ponderar que o dado mais recente do BC, referente ao mês de fevereiro, está um tanto atrasado, por causa da greve de servidores da instituição, que só foi encerrada na terça-feira (5). Sem a paralisação, já era para o órgão estar divulgando os números de maio.

Até então, os resultados dos primeiros meses de 2022 indicam que, no acumulado do ano, as novas concessões para pessoa jurídica tiveram expansão de 43,4%, o dobro do crescimento visto para o cliente pessoa física, de 22,2%.

De qualquer forma, representantes do setor entrevistados pela Agência TradeMap confirmam que a dinâmica segue mais favorável para as empresas ao longo do ano, principalmente por causa da ampliação do Pronampe, o programa criado pelo governo federal no início da pandemia para estimular o crédito a companhias de menor porte.

No começo, o Pronampe era exclusivo a microempresas e pequenas empresas. A ideia era que o governo subsidiasse empréstimos concedidos pelos bancos às companhias que em tese estariam mais expostas à crise econômica causada pela pandemia.

Em junho do ano passado, o Pronampe se tornou um programa permanente e, há duas semanas, passou a incluir os microempreendedores individuais, os chamados MEIs, e as empresas de médio porte, com faturamento anual de até R$ 300 milhões.

Na avaliação de Stefan Darakdjian, sócio da gestora Meraki Capital e analista especializado no setor financeiro, as empresas de menor porte são as que têm impulsionado o aumento do crédito para pessoa jurídica, não só porque há o incentivo do governo, mas também porque são as que mais precisam de dinheiro novo para tocar o negócio.

“As grandes empresas, em geral, estão bem capitalizadas, enquanto as pequenas e médias estão vendo a inflação apertar e podem estar precisando ir ao mercado para captar recursos”, disse o analista à Agência TradeMap.

O Santander, por exemplo, é um dos bancos que têm liberado mais empréstimos para as PMEs. No primeiro trimestre deste ano, a carteira de crédito para o segmento cresceu 12,2% em relação a igual período do ano passado, enquanto a carteira para grandes empresas caiu 10,8%.

De acordo com o superintendente do banco responsável pela área de empresas, Alexandre Fontenelle, o aumento dos empréstimos também é alimentado por novas regras definidas pelo BC no ano passado para a chamada antecipação de recebíveis, um serviço que permite que lojistas recebam antes o dinheiro de vendas feitas pelo cartão de crédito.

Quando um produto é vendido no cartão de crédito, o dinheiro só fica disponível para o lojista 28 dias depois. Ele pode, porém, pedir ao seu banco a antecipação do recurso, como se fosse um empréstimo, tendo a própria receita futura como garantia.

Com as novas do BC, um sistema foi criado para que os dados de recebíveis do lojista se tornem públicos (caso ele autorize) e assim qualquer instituição financeira possa fazer avaliar a situação do negócio e fazer uma oferta de crédito que seja condizente ao risco. Antes, como as informações eram restritas, o lojista acabava ficando limitado a ofertas feitas pela empresa que lhe fornecia a maquininha e já conhecia o seu histórico.

Com a abertura dos dados do estabelecimento comercial, passa a haver uma competição maior entre as instituições financeiras e o lojista vai buscar aquela que lhe oferece as melhores condições de financiamento.

“No Santander, a antecipação de recebíveis cresce cerca de 30% no acumulado de 2022 e devemos terminar o ano com expansão de cerca de 50%”, afirma o Fontenelle.

Leia mais:
Como o crédito de bancos como Santander (SANB11) e Inter (BIDI11) tem reagido à crise

Menos é mais

Entre os principais bancos privados do país, o Itaú Unibanco e o Bradesco também têm aberto mais a torneira do crédito para as companhias de menor porte.

No Bradesco, a carteira de crédito para micro, pequenas e médias empresas cresceu 18,6% no primeiro trimestre, em comparação a igual período do ano passado, enquanto a das grandes empresas teve expansão menor, de 14,3%. No Itaú, as micro, pequenas e médias tiveram alta de 21,6%, acima do aumento visto para as grandes, de 17,4%.

Em ambos os casos, a carteira para pessoa física ainda cresceu em ritmo mais elevado no primeiro trimestre, mas Darakdjian, da Meraki, acredita que os balanços do segundo trimestre mostrarão uma desaceleração, em razão do aumento da inadimplência. “Vamos ver os dois pisando mais no freio”, disse.

Entre os bancos que têm atuação mais forte no crédito corporativo, como BTG Pactual e ABC Brasil, as empresas de menor porte também têm despertado uma maior atenção.

No BTG, a carteira de crédito para pequenas e médias empresas ainda tem uma participação pequena na carteira total corporativa do banco, de 17%, mas cresceu mais no primeiro trimestre, a um ritmo de 81% em um ano, contra uma expansão de 32% para as grandes.

Já o ABC Brasil, no início da pandemia, anunciou que entraria no mercado de crédito para empresas de médio porte. No primeiro trimestre deste ano, a carteira já representa 12,2% do total, com R$ 2,8 bilhões, avanço de 28% em relação a um ano antes.

A inadimplência também virá?

Um ponto de atenção para o setor é que a maior parte dos empréstimos tomados pelas empresas de menor porte tem sido destinada para tocar o dia a dia dos negócios, e não para investimentos em novos produtos ou ampliação.

Trata-se mais de um esforço para manter o caixa saudável do que para atender uma demanda crescente por parte dos consumidores, que, pelo contrário, têm sofrido com a inflação e os juros em alta.

No entanto, o mercado parece menos preocupado com a possibilidade de as companhias também passarem por um aumento alarmante da inadimplência, como tem ocorrido com as pessoas físicas.

Fontenelle, do Santander, lembra que, por trás de toda pessoa jurídica, sempre há uma pessoa física, e reconhece que é natural que haja algum contágio em termos de inadimplência, em especial para as companhias de menor porte, como as microempresas.

Ainda assim, ele não vê um descontrole. “A inadimplência para pessoa jurídica está mais alta de quando o governo começou com os programas de apoio na pandemia, mas ainda dentro dos patamares que sempre operou no mercado”, compara o executivo. Em fevereiro, no dado mais recente do BC, a inadimplência para pessoa jurídica estava em 1,37%, bem próximo do nível de um ano antes, a 1,36%.

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Além disso, ele ressalta, há sempre a possibilidade de renegociar as dívidas, com a Selic mais alta deixando os bancos mais confortáveis para rever contratos.

“Podemos renegociar um pedaço da nossa carteira com [o juro] em um patamar diferente do que foi na concessão, como em um contrato gerado há dois anos”, ele diz. Em 2020, a Selic chegou a cair para 2% ao ano. Hoje, está em 13,25%.

Na terça-feira, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revisou para cima a estimativa de expansão da carteira de crédito com recursos livros para pessoa jurídica do setor em 2022, de 11,8% para 12,4%. “E eu acredito que esse número será novamente revisto para mais”, disse Fontenelle.

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