Enquanto o mercado aguarda a decisão do Banco Central (BC) sobre a política monetária, que deverá ser divulgada na quarta-feira (2), o Ibovespa deu continuidade à sua trajetória de alta, sustentado pelo forte fluxo de capital estrangeiro e pelas ações de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).
Com isso, o principal índice da Bolsa brasileira fechou o pregão desta terça-feira (1) em alta de 0,97%, aos 113.228 pontos, com R$ 20,78 bilhões em volume negociado. No ano até aqui, o saldo é de valorização de 8,02%.
A Petrobras continuou em alta e fechou com avanço de 2,01%, apesar da desaceleração nas quedas do petróleo. A expectativa do mercado agora é para a decisão da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que se reúne hoje e amanhã para decidir a política de produção dos próximos meses.
A Vale também pareceu ignorar fatores externos, como o feriado na China, que fecha as Bolsas que servem de referência para o preço do minério de ferro, e terminou o dia em alta de 5,49%.
A performance da mineradora também reflete a posição da empresa em diversas carteiras recomendadas para o mês de fevereiro de corretoras e bancos. BTG Pactual, Órama, Ágora, Genial, Guide e Warren foram algumas das instituições que incluíram os papéis da Vale nas recomendações para o mês.
O forte fluxo de capital externo, que vem ajudado a sustentar o Ibovespa desde o início do ano, continuou apoiando o índice no pregão de hoje. Para o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, os investidores de outros países estão em busca de diversificação nas carteiras e preços atrativos de ações, fazendo com que o mercado brasileiro se torne vantajoso. Isso tem ajudado na recuperação do principal índice da bolsa, e ajuda a valorizar o real contra o dólar.
Como consequência, a moeda americana fechou em baixa de 0,62%, a R$ 5,2728. O recuo do dólar traz certo alívio à curva de juros, apesar das expectativas de alta da Selic na quarta-feira.
Expectativa com Copom domina os mercados
O mercado aguarda a divulgação, amanhã, da nova taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). A maior parte dos economistas aposta que a taxa aumentará 1,5 ponto percentual, o que a levaria a 10,75%, maior patamar desde abril de 2017.
A dúvida fica por conta dos próximos passos do colegiado, pressionado pela inflação disseminada deste início de ano e pela iminência de uma alta de juros maior do que a esperada nos Estados Unidos.
“Nada impede o Banco Central de manter uma trajetória bem dura contra a inflação”, aponta o economista Álvaro Frasson, do banco BTG Pactual Digital. “Vemos mais espaço para endurecer do que arrefecer o comunicado. O incentivo para isso é o Fed mais hawkish [mais duro com a inflação] e agora a inflação acelerando no atacado”, disse.
Em outras frente, no âmbito da proposta de emenda à constituição (PEC) dos Combustíveis, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que o governo avalia redução “moderada” de alguns impostos. Em evento realizado pelo banco Credit Suisse, o ministro destacou que o governo estuda reduzir impostos sobre o diesel, mas questionou a adoção de medida similar para a gasolina.
“Estamos estudando isso com muita moderação, olhando exatamente para os impostos que poderiam ser moderadamente reduzidos. Pode ser que um sobre diesel possa avançar um pouco mais. Mas, sobre gasolina, afinal de contas, se estamos em transição para uma economia verde, será que deveríamos subsidiar a gasolina?”, questionou.
Destaques do pregão
No fechamento do Ibovespa, as maiores altas eram de Banco Inter (BIDI11), Vale (VALE3) e CSN (CSNA3). Enquanto o Inter registrou ganhos de 8,08%, a CSN avançou 5,05%. Na direção oposta, a liderança das quedas era de Alpargatas (ALPA4), Banco Pan (BPAN4) e Minerva (BEEF3), com perdas de 6,91%, 5,22% e 5,03%, respectivamente.
O Banco Inter liderou as altas depois de o JP Morgan passar a recomendar a compra das ações do banco. Antes, tinha posição neutra. Além disso, aumentou o preço-alvo de R$ 38,50 para R$ 40. O banco americano acredita que o Inter pode apresentar uma alta de 54% em relação ao último fechamento.
A forte alta da CSN acompanha a tendência positiva para mineradoras e siderúrgicas. No setor, Gerdau (GGBR4) subiu 3,2%. Em comunicado, a empresa informou que pretende reduzir o volume de gases causadores de efeito estufa de sua emissão para menos da metade do nível observado na indústria mundial de aço.
“Com esta redução nos posicionaremos em novo patamar, onde a indústria siderúrgica global precisaria reduzir cerca de 50% de suas emissões anuais para alcançá-los”, disse a empresa em comunicado.
Diante da expectativa com a decisão do Copom, parte das varejistas, como a Alpargatas, perdeu força ou passou a cair, na expectativa de um novo aperto monetário. O mesmo movimento aconteceu com as ações de saúde, com investidores realizando lucros antes da decisão do BC. Nos setores, destaque para Lojas Renner (LREN3) e Fleury (FLRY3), com recuos de 4,05% e 2,82%, respectivamente.
Após figurar entre as maiores altas de segunda, os papéis do Banco Pan despencaram após o Bradesco BBI deixar de recomendar a compra das ações do banco paulista. A instituição agora possui uma posição neutra para o Pan, e abaixou o preço-alvo das ações de R$ 26 para R$ 12. Em relatório, afirma que espera que os resultados do quarto trimestre de 2021 sejam mais fracos.
A Vibra (VBBR3) teve queda significativa de 1,44%, mesmo com o anúncio de parceria com a Americanas (AMER3) para a exploração de lojas dentro e fora de postos de combustível.
Segundo analistas do mercado, a parceria deve gerar valor para os acionistas das duas empresas, pois trata-se de um acordo no qual as empresas se complementam. De um lado, a Americanas tem expertise do varejo. Do outro, a Vibra tem uma rede de postos de combustíveis com capilaridade nacional. A Americanas, por sua vez, teve alta de 0,23%.
No exterior, as Bolsas também avançaram. Em Nova York, O Dow Jones teve alta de 0,77%, o Nasdaq subiu 0,75% e o S&P 500 ganhou 0,68%. O europeu Euro Stoxx 50, por sua vez, teve avanço de 1,19%.