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Copom: mercado aposta em Selic a 10,75%, mas tem dúvidas para próximas reuniões

Inflação disseminada e mais alta de juros nos EUA são desafio para o Banco Central

Quando o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) comunicar a nova taxa básica de juros da economia, a Selic, a partir das 18h30 desta quarta (2), o mercado correrá mais do que nunca para olhar o comunicado que acompanha a decisão.

O motivo é simples: a maior parte dos economistas aposta que a taxa aumentará 1,5 ponto percentual nesta reunião, o que levaria a taxa a 10,75%, maior patamar desde abril de 2017. A dúvida fica por conta dos próximos passos do colegiado, pressionado pela inflação disseminada deste início de ano e pela iminência de uma alta de juros maior do que a esperada nos Estados Unidos.

Analistas ouvidos pelo Boletim Focus esperam que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) alcance 3,5% em 2023, acima do centro da meta para o ano (de 3,25%, com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo). Ou seja, mesmo no longo prazo, o BC já começa a correr certo risco de perder o bonde das expectativas do mercado.

Para este ano, as apostas são de inflação de 5,38%, bem acima da meta de 3,5% estipulada para 2022 e superior inclusive ao limite de 5% estabelecido para este ano.

“Nada impede o Banco Central de manter uma trajetória bem dura contra a inflação”, aponta o economista Álvaro Frasson, do banco BTG Pactual Digital. “Vemos mais espaço para endurecer do que arrefecer o comunicado. O incentivo para isso é o Fed mais hawkish [mais duro com a inflação] e agora a inflação acelerando no atacado”, disse ele, referindo-se ao Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.

Frasson espera que o Copom eleve a Selic em 1,5 ponto percentual amanhã, mais 1 ponto de elevação na reunião de março e, para finalizar o ciclo, outro aumento de 0,5 ponto em maio –isso elevaria a Selic a 12,75%.

A mediana dos economistas ouvidos semanalmente pelo BC na pesquisa Focus espera que a Selic termine 2022 em 11,75% ao ano, e 2023 em 8%. Como consequência desse choque de juros, os analistas projetam o PIB (Produto Interno Bruto) avançando somente 0,30% neste ano e 1,55% no ano que vem.

Inflação espalhada

Analistas começam a ver a inflação se arrastando por mais tempo do que era esperado, apesar de o atual ciclo de elevação dos juros ter começado em março de 2020, quando a Selic estava em um inédito patamar de 2% ao ano.

Pressionado pelo minério de ferro, o IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado), da FGV (Fundação Getulio Vargas), mostrou alta de 1,82% em janeiro. Além disso, o IPCA-15 do mês passado veio acima do esperado e revelou um forte espalhamento do aumento do custo de vida por diversos bens e serviços – 74,4% dos produtos pesquisados tiveram alta de preço, ante 68,9% em dezembro.

“Esperamos uma alta de 150 pontos-base [na próxima reunião] e mais 100 em março, mas com um risco crescente de ser 125 a 150 pontos-base”, aponta Ivo Chermont, economista e sócio da gestora de recursos Quantitas. “O Focus voltou a piorar, e a inflação corrente também, além de o Fed estar aumentando o risco do cenário externo”.

Na semana passada, após o anúncio da decisão de manter os juros próximos de zero, o presidente da instituição, Jerome Powell, azedou o humor do mercado ao dar sinais de que o ciclo de aperto na taxa básica dos EUA começa em março.

Ele não descartou a possibilidade de elevações em todas as reuniões do ano, e disse ainda que há espaço para subir os juros sem prejudicar o mercado de trabalho.

O economista Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, aponta que, além dessa mudança de sentimento na política monetária internacional, houve alterações importantes no panorama a ser avaliado pelo colegiado: o pano de fundo da Covid-19 se deteriorou de forma significativa, por causa do avanço da variante Ômicron, e a inflação de serviços acelerou.

Ele avalia que é pouco provável o Copom indicar a magnitude das altas nas reuniões de março e maio. “Dado o cenário ainda muito desafiador da inflação presente e futura, alta dos preços do petróleo e mudança no pano de fundo da política monetária global, nós esperamos que a orientação do comunicado provavelmente indique que um aperto adicional está a caminho, mas deixando as opções em aberto”, afirmou em relatório.

 

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