O novo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ser mais parecido com o visto no período de 2011 a 2015, no governo de Dilma Rousseff, em que o governo acelerou os gastos fiscais e o Banco Central teve que subir a taxa básica de juros. Ao menos é o que esperam os gestores Luis Stuhlberger, da Verde Asset, e Rodrigo Azevedo, ex-BC e sócio da Ibiuna Investimentos, conforme afirmaram durante evento do Itaú BBA.
“O modelo econômico está nascendo com a matriz econômica da Dilma”, disse Stuhlberger.
Segundo o gestor, com o aumento de gastos pelo governo, a taxa de juros de equilíbrio, que não estimula nem esfria a economia, deve ser mais alta no Brasil, assim como a taxa de inflação.
Em carta do fundo multimercado Verde de novembro, o gestor apontou que a PEC da Transição, aprovada ontem pelo Senado e que deve ter um impacto fiscal de R$ 200 bilhões, mostra que não “há absolutamente nenhum compromisso com qualquer responsabilidade fiscal no governo”.
A Proposta de Emenda à Constituição prevê aumento de R$ 145 milhões no limite do teto de gastos por dois anos para financiar o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 mensais em 2023 e 2024. A proposta segue agora para votação na Câmara.
O impacto fiscal da PEC, porém, vai além disso, visto que ela também remove cerca de R$ 25 bilhões em despesas do teto de gastos vindo de contas inativas de PIS/Pasep.
Nesse cenário, o gestor da Verde vê o risco de o Brasil ter a nota de crédito rebaixada por alguma agência de classificação de risco, dependendo do texto da PEC que for aprovado.
Segundo Stuhlberger, somados, os gastos do governo de Jair Bolsonaro e a aprovação na PEC da Transição totalizam mais de R$ 350 bilhões, o que deve levar o Brasil a entrar em 2023 com um déficit primário de 2% do PIB.
“Novo” BNDES preocupa
Outro fator citado pelos gestores que preocupa é a volta do crédito subsidiado pelo BNDES. “Se o BNDES voltar com os empréstimos subsidiados, teremos um aumento da taxa de juros de equilíbrio”, diz Stuhlberger.
Isso porque mais estímulos significam mais pressão inflacionária, o que limita o espaço para o BC cortar a taxa básica de juros.
“Estou menos preocupado com o impulso fiscal aprovado neste ano e olhando mais o formato do crédito subsidiado. Se ele não vier, o BC não deve subir os juros”, disse Azevedo.
O gestor da Ibiuna vê um contexto externo mais favorável ano que vem, com o ciclo de alta de juros global se aproximando do fim. De toda forma, afirma que, se o Brasil não endereçar a parte fiscal, poderá perder essa oportunidade.
“O mercado achava que seria um governo Lula como do período de 2003 a 2010, mas vamos estar no regime do PT de 2011 a 2015, com juro real mais alto, o que não é bom para Bolsa”, disse Azevedo no evento do Itaú, vendo mais oportunidades no mercado de câmbio e juros em 2023.
Segundo a Verde, a taxa de câmbio no Brasil poderia estar na casa de R$ 4,90 e as taxas de juros com vencimentos mais longos poderiam estar torno de 10% se o governo eleito exibisse um “mínimo de disciplina fiscal”, conforme apontou na carta aos cotistas de dezembro.
Verde reduz posição em Bolsa brasileira
Diante desse cenário, o fundo Verde reduziu a exposição na Bolsa brasileira, e manteve a posição vendida (apostando na queda) no mercado de ações americano, conforme afirmou na carta de dezembro.
O fundo ainda manteve a posição em inflação implícita, dada pela diferença entre as taxas dos títulos públicos atrelados à inflação (NTN-B) e as de juros prefixadas, que beneficiou a carteira no mês passado.
Em novembro, o fundo Verde perdeu 0,30%, principalmente diante das posições em Bolsa, tanto no mercado local quanto americano, e da aposta contra o euro. No ano, o fundo rende 14,86%.
Stuhlberger disse no evento do Itaú que mantém a posição em ações de empresas que não dependem tanto do crescimento do PIB, como Equatorial (EQTL3) e Energisa (ENGI11), mas ressaltou que “nenhum portfólio funciona com um governo populista”.
Lá fora, a Verde continua apostando na alta de juros na Europa e dos preços de commodities como ouro e petróleo.
A gestora ainda tem uma posição comprada em real e vendida em euro.