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Magalu e Mercado Livre são as empresas que mais devem se beneficiar de rombo da Americanas, dizem gestores

Operação de "risco sacado" é comum entre varejistas, mas mercado não vê o mesmo problema da Americanas em outras companhias

Foto: Shutterstock/rafastockbr

Passado o susto inicial de investidores com o rombo de R$ 20 bilhões da Americanas (AMER3), revelado na noite de quarta-feira (11), os papéis do Magazine Luiza (MGLU3) e do Mercado Livre (MELI34) são vistos como os que mais podem se beneficiar no médio prazo da eventual perda de participação de mercado da Americanas no setor de varejo. Pelo menos é o que dizem dois gestores de ações ouvidos pela Agência TradeMap.

Depois de negociar a R$ 2,70 na mínima do dia, a ação da Magalu (MGLU) se recuperou e subiu 5,61% na quinta-feira (12), fechando a R$ 3,20. Já o BDR (recibo de ações) do Mercado Livre (MELI34) subiu 9,45%, encerrando a R$ 43,79 depois de bater R$ 40,22 na mínima do dia.

Para um gestor de fundos de ações, em um primeiro momento, investidores devem ter maior cautela em aumentar a posição em papéis de empresas de varejo com operações em e-commerce, até ficar claro que os bancos não vão restringir as linhas de crédito para essas companhias, como por meio de operações de desconto de recebíveis e de capital de giro.

A Americanas informou que foi detectada uma inconsistência contábil da ordem de R$ 20 bilhões no balanço da companhia. Isso porque parte das chamadas operações de “risco sacado”, em que os fornecedores descontavam os pagamentos que tinham a receber da Americanas com os bancos, não foram registradas como tal, segundo informou Sergio Rial, que assumiu na companhia em janeiro e pediu demissão nesta quinta.

Esses lançamentos vão ter que ser reclassificados e novos balanços serão publicados, o que deve aumentar a dívida bruta da empresa. Em setembro, a dívida bruta estava em R$ 19,3 bilhões e, segundo Rial, está hoje entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões.

“Com essas inconsistências, a dívida bruta da empresa deve dobrar de tamanho. Tendo em vista que a Americanas tem hoje de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões em caixa, ela precisará de uma capitalização para equacionar essa alavancagem financeira para poder renegociar as dívidas com os bancos. Qual o tamanho da capitalização necessária, não sabemos”, disse um gestor de ações.

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Um ponto importante, segundo esse gestor, é que a Americanas aparentemente vinha pagando essas dívidas com os bancos relacionadas a adiantamento dos recebíveis aos fornecedores. “Por isso, é importante que os bancos mantenham essas operações de risco sacado para a Americanas, se não ela quebra”, disse o gestor.

Mais transparência do Magalu e da Via

Essa é uma operação comum entre as varejistas. O Magazine Luiza informou que tinha, em setembro, R$ 7,6 bilhões na conta fornecedores, sendo R$ 4 bilhões em linhas de risco sacado, ou seja, de saldo a pagar negociado pelos fornecedores com os bancos com aceite da companhia, conforme balanço do terceiro trimestre.

Já a Via informou que tinha R$ 7 bilhões na conta fornecedores ao fim de setemro e mais R$ 2,5 bilhões do que ela chama de “fornecedores convênio”, que são formas de captação de recursos via linhas de crédito junto a instituições financeiras, de operações entre a empresa e seus fornecedores.

“Todas as empresas de varejo fazem essas operações. A diferença é que Magazine Luiza e Via dão maior transparência do que está em linhas bancárias, ou seja, de risco sacado quando mencionam a dívida com fornecedores”, disse o gestor.

Entre as duas empresas de varejo com operações no e-commerce, o gestor acredita que Magazine Luiza tem melhores condições para aproveitar eventual perda de participação de mercado da Americanas, por estar mais capitalizada.

“Quando o grupo Ricardo Eletro pediu recuperação judicial em 2020, a Magalu foi que a mais se beneficiou”, disse o gestor.

Mercado Livre também está no foco

Outro gestor de ações tem preferido os papéis do Mercado Livre (MELI3) para se posicionar no setor de varejo. “A empresa está melhor posicionada para ganhar participação de mercado no e-commerce, já que trabalha com um modelo de marketplace em que não é a responsável pela gestão do pagamento da venda do produto, que é feita pelo comerciante na plataforma”, disse o segundo gestor.

O Mercado Livre é a ação “top pick” do e-commerce, segundo o Itaú BBA. A recomendação de “outperform” (compra) do banco reflete o forte desempenho da empresa no terceiro trimestre do ano, superando suas principais concorrentes.

O cenário-base dos gestores para a Americanas, contudo, não é de falência da empresa. “Os acionistas majoritáiros da companhia [sócios dos 3G dona da AB-Inbev, Burger King e Kraft-Heinz] devem conseguir um acordo com os bancos em que vão se comprometer a capitalizar a empresa para ela continuar tendo acesso a linhas de financiamento, mas isso não deve se dar no curto prazo, nos próximos dois meses, porque ainda será preciso saber qual o tamanho do rombo”, disse o primeiro gestor.

Outro ponto importante será a renegociação com os debênturistas. A Americanas tinha, em setembro, R$ 4,3 bilhões em debêntures. Alguns desses papéis possuem covenants, ou seja, obrigações de limite de alavancagem que, uma vez descumpridos, podem disparar uma antecipação da dívida.

Segundo Rial, a maior parte da dívida da empresa vence a partir de 2025 e 92% dos compromissos estão livres de covenants, o que pode impedir a execução da dívida se os índices de cobertura forem desrespeitados.

Em julho de 2022, a Americanas realizou uma emissão de debêntures no valor total de R$ 2 bilhões, com prazo de vencimento de 11 anos e taxa de 100% do CDI + 2,75% ao ano, com o objetivo de reforçar o caixa e alongar o prazo da dívida.

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