O Ibovespa inverteu o sinal nas últimas horas do pregão e fechou em alta de 0,31%, aos 109.941 pontos, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmar que não quer conflito com o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campo Neto. O volume negociado foi de R$ 19,58 bilhões.
Antes, o mercado caia pressionado pelo recuo generalizado das Bolsas americanas, após os dados divulgados mais cedo mostrarem que a inflação nos Estados Unidos permanece forte.
Internamente, além da cena política, o mercado também digeriu os números corporativos do quarto trimestre de 2022.
Com este resultado, o Ibovespa acumula alta de 1,72% na semana, enquanto na parcial de fevereiro a desvalorização é de 3,07% e, no ano, avanço de 0,18%.
Lula sinaliza trégua
Após semanas de ataques à política monetária do BC, o presidente Lula recuou hoje e afirmou que não é o seu papel enfrentar a instituição.
Em entrevista à CNN Brasil, o petista disse que Campos Neto possui posições políticas diferentes das suas, mas ponderou que o presidente do BC tem o mandato para seguir no comando da instituição.
“Não cabe ao presidente da República ficar brigando com o presidente do Banco Central”, afirmou.
Mais cedo, o mercado reagiu negativamente a outro trecho da entrevista em que Lula confirmou que o salário mínimo será de R$ 1,3 mil a partir de maio e que será retomada a política do piso de reajuste, usada em governos petistas, que leva em conta o reajuste da inflação, mais o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).
O presidente ainda afirmou que vai manter isento o imposto de renda para aqueles que ganham até R$ 2,6 mil e que buscará ampliar o benefício para salários de até R$ 5 mil.
Expectativa por meta de inflação
A volatilidade do dia também é explicada pela expectativa dos resultados da reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional), formado por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do Banco Central
Como o conselho define as metas de inflação e tem o poder de revisá-las quando achar pertinente, havia a expectativa de que o encontro pudesse já trazer um objetivo revisado, como defende o governo. Na última segunda-feira (13), porém, o ministro da Fazenda declarou que a discussão não está na pauta.
Bernard Faust, operador de renda variável da One Investimentos, pontuou que mesmo que não esteja na pauta o aumento da meta de inflação, é possível que tenhamos alguma pista ou alguma discussão acerca do tema.
Altas do dia
Os papéis da CVC (CVCB3) lideraram as altas do dia, com valorização de 7,23%, em um movimento de correção após a queda na véspera. Na sequência, Hapvida (HAPV3) ganhou 4,06%, enquanto Petz (PETZ3) subiu 3,69%.
Destaque também para os papéis da Rumo (RAIL3), que subiram 2,98% e chegaram a liderar as altas do pregão durante parte do pregão.
O impulso reflete a divulgação do balanço divulgado na noite desta quarta-feira (15), com um lucro líquido de R$ 243 milhões no quarto trimestre de 2022, revertendo o prejuízo de R$ 384 milhões apresentado no mesmo trimestre em 2021.
De acordo com a empresa, a conclusão da venda da EPSA (Elevações Portuárias), que opera e controla alguns terminais no porto de Santos, em São Paulo, e uma melhora operacional impulsionaram o resultado.
Na opinião da XP, em relatório publicado nesta manhã, a Rumo apresentou resultados em linha com o esperado, e destacou que conseguiu entregar o guidance de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) prometido no ano anterior, mesmo com as fortes chuvas, que causaram atrasos operacionais e um acidente ferroviário na Malha Paulista.
Além do balanço, a companhia divulgou projeções para 2023, que também agradaram o mercado. O Santander pontuou que o guidance de Ebitda para 2023, de até R$ 5,8 bilhões, está acima das expectativas recentes do mercado, com base em conversas recentes que o banco teve com investidores.
Baixas do pregão
A ponta de baixo do Ibovespa foi puxada pelas ações da Minerva (BEEF3), com perda de 5,72%. Atrás, Azul (AZUL4) caiu 4,52%, enquanto Cyrela (CYRE3) fechou com retração de 4,33%.
As ações da B3 (B3SA3) também figuraram entre as principais quedas do dia, com perda de 1,90%, também refletindo os dados do balanço publicado na véspera. Mas, neste caso, a surpresa foi negativa.
O resultado do balanço que mais incomodou os acionistas foi a queda da margem de ganhos como proporção do Ebitda, o indicador de lucratividade que desconsidera perdas com juros, impostos, depreciações e amortizações.
No quarto trimestre, a margem Ebitda da dona da Bolsa recuou para 70,5%, de 75,9% em igual período de 2021. Segundo analistas do Itaú BBA e do UBS BB, o que mais afetou negativamente a margem Ebitda da B3 foi o aumento das despesas, que subiram mais do que o esperado pelo mercado.
As despesas ajustadas da empresa no período tiveram expansão de 45,2% em relação a igual período do ano anterior, para R$ 561,1 milhões, número 6% acima da projeção do UBS BB e 4% superior à do Itaú BBA. Diante disso, o lucro líquido da B3 caiu 6,3% no quarto trimestre, para R$ 1,15 bilhão.
Bolsas globais e criptos
Lá fora, as Bolsas americanas fecharam no vermelho depois dos dados de inflação vierem piores do que o esperado, reacendendo o temor de aceleração dos juros nos próximos meses.
O PPI (índice de preços ao produtor) avançou 0,7% em janeiro, bem acima dos 0,4% esperados pelo mercado. O PPI foi publicado pelo escritório de estatísticas trabalhistas do país (BLS), que já havia divulgado nesta semana o CPI (índice de preços ao consumidor), que subiu 0,5%, em linha com o esperado.
“Se a inflação do produtor está elevada, isso vai acabar sendo repassado para o consumidor em algum momento. O mercado não reagiu bem, pois o banco central americano (Fed) está de olho nesses indicadores para decidir os próximos passos da política monetária”, diz o operador de renda variável da One Investimentos.
Em Wall Street, o Dow Jones caiu 1,26%, o S&P 500 perdeu 1,38% e a Nasdaq cedeu 1,78%. Mais cedo, o Euro Stoxx encerrou a sessão em alta de 0,47%.
O aposto aos mercados americanos, a cripto expandiu os ganhos da véspera com a expectativa dos investidores de que os piores dias para o segmento tenham ficado para trás.
Saiba mais:
Por volta de 17h20, o Bitcoin (BTC) subia 4,24% em comparação as últimas 24 horas, negociado a US$ 24.638, o maior patamar em quase seis meses. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) ganhava 3,82%, a US$ 1.715.