O mês de julho chegou ao fim com os mercados mergulhados em um ambiente de alta volatilidade e incerteza. Pressões externas, decisões relevantes de política monetária e riscos comerciais mantiveram o sentimento de cautela elevado entre os investidores, tanto no Brasil quanto no exterior.
No cenário doméstico, o Banco Central decidiu encerrar o ciclo de alta da Selic, mantendo a taxa em 15% ao ano, decisão que surpreendeu parte do mercado e encerrou uma sequência de sete elevações consecutivas. A manutenção sinalizou uma pausa estratégica diante de indicadores econômicos mais favoráveis, como a queda na inflação medida pelo IPCA e dados positivos do mercado de trabalho, com o desemprego recuando além do esperado.
Porém, a notícia mais disruptiva do mês veio de fora. A imposição de tarifas de até 50% por parte do governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros, batizada no mercado de “tarifaço de Trump”, gerou forte apreensão. O agronegócio e o setor aeronáutico foram os mais afetados, embora a Embraer tenha ficado de fora da lista final de retaliação, para alívio dos investidores.
Internacionalmente, os mercados seguiram atentos às movimentações tarifárias dos EUA com outros países. Um novo adiamento no início da cobrança foi anunciado por Donald Trump, com vigência prevista para 6 de agosto. Enquanto isso, a perspectiva de retaliação do Brasil preocupa, principalmente por conta do risco de um efeito cascata na indústria nacional. Soma-se a isso o impacto da gripe aviária, que afetou diretamente o setor de proteínas e derivados.
Com esse pano de fundo, o Ibovespa encerrou o mês em queda de -4,17%, aos 133.071 pontos, pressionado pela aversão ao risco global e desempenho negativo de empresas do varejo e consumo. Ainda assim, alguns setores como commodities e saúde ofereceram sustentação, impulsionando papéis específicos.
Entre as principais altas do mês, se destacaram:
Pão de açúcar (PCAR3) – (14,29%)
As ações do GPA tiveram forte valorização em julho após a família Coelho Diniz anunciar o aumento relevante de sua participação na companhia. O grupo passou a deter 17,7% das ações ordinárias, ante os 10% anteriores. O mercado interpretou o movimento como um voto de confiança na empresa. A família Diniz é tradicional no varejo brasileiro, o que reforçou a leitura positiva. O papel foi um dos destaques de alta do Ibovespa no mês.
Brava energia (BRAV3) – (13,45%)
A Brava se destacou com projeções otimistas da Fitch, que preveem redução da alavancagem ainda em 2025. O aumento da produção nos campos de Atlanta e Papa-Terra contribui para a expectativa positiva. A empresa também se beneficia da alta global do petróleo. A agência projeta produção de até 120 mil barris por dia até 2029. A estrutura de custos e disciplina nos investimentos agradaram o mercado.
Fleury (FLRY3) – (10,22%)
O Fleury figurou entre as maiores altas do mês após rumores de uma possível fusão com a Rede D’Or. As conversas teriam envolvido o Bradesco, maior acionista da rede de laboratórios. Apesar de negar qualquer compromisso firmado, o Fleury não descartou o interesse. O mercado reagiu positivamente à possibilidade de consolidação no setor. A incerteza manteve o papel com forte oscilação e liquidez elevada.
Na outra ponta, o mês foi de perdas para companhias, de grande maioria, varejistas, que sofrem com a volatilidade do mercado.
Entre os destaques negativos ficaram:
Magazine Luiza (MGLU3) – (-28,32%)
As ações do Magazine Luiza seguiram em queda, pressionadas por concorrência crescente e margens apertadas. O papel perdeu força após atingir a máxima do ano, voltando a renovar mínimas. O aumento das promoções não tem garantido ganho relevante de mercado. O cenário técnico inspira cautela no curto prazo. A empresa luta para manter competitividade no setor de e-commerce.
Yduqs (YDUQ3) – (-21,53%)
A Yduqs recuou após anunciar mudanças em sua alta administração. O CFO Rossano Marques será o novo CEO a partir de 15 de agosto, substituindo Eduardo Parente, que vai para o conselho. A transição não foi bem digerida pelo mercado, que teme instabilidade estratégica. O papel reagiu com queda acentuada após o comunicado. O setor de educação continua enfrentando desafios regulatórios e operacionais.
Natura (NATU3) – (-18,28%)
A Natura estreou seu novo ticker NATU3 com forte queda e baixa liquidez. A mudança ocorre em meio a um reposicionamento estratégico da companhia. O mercado ainda demonstra ceticismo quanto à recuperação de margem e crescimento. A baixa adesão nas negociações acendeu sinal de alerta para os investidores. A empresa enfrenta desafios para reconquistar a confiança do mercado.
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