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Discurso de Lula e IPCA ruim estressam mercados; dólar e juros futuros disparam

Presidente eleito sinalizou que sua prioridade nos próximos anos será com gastos sociais

Foto: Shutterstock/Golden Dayz

A inflação de serviços mostrou uma alta menor do que a esperada pelo mercado em outubro, mas o aumento do espalhamento de preços pelos diferentes itens do IPCA, somado a um discurso duro com o cenário fiscal do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, fizeram o dólar e os juros futuros dispararem nesta quinta-feira (10), ao mesmo tempo em que a Bolsa abriu em queda.

O estrago foi amenizado, em parte, pela divulgação de dados da inflação dos Estados Unidos em outubro, que também foi publicada hoje e mostrou alta de 0,4%, abaixo da projetada por investidores. O número fez os índices futuros americanos dispararem, com o Dow Jones subindo 2,35%, o S&P 500 em alta de 3,18% e o Nasdaq ganhando 4,31% por volta das 11h10.

Mesmo assim, no mesmo horário, o dólar subia 2,48%, a R$ 5,31, e os juros futuros operavam em forte alta. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 eram negociados em alta de 45 pontos-base, a 13,50%. O Ibovespa, principal índice brasileiro, caía 1,26%, aos 112.149 pontos.

“O IPCA estressou o mercado, veio bem acima do que era esperado. A deflação passou”, apontou o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. “Somando com a questão fiscal do novo governo, com a possibilidade do Bolsa Família fora do teto de forma permanente, trouxe preocupação fiscal e estressou os juros.”

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negocia com o Congresso a abertura de espaço de R$ 175 bilhões no Orçamento de 2023 por meio de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que terá que ser aprovada ainda neste ano.

Além do valor elevado de despesas de fora do teto de gastos, o receio é que a proposta exclua benefícios sociais como o Auxílio Brasil de forma permanente da âncora fiscal, o que poderia configurar um cenário de descontrole fiscal.

Há pouco, Lula sinalizou um cenário de aumento de gastos em seu governo.

“A gente não pensa na economia quando faz cisterna, a gente pensa na sobrevivência humana”, declarou. O presidente eleito disse ainda que regra de ouro é “não ter criança passando fome”, em referência à norma fiscal que proíbe que o Estado se endivide para pagar despesas correntes, como pessoal e manutenção, empurrando a conta para futuros governos.

Alimentos puxam alta do IPCA; serviços tem aumento menor

O IPCA foi divulgado nesta manhã pelo IBGE, e mostrou um avanço de 0,59% sobre setembro, acima do esperado por analistas, diante da pressão de alimentos e bebidas. Além disso, o índice de difusão, que mede o percentual de todos os produtos e serviços que subiram, cresceu de 61,54% para 67,90% no mês passado.

Outra má notícia é que a média dos núcleos de inflação (medida que exclui os itens mais voláteis) subiu, fechando o período em alta de 0,46%. Esse cenário, que se soma às incertezas do mercado com a PEC da Transição, fez os mercados piorarem bastante nesta manhã.

Entre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA, oito tiveram alta no mês. Somente comunicação registrou deflação, de 0,48% no período.

Quando se olha os dados mais detalhados, os maiores impactos individuais no IPCA partiram de passagens aéreas, higiene pessoal e planos de saúde.

“Alimentos tiveram alta no mês, como o esperado, mas passagem aérea disparou 27% e foi a maior contribuição no índice, com alta de 0,16 ponto percentual”, apontou a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória. “Mesmo excluindo os itens voláteis, voltamos a ver uma inflação no mês mais generalizada, com difusão em alta e média dos núcleos subindo”, completou.

Por outro lado, a desaceleração na alta de preços de serviços, na leitura que exclui os preços de passagens aéreas, diminuiu, avançando 0,2% em outubro.

“A aceleração da inflação no mês, ainda que pontual, serve de alerta nesse momento em que se discute proposta de aumento de gastos para 2023”, disse Vitória. “Uma expansão fiscal muito significativa pode ter impacto direto na demanda e resultar em novo aumento da inflação, tirando potência da política monetária e aumentando o custo da dívida e prolongando o tempo para o ajuste.”

Na avaliação da economista Claudia Moreno, do C6 Bank, o fato de o IPCA ter voltado a subir após três meses de deflação mostra que os efeitos da redução do ICMS sobre combustíveis, energia e telecomunicações começaram a desaparecer.

“Quando a gente olha para a composição, a inflação não veio de todo ruim. A inflação de serviços subiu 0,67% em outubro, menos que o esperado”, apontou. “Mas em 12 meses acumula uma alta de 8,1%. Lembrando que o Banco Central vem dando ênfase a inflação de serviços nas suas comunicações.”

A alta de preços de bens industriais foi de 0,75%, acumulando alta de 10,8% em 12 meses. “Daqui para a frente, devemos ver uma inflação voltando a rodar no campo positivo, ainda em ritmo pressionado.”

Para a consultoria britânica Pantheon Macro, o processo de desinflação (ou seja, de desaceleração do crescimento dos preços) continua a acontecer, o que é uma boa notícia.

“Esperamos que a demanda doméstica se suavize ao longo dos próximos meses, mantendo o núcleo de inflação em trajetória de queda”, afirmou a equipe de macroeconomia da Pantheon, em relatório.

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