Impulso de commodities e alta do setor aéreo não são suficientes e Ibovespa recua

Após iniciar a sessão com volatilidade, o Ibovespa acentuou as perdas perto das 11h e voltou a cair após sessão positiva na quarta

Foto: Shutterstock

Nem a alta de ações ligadas à commodities e o impulso do setor aéreo após os balanços de Gol (GOLL4) e Embraer (EMBR3) são suficientes para ajudar o principal índice da Bolsa a performar no positivo nesta quinta-feira (28).

Após iniciar a sessão com volatilidade, o Ibovespa acentuou as perdas perto das 11h, e às 13h05 tinha uma queda de 0,19%, operando aos 109.136 pontos. Na ponta negativa, a maior perda ficava com a Marfrig (MRFG3), que recuava 4,38% no mesmo horário, sendo seguida por Grupo Soma (SOMA3) caindo 4,17% e Qualicorp (QUAL3), perdendo 3,14%.

O setor de bancos novamente caía em bloco, amargando o terceiro dia de movimento de desvalorização. Na avaliação de Eliz Sapucaia e Régis Chinchila, analistas da Terra Investimentos, os bancos estão “se ajustando as expectativas de maiores provisões de endividamento após balanço do Santander (SANB11) apontar para este caminho”.  

O Santander divulgou seus números do primeiro trimestre deste ano na terça (26), e apresentou um aumento de 0,92 ponto percentual (p.p.) no índice de inadimplência para períodos de mais de 60 dias na comparação entre o primeiro trimestre do ano passado e o deste ano, passando de 2,8% para 3,7%. Já a inadimplência superior a 90 dias aumentou 0,77 p.p. no mesmo comparativo, chegando a 2,9% no final de março.

Esse é um assunto temerário para os analistas, já que, em um ambiente de juros altos e inflação, os pagamentos das pessoas podem ser afetados, impactando os volumes de créditos dos bancos.

Dentre as ações que mais perdiam no segmento durante o pregão, Santander (SANB11) caía 2,69%, Banco do Brasil (BBAS3) recuava 1,29% e o Itaú (ITUB4) desvalorizava 1,51%.

Para além das empresas, Antônio Sanches, analista de investimentos da Rico, atribui a queda da Bolsa desta quinta e as baixas do mês de abril para a Bolsa brasileira à perspectiva global de aumento de juros, com preocupações com os lockdowns na China, grande parceiro comercial do Brasil.

“As medidas de restrição de mobilidade aumentam o risco de piora substancial nas já conturbadas cadeias de produção globais, com o número de navios atracados nos portos chineses subindo exponencialmente a cada dia”, comentou o analista.

Para Sanches, essa combinação de fatores tem contribuído para a alta recente do dólar e para o impacto negativo no Ibovespa. A moeda americana, após passar por uma grande depreciação no mês de março, voltou a subir em abril. Segundo dados em tempo real da plataforma do TradeMap, a moeda americana era cotada a R$ 5, uma valorização de 0,80% na comparação intradia.

Altas do pregão

Enquanto isso, a ponta positiva estava recheada de ações ligadas a commodities como Usiminas (USIM5) crescendo 2,63% e 3R Petroleum (RRRP3) subindo 2,20%.

Contudo, quem liderava as altas do pregão era a Embraer (EMBR3), que subia 3,50% após divulgar seu balanço financeiro do primeiro trimestre de 2022 antes da abertura da sessão.

De janeiro a março deste ano, a Embraer teve uma queda de 18,1% no prejuízo líquido na comparação com o mesmo período de 2021, atingindo os R$ 428 milhões.

Já o Ebitda (o lucro antes dos juros, impostos, amortização e depreciação) foi de R$ 45,4 milhões no período, uma queda de 55,2% no mesmo comparativo. A Embraer entregou 14 jatos no primeiro trimestre, com 6 aeronaves comerciais e 8 jatos executivos.

O UBS-BB classificou os resultados como esperados, e destacou que as vendas da companhia, que ficaram em US$ 601 milhões, foram menores que o esperado por conta de menos entrega nas aeronaves. A estimativa da instituição financeira era de US$ 673 milhões.

O destaque, na visão do UBS-BB, foi a margem bruta da Embraer, que atingiu os 20% no primeiro trimestre de 2022 ante 8,3% das expectativas do banco e 9,5% do mesmo período em 2021.

“O desempenho da margem bruta é encorajador e parece que o ambiente de jatos executivos continua muito forte, o que deve fornecer uma base sólida para o crescimento”, avaliou a instituição financeira.

Além dela, a Gol (GOLL4) também divulgou seu balanço do primeiro trimestre, e trouxe resultados positivos, revertendo o prejuízo do mesmo período do ano passado em lucro. Na Bolsa, as ações da empresa subiam 1,02%.

Veja mais sobre o balanço:

Gol (GOLL4) volta a lucrar no 1º trimestre, mas ainda sente o peso de custos altos

No período, a companhia aérea teve um lucro líquido de R$ 2,6 bilhões, resultado diametralmente oposto ao observado em igual período do ano passado, quando amargou prejuízo de R$ 2,5 bilhões. A companhia atribuiu a evolução nos números à demanda do setor corporativo por viagens.

Vale no centro das atenções

Para Eliz Sapucaia e Régis Chinchila, analistas da Terra Investimentos, o grande destaque corporativo do pregão fica por conta da Vale (VALE3), que divulgou seu balanço financeiro do primeiro trimestre na noite de quarta (27).

A empresa teve um lucro líquido 19,6% menor no primeiro trimestre de 2022 em comparação com o mesmo período do ano passado, atingindo US$ 4,46 bilhões.

De acordo com a Vale, os principais fatores por trás da queda de desempenho foi a redução no volume de vendas de minério de ferro e pelotas devido à intensidade das chuvas e à produção menor do Sistema Norte.

Por outro lado, o resultado foi parcialmente compensado por um aumento nos preços realizados para minério de ferro e pelotas e pelo impacto positivo de US$ 1,1 bilhão da venda das operações de minério de ferro e manganês do Centro-Oeste.

Além do balanço, a empresa tomou o noticiário nesta quinta após ter sido acusada pela SEC, a CVM americana, de manipular relatórios sobre o rompimento da barragem em Brumadinho, que ocorreu em janeiro de 2019.

A SEC processou a Vale e afirmou que a mineradora “enganou os investidores por vários anos sobre os riscos representados por sua barragem”. Segundo o órgão amerciano, a Vale manipulou auditorias e emitiu relatórios para investidores afirmando que não havia riscos. Na Bolsa, as ações da empresa subiam 1,80%, após apresentarem perdas no início do pregão.

Mercados internacionais

As bolsas internacionais operam no positivo nesta quinta, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Em território amerciano, os investidores acompanharam a divulgação da prévia do PIB do país mais cedo, que apontou a primeira queda trimestral desde 2020 — recuo de 1,4% entre janeiro e março.

Leia mais:

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Apesar do resultado negativo, as bolsas em Wall Street sobem nesta quinta. Na visão dos analistas da Terra Investimentos, a alta é puxada pela surpresa positiva nos resultados da Meta (FBOK34), que teve um aumento de 6,6% na receita, atingindo US$ 27,91 bilhões.

Na avaliação da XP, o bom resultado “foi fruto de uma recuperação no volume de usuários ativos diariamente de 1,93 bilhão para 1,96 bilhão, o que contribuiu para uma melhora do sentimento do mercado após a contração deste número no trimestre anterior”.

Veja como performavam as principais bolsas nos EUA:

Dow Jones: +0,33%

S&P 500: +0,65%

Nasdaq:  +0,63%

Na Europa, o movimento também era de alta, com o índice Euro Stoxx 50 crescendo 0,62%, o FTSE 100 subia 1,13% e o DAX valorizava 1,35%.

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