Após passar boa parte do pregão no vermelho, à espera de decisão de política monetária, o Ibovespa passou para o positivo depois de o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, ter afastado a possibilidade de um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa de juros americana na próxima reunião.
Assim, o principal índice da B3 fechou em alta de 1,7%, aos 108.343 pontos. O saldo de maio, assim, virou para alta de 0,43%, enquanto o balanço desde o início do ano é de valorização de 3,36%.
As Bolsas americanas também ampliaram seus ganhos seguindo as falas de Powell. O Dow Jones fechou em alta de 2,81%, o S&P 500 subiu 2,99% e o Nasdaq teve ganhos de 3,19%. Na Europa, onde os pregões terminaram antes da decisão do BC americano, o índice Euro Stoxx 50 recuou 0,96%.
Fed vira o mercado
O Fed seguiu o roteiro esperado pelos investidores e anunciou um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa de juros, para a faixa de 0,75% a 1%, além de medidas para começar a recolher o dinheiro que injetou na economia ao longo dos últimos anos, na tentativa de controla a inflação no país.
O banco central americano anunciou que irá começar em junho a diminuir o próprio balanço a um ritmo de US$ 47,5 bilhões por três meses, e depois vai aumentar gradualmente até atingir US$ 95 bilhões mensais – algo que já havia sido antecipado por Powell no início de abril.
Porém, o que mudou o humor dos mercados foram as falas de Powell, que afirmou que a chance de aumento de 0,75 pp nos juros não está sendo “ativamente considerada” pelo colegiado. “Existe um senso amplo no comitê de que altas adicionais de 50 pontos-base devem estar na mesa nas próximas duas reuniões”, declarou.
Por aqui, depois da decisão do Fed, o mercado aguarda agora o fim da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), apostando em mais um aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic). A dúvida, porém, está no futuro: o que os investidores querem saber agora é se o ciclo de alta da Selic irá parar por aqui ou se ainda há altas a caminho.
Petróleo dispara
Apesar de a política monetária dos dois países ter sido o foco dos investidores no pregão desta quarta-feira, a guerra na Ucrânia não saiu do radar. Em discurso ao Parlamento Europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a sexta rodada de sanções à Rússia prevê medidas para proibir a importação de todo o petróleo e derivados vindos da Rússia.
“Que fique claro: não será fácil. Alguns membros [da União Europeia] são fortemente dependentes do petróleo russo”, disse ela. “Garantiremos a eliminação gradual do petróleo russo de forma ordenada, a fim de permitir que nós e nossos parceiros garantam rotas alternativas de abastecimento e minimizem o impacto nos mercados globais”, destacou von der Leyen.
O plano prevê que, em seis meses, a União Europeia deixe de usar petróleo da Rússia, e que em até um ano pare de comprar produtos refinados.
Não comprar petróleo e gás na Rússia, porém, significa que os europeus terão de conseguir estes produtos com outros fornecedores, o que ao mesmo tempo gera uma restrição da oferta no mercado mundial e um aumento na demanda por petróleo de outros países que não a Rússia – ambos fatores que favorecem a alta do preço da commodity.
Com isso, o petróleo tipo Brent fechou em alta de 4,92%, a US$ 101,14, levando consigo as ações das petrolíferas: a Petrobras (PETR4) subiu 6,02%, a PetroRio (PRIO3) teve ganhos de 5,81% e a 3R Petroleum (RRRP3) avançou 4,68%.
As ações da 3R repercutem também os resultados da empresa no primeiro trimestre, de prejuízo líquido de R$ 335,1 milhões, sete vezes maior do que a perda de R$ 43,9 milhões observada no mesmo período de 2021. O resultado, no entanto, foi reflexo de um aumento nas despesas com operações financeiras sem efeito caixa.
A receita líquida, porém, quase triplicou ante o primeiro trimestre de 2021, para R$ 375,2 milhões, enquanto o Ebitda ajustado cresceu 2,5 vezes, para R$ 198,5 milhões.
Destaques do pregão
No fechamento, as maiores altas do Ibovespa eram de Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Pão de Açúcar (PCAR3), com ganhos de 7,61%, 7,54% e 7,52%, respectivamente.
O Pão de Açúcar (PCAR3) irá publicar seu resultado hoje após o fechamento. Há alguns dias, os ativos começaram uma trajetória de alta com rumores de que Abilio Diniz poderia estar interessado na companhia.
Na ponta oposta, as maiores quedas eram de Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3) e Natura (NTCO3), com perdas de 7,76%, 3,04% e 1,71%, nesta ordem.
A Marfrig divulgou seu balanço do primeiro trimestre na noite de ontem, no qual registrou lucro líquido de R$ 109 milhões, queda de 61,1% ante o mesmo intervalo de 2021. A empresa atribuiu o recuo à consolidação de seu investimento na BRF.
Apesar da queda no lucro, a receita cresceu 29,6% no primeiro trimestre do ano, para R$ 22,3 bilhões, enquanto o Ebitda alcançou R$ 2,7 bilhões, alta de 69,9% na mesma base de comparação. Um profissional de uma corretora consultado pela Agência TradeMap afirmou que as ações do setor de frigoríficos têm sofrido nos últimos dias por causa de restrições na China e do cenário inflacionário alto.
Outra companhia que reagiu mal ao balanço foi a XP (XPBR31), que apresentou um trimestre fraco, segundo o Goldman Sachs. O lucro líquido do primeiro trimestre, de R$ 854 milhões, ficou 9% abaixo da expectativa dos analistas do banco. O montante, além disso, representou queda de 14% em relação ao resultado do quarto trimestre, mas alta de 16% em comparação ao primeiro trimestre do ano passado.
Depois do fechamento de hoje, é a vez de BRF (BRFS3), EDP Energias do Brasil (ENBR3), PetroRio (PRIO3), Suzano (SUZB3), Totvs (TOTS3) e outras grandes empresas divulgarem seus balanços.
Bitcoin
O mercado de criptomoedas recebeu com alívio a indicação de que o Fed vai manter em 50 pontos base o aperto dos juros na próxima reunião, agendada para junho. O Bitcoin (BTC) ganhou força após o discurso de Powell e chegou a bater a máxima de US$ 39.662, o maior patamar desde o final de abril.
Por volta das 16h45, o BTC registrava avanço de 3,69% em 24 horas, cotado a US$ 39.524, segundo dados da Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap. O desempenho é acompanhado pelos pares digitais. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) registrava alta de 6,72%, enquanto a Terra (LUNA) subia 6,22%, conforme a CoinDesk.