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Ibovespa fecha penúltimo pregão do ano em baixa de 0,72%

Ameaças de servidores, inflação e baixa liquidez pesaram sobre o índice

Foto: Divulgação

O Ibovespa não parece encontrar ânimo neste fim de ano e fechou o pregão desta quarta-feira, dia 29, em baixa de 0,72%, aos 104.107 pontos, com a maior parte das ações do índice no vermelho.

O dia foi misto no exterior, mas mesmo as bolsas que fecharam no positivo perderam fôlego em relação aos pregões anteriores. Em Wall Street, o S&P 500 teve alta de 0,13% e o Dow Jones subiu 0,25%, enquanto o Nasdaq caiu 0,1%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou em queda de 0,63%; o DAX, da Alemanha, caiu 0,7%; e o FTSE 100, de Londres, subiu 0,66%, no primeiro dia de negociação depois do feriado de Natal.

Lá fora, os temores acerca dos impactos da variante Ômicron do coronavírus seguem fazendo preço, especialmente depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar para um risco de “tsunami” de casos de Covid-19.

Além disso, os Estados Unidos registraram recorde no número médio de casos diários de Covid-19 nos últimos sete dias, em 258.312, de acordo com levantamento da Reuters.

Internamente, na análise de Aroldo Holanda, head de renda variável da Aplix Investimentos, grande parte da queda foi causada pelas promessas de paralisações e até greve geral por servidores federais para pressionar o governo a conceder reajustes salariais para todas as categorias da administração pública, e não apenas para policiais federais, como prevê o Orçamento.

“Esses reajustes podem impactar fortemente o teto de gastos para 2022, e isso pressionou bastante a bolsa no dia de hoje”, diz Holanda.

A baixa liquidez, típica dos pregões de fim de ano, também pesa sobre a bolsa. “Temos alguns movimentos mais fortes, uma movimentação mais volátil por conta da menor liquidez”, afirma Holanda.

No cenário econômico, a principal divulgação do dia foi o IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado) de dezembro, que teve alta de 0,87%, fechando o ano em alta acumulada de 17,78%. O número veio acima do esperado pelo mercado – os analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) que mais acertam as projeções apostavam em elevação de 0,8%.

A alta foi puxada por commodities, em especial a aceleração dos preços da carne bovina, café e cana-de-açúcar.

Na avaliação dos analistas do BTG Pactual Digital, o IGP-M deve fechar 2022 em alta de 6,3%. “Esperamos a manutenção dos preços dos combustíveis nos patamares atuais, mas com alguma pressão de queda nos preços para o setor agrícola, visto que, segundo estimativa da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], podemos ter uma safra brasileira de grãos recorde”.

Apesar da expectativa de perda de ímpeto do índice, a avaliação é que há desafios à frente. “Novos choques climáticos, gargalos produtivos e o real desvalorizado podem impactar negativamente a inflação ao produtor”, diz o BTG Pactual Digital.

Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, o resultado acima do esperado de mais um indicador de inflação se refletiu diretamente na alta da curva de juros e explica a segunda queda consecutiva da Bolsa no seu penúltimo pregão do ano.“Os investidores voltam a colocar na conta a probabilidade do BC acelerar ainda mais o processo de alta da Selic no ano que vem, já que, até então, não existem sinais de arrefecimento das expectativas”, ele diz.

Finalmente, de acordo com dados do Tesouro Nacional, o superávit primário atingiu R$ 3,8 bilhões em novembro, o melhor resultado para o mês desde 2013, com arrecadação federal recorde. No acumulado do ano, o déficit é de R$ 19,2 bilhões.

O desempenho das contas públicas, porém, deve piorar daqui para frente, segundo analistas do BTG Pactual Digital. “Para 2022, a perda de ímpeto da economia e a redução da confiança dos empresários, motivada pelas mudanças no arcabouço fiscal, devem deteriorar o resultado” afirmaram os economistas da instituição.

O dólar, por sua vez, fechou em alta de 0,95%, a R$ 5,6934.

Na visão de Holanda, a expectativa para amanhã é que as tendências sejam mantidas, com o Ibovespa para baixo e o dólar para cima. O analista observa que a Bolsa pode cair ainda mais e encostar na casa de 102 mil ou 103 mil pontos. “Vale ressaltar que amanhã nos EUA teremos os pedidos iniciais por seguro-desemprego, que, se vierem fora do esperado, podem ter forte impacto, trazendo ainda mais volatilidade para esse último pregão do ano”, diz.

No fechamento, as maiores quedas do Ibovespa eram de Azul (AZUL4), CVC (CVCB3) e Gol (GOLL4), que perderam 7,34%, 7,33% e 6,72%, respectivamente. Na ponta oposta, Via (VIIA3), Tim (TIMS3) e Minerva (BEEF3) lideraram as altas, com ganhos de 1,41%, 1,02% e 0,66%.

A forte queda das ações de turismo e companhias aéreas reflete a alta do dólar e a aceleração da disseminação da Ômicron.

Destaques do pregão

A B3 divulgou a terceira e última prévia da carteira do Ibovespa válida para os meses de janeiro a abril de 2022. A novidade em relação às prévias anteriores é a entrada das ações da 3R Petroleum (RRRP3) no índice. Os papéis da Positivo (POSI3), que haviam sido incluídos na primeira prévia, e os ativos da CSN Mineração (CMIN3), adicionados na segunda, foram mantidos.

Grupo Soma (SOMA3), Iguatemi (IGTI11) e Vibra Energia (VBBR3) também estão entre os novos integrantes. Por outro lado, as units da Getnet (GETT11) e as ações preferenciais do Banco Inter (BIDI4) saíram do principal índice da bolsa brasileira.

Após a sinalização de que entrariam no índice, as ações da Positivo fecharam em alta de 5,89%, a R$ 11,15, as da 3R Petroleum subiram 4,4%, a R$ 33,48, e as da CSN Mineração tiveram avanço de 0,92%, a R$ 6,58.

As ações da BR Malls (BRML3) e da Aliansce Sonae (ALSO) fecharam em alta de 0,49% e 2,26%, respectivamente, a R$ 8,16 e R$ 21,68, depois da confirmação de conversas sobre uma potencial fusão entre as duas empresas, o que poderia criar uma gigante do setor de shoppings no Brasil.

Como não há informações sobre o valor da operação e a forma de pagamento – se será via troca de ações ou desembolso de caixa –, fica difícil medir o real impacto da transação para os acionistas das empresas. No entanto, a união das operações pode formar a maior empresa de shopping center do Brasil, com valor de mercado de aproximadamente R$ 13 bilhões e faturamento anual em torno de R$ 2 bilhões.

Iguatemi (IGTI11), Multiplan (MULT3) e JHSF (JHSF3), por sua vez, caíram em reação à possível combinação de negócios de suas concorrentes. Iguatemi teve baixa de 3,14%, a R$ 18,18, Multiplan perdeu 1,81%, a R$ 18,41, e JHSF recuou 1,79%, a R$ 5,49.

A Petrobras (PETR4) anunciou leves ajustes em seus preços de venda de diesel para as distribuidoras, mas sem alterar o valor médio de comercialização do combustível. “Essas ações visam aumentar a eficiência das operações e a competitividade da Petrobras em ambiente concorrencial”, disse a empresa em nota.

Mais cedo, a petroleira informou que irá recorrer da decisão da Justiça do Rio de Janeiro que suspendeu o reajuste de 50% no preço do gás fornecido à distribuidora Naturgy. Segundo a estatal, o reajuste está de acordo com contratos firmados com as distribuidoras e segue a alta demanda e as limitações da oferta internacional, que resultaram em um aumento de preço. A ação teve queda de 0,83%, a R$ 28,54.

Em outro setor, a Vale (VALE3) esclareceu, após dias de rumores, que não existe qualquer decisão ou acordo com compromisso sobre uma possível aquisição de participação no sistema Minas-Rio, da Anglo American. A ação da blue chip teve alta de 0,59%, a R$ 77,25, recuperando-se da forte queda no dia anterior.

Ainda entre as mineradoras, a Mineração Usiminas, controlada da Usiminas (USIM5), informou que produziu o nível recorde de mais de 9 milhões de toneladas de minério de ferro em 2021. O papel da Usiminas fechou em alta de 0,34%, a R$ 14,80.

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