Ibovespa desaba 1,7% após Lula confirmar Mercadante no BNDES e descartar privatizações até 2026

Principal índice da Bolsa brasileira reverteu otimismo com inflação americana e encerrou pregão influenciado por decisões do novo governo

Silvia Rosa e Ana Ribeiro

Silvia Rosa e Ana Ribeiro

Foto: Shutterstock/rafapress

Após devolver parte das perdas dos últimos dias, o Ibovespa teve forte queda nesta terça-feira (13), impactado pela confirmação do ex-senador Aloizio Mercadante (PT) na presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Durante discurso no evento de conclusão dos trabalhos do grupo de transição de governo, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda destacou que nenhuma empresa estatal será privatizada em seu governo.

Com este cenário, o principal índice da Bolsa brasileira encerrou o pregão em queda de 1,71%, aos 103,539 pontos, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap.

O desempenho faz o saldo do Ibovespa no mês de dezembro recuar para 7,95%, enquanto a baixa acumulada no ano é de 1,2%.

Risco fiscal apaga otimismo

A parte da manhã foi de alta no mercado, com os investidores ao redor do globo repercutindo dados da inflação americana mais baixos do que o esperado.

O CPI (índice de preços ao consumidor) subiu 0,1% em novembro ante outubro, quando tinham avançado 0,4%. A leitura veio abaixo da esperada pelo mercado, que passou a esperar um avanço menos intenso nos juros americanos.

Internamente, isso é uma boa notícia. Juros menores nos Estados Unidos significam menos capital indo para os ativos de renda fixa americanos, dólar mais fraco do que se previa e um esforço menor do nosso Banco Central para conter a inflação vinda de fora.

O otimismo, porém, perdeu força ao longo do dia e foi sepultado de vez após Lula confirmar Mercadante no BNDES e ainda descartar privatizações até 2026.

Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, avalia que essa reação do mercado está ligada à dinâmica entre política fiscal e monetária.

Segundo ele, além do governo eleito ainda não deixado claro se usará alguma nova regra fiscal em substituição ao teto de gastos, ainda há o temor da volta de medidas parafiscais, que são aquelas em que não há efeito direto no orçamento, mas produzem efeito na economia, como os subsídios do BNDES, por exemplo.

“Essas medidas não aparecem no resultado fiscal, mas estimulam a economia e tiram o poder de atuação da política monetária. Essas políticas dependem de quem se coloca lá (BNDES e demais bancos estatais)”, conta.

Para o economista da EQI, ao optar por nomes petistas para os principais cargos da economia, o presidente eleito sinaliza que pode retomar essas medidas que foram utilizadas durante os anos do governo Lula e governo Dilma. “Quanto mais nomes nessa direção, pior será a reação do mercado”.

Ainda no âmbito político, o futuro ministro da Fazenda falará logo mais para anunciar novos nomes da sua equipe econômica. Nesta tarde já foi confirmado o economista Gabriel Galípolo como secretário-executivo da fazenda, o segundo cargo mais importante da pasta.

Com isso, o mercado segue à expectativa do perfil dos novos nomes, principalmente para áreas fundamentais, como o Tesouro Nacional e a Receita Federal. Mais cedo, Haddad participou de encontros com o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Suzano (SUZB3) puxa queda

Os papéis da Suzano (SUZB3) lideraram a queda no pregão, com recuo de 6,43%. Também no grupo de baixo, as ações da Klabin (KLBN3) perderam 4,05%.

As companhias do ramo de papel e celulosa devem sofrer nos próximos meses com o aumento da oferta e pela demanda mais fraca, segundo a Fitch Ratings, que acredita que o preço médio da celulose de eucalipto será de US$ 650 por tonelada em 2023, uma queda de 13,33% se comparado à média deste ano, que foi de US$ 750 por tonelada, segundo relatório divulgado nesta manhã.

Fechando o pódio das maiores quedas, ações da Rumo (RAIL3) e da Marfrig (MRFG3), registraram retração de 5,82% e 4,82%, respectivamente.

As novidades de Brasília também impactaram na queda de dois dos maiores bancos do Ibovespa. O Banco do Brasil (BBSA3) perdeu 4,87%, enquanto o BTG Pactual (BPAC11) retraiu 4,09%.

Petz (PETZ3) lidera altas

A ponta de cima do Ibovespa foi puxado pela Petz (PETZ3), com alta de 2,69%. Braskem (BRKM5) fechou com avanço de 1,48%, enquanto 3R Petroleum (RRRP3) subiu 0,90%. Ainda no setor petrolífero, a PetroRio (PRIO3) teve alta de 0,72%.

Mais cedo, relatório do Bank of America (BofA) apontou que o preço do barril tipo Brent – usado como referência no mercado global – deve inverter a queda e fechar o próximo ano com preço médio de US$ 100.

Saiba mais:
Cenário de preços baixos não deve se manter e Brent ficará ao redor de US$ 100 em 2023, diz BofA

Nesta terça, os contratos futuros da commodity encerraram em alta de 3,3%, a US$ 80,56.

De acordo com o BofA, a pressão sobre os preços será reflexo da perspectiva da reversão do quadro de recessão global para um cenário mais positivo.

Bolsas internacionais

No exterior, o dia foi majoritariamente positivo nos Estados Unidos e na Europa, em repercussão aos dados da inflação.

Os investidores pelo mundo seguem na expectativa da definição da nova taxa de juros americana, que será decidida nesta quarta-feira (14), pelo Federal Reserve (o banco central dos EUA).

Na quinta, é a vez do BoE (Banco da Inglaterra) e do BCE (Banco Central Europeu) divulgarem as novas taxas do Reino Unido e da zona do euro, respectivamente.

Criptos

O mercado cripto ignorou a crise da Binance nesta terça e dá mais ênfase aos dados da inflação americana melhores do que o esperado. O movimento faz o Bitcoin subir e se aproximar de US$ 18 mil, patamar visto pela última vez há um mês.

Por volta das 18h, o Bitcoin valorizava 4,7% em comparação as últimas 24 horas, negociado a US$ 17.774, conforme dados disponíveis na plataforma TradeMap. Esta é a melhor cotação para a criptomoeda em um mês. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) subia 5,4%, a US$ 1.319.

A Binance, maior corretora do mercado cripto, liberou os investidores a sacarem USDC Coins (USDC) após bloquear os acessos no início desta manhã. Segundo a empresa, os saques haviam sido suspensos para uma troca de tokens envolvendo a stablecoin.

O bloqueio aos saques ocorreu em meio uma a corrida dos investidores para tirar recursos da corretora, após relatórios indicarem um quadro de possível insolvência. O roteiro se assemelha ao visto no início de novembro envolvendo a FTX. A empresa também foi alvo de uma onda de saques e dias depois entrou com um pedido de falência na Justiça americana, deixando prejuízos bilionários.

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