Ibovespa cai 1,54% com crise na Americanas (AMER3) e possibilidade de salário mínimo maior

Além disso, a Bolsa brasileira foi afetada pela baixa liquidez por causa do fechamento dos mercados nos EUA

Foto: Shutterstock/Bigc Studio

O Ibovespa acelerou as perdas na parte final do pregão desta segunda-feira (16), impulsionado pelos indícios de que o governo federal pretende aumentar o salário mínimo além dos R$ 1.320 previstos para o Orçamento deste ano.

Antes, o pregão já havia passado todo o dia no vermelho em mais um dia de repercussão à espiral negativa envolvendo a Americanas (AMER3) e o recuo de commodities, impactando as maiores empresas listadas no mercado brasileiro.

Além das turbulências internas, o principal indicador da Bolsa brasileira também foi impactado pela baixa liquidez devido ao fechamento das Bolsas em Wall Street pela comemoração do dia de Martin Luther King.

O Ibovepa encerrou o primeiro pregão da semana em baixa de 1,54%, aos 109.213 pontos e R$ 14,48 bilhões em volume negociado.

O desempenho praticamente zerou o saldo positivo acumulado em 2023, reduzindo a diferença para queda de 0,30%, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap.

Salário mínimo acima de R$ 1.320?

As perdas do Ibovespa se acentuaram nas horas finais do pregão com o vazamento de que o governo federal pretender elevar o salário mínimo além acordado, segundo Gabriel Meira, sócio e especialista da Valor Investimentos.

“Passa do valor do que estava previsto para o Orçamento, algo em torno de R$ 1.320”, destacou.

O movimento reacendeu o temor dos investidores de descompromisso da nova gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a saúde fiscal do país.

A especulação acerca do benefício também deteriorou a moeda brasileira frente ao dólar, que fechou em alta de 0,95%, a R$ 5,16.

Os contratos de juros futuros também foram pressionados, com o vencimento para 2026 encerrando em alta de 27 p.p, a 12,52%, e o contrato para 2029 subindo 28 p.p, a 12,58%.

Americanas lidera quedas e arrasta bancos

Após um breve alívio no fim da semana passada, os papéis da Americanas voltaram a liderar com folga as quedas do pregão, encerrando em baixa de 38,41%, a R$ 1,94.

O tombo reflete os novos desdobramentos envolvendo a rede varejista após a divulgação de um rombo de R$ 20 bilhões, no último dia 11 de janeiro.

Saiba mas:

A informação inicial era que isso deixaria a empresa parecendo mais lucrativa e menos endividada do que realmente estava. A confirmação disso veio alguns dias depois, quando a Americanas reportou à Justiça uma dívida de R$ 40 bilhões – duas vezes maior que a reportada ao mercado no último balanço.

Depois disso, a Justiça do Rio de Janeiro, a pedido da varejista, decidiu impedir que os credores da companhia possam antecipar a cobrança de dívidas da empresa.

O pedido de proteção contra cobrança feito pela Americanas foi deflagrado, em parte, porque o BTG Pactual (BPAC11) notificou a companhia que declararia o vencimento antecipado de dívidas e que restringiria R$ 1,2 bilhão da empresa para garantir o pagamento.

A exposição das instituições financeiras às dívidas da Americanas arrastou para baixo as ações de bancos neste pregão. Como era de se esperar, o BTG foi o mais impactado, com perda de 3,38%, seguido por Bradesco (BBDC4), que caiu 3,07%, e o Itaú Unibanco (ITUB4), que recuou 1,08,%.

“O mercado está bem receoso quanto a um efeito sistêmico, tem diversos fundos de crédito que possuem o ativo, diversos bancos que possuem dívidas com o ativo”, pontuou Meira.

Commodities recuam

O temor de interrupção da reabertura da economia chinesa com o aumento dos casos de Covid-19 no país levou a queda de commodities neste início de semana, impactando as empresas brasileiras expostas ao setor.

O minério de ferro encerrou a negociação em queda de 4,3% em Dalian, na China, negociado abaixo de US$ 124 por tonelada.

Já o barril do petróleo tipo brent, usado como referência na maior parte do mercado global, encerrou a sessão com recuo de 1,30%, a US$ 84,17, interrompendo cinco dias seguidos de valorização.

O movimento das commodities levou a queda da Vale (VALE3) – a ação com maior peso no Ibovespa – para 1,67%. Na mesma linha, CSN Mineração (CMIN3) perdeu 3,71%, enquanto Gerdau (GGBR4), CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5), caíram 1,67%, 1,66% e 0,90%, respectivamente.

Já os papéis preferenciais da Petrobras (PETR4) recuaram 2,16%, enquanto os ordinários (PETR3) perderam 2.49%.

Altas do dia

Enquanto a crise na Americanas ganha contornos cada vez mais dramáticos, outras varejistas sobem com a expectativa de captação de investidores da concorrente.

O movimento, visto desde a semana passada, fez as ações da Magazine Luiza (MGLU3) voltar a liderar o pregão, com alta de 12,25%. Já a Via Varejo (VIIA4) subiu 10,55%, enquanto Carrefour (CRFB3) valorizou 4,40%.

Ainda nas altas, as ações da Embraer (EMBR3) ganharam 3,94%. Nesta manhã, a empresa informou ao mercado que vendeu 15 aeronaves E195-E2 a um cliente não revelado. Segundo a fabricante brasileira, o pedido firme de 15 aviões comerciais tem valor de US$ 1,17 bilhão, e será adicionado à carteira do quarto trimestre de 2022.

No terceiro trimestre do ano passado, a carteira de pedidos da Embraer somava US$ 17,2 bilhões. Esse tipo de aeronave é a principal aposta da fabricante para o segmento comercial nos próximos anos. O E195-E2 tem capacidade entre 120 e 146 lugares.

As ações da C&A (CEAB3) subiram 11,52% após a novela envolvendo à venda da companhia circular novamente no último fim de semana.

Ontem (15), o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, disse que a Lojas Renner (LREN3) está em negociações preliminares para a compra da C&A no Brasil. Os papéis do grupo fecharam com queda de 2,04%.

Criptos

Apesar da falta de referência do mercado americano, as criptos emendaram o fluxo positivo observado no fim da semana passada e se consolidaram acima do patamar pré-FTX.

Por volta das 17h15, o Bitcoin (BTC) subia quase 2% em comparação as últimas 24 horas, negociado acima de US$ 21,2 mil, no melhor patamar em quase seis meses, segundo dados da plataforma CoinGecko. Já o Ethereum (ETH) operava estável, a US$ 1,5 mil.

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