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Ibovespa começa o ano em queda e volta aos 103 mil pontos

Construtoras e varejistas reagiram à alta dos juros futuros

Foto: Divulgação

Depois de abrir o pregão em alta, o Ibovespa virou no meio do dia e fechou em baixa de 0,86% nesta segunda-feira, 3, aos 103.921 pontos, na contramão das bolsas do exterior, que terminaram a sessão no positivo.

A virada do índice segue o mau desempenho de ações que são mais sensíveis ao desempenho da economia, como as empresas do varejo, que foram influenciadas pelo aumento dos juros futuros no pregão.

“As empresas que são mais cíclicas acabam sofrendo muito nesse cenário, e elas têm uma posição relevante dentro do Ibovespa, o que acaba afetando bastante”, aponta Gustavo Gomes, sócio e assessor de renda variável da Acqua-Vero.

No exterior, o S&P 500 teve alta de 0,6%, o Dow Jones subiu 0,6% e o Nasdaq teve avanço de 1,1%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 subiu 0,78% e o DAX, da Alemanha, ganhou 0,86%.

A variante Ômicron continua pesando sobre o mercado, com os casos de coronavírus batendo recorde ao redor do mundo. Nos últimos sete dias, dez milhões de pessoas foram diagnosticadas com Covid-19, o dobro do pico de abril de 2021. As mortes, porém, continuam caindo.

Ainda no exterior, durante o final de semana, a imprensa chinesa relatou que a Evergrande foi condenada a demolir blocos de apartamentos na província de Hainan. A empresa anunciou a suspensão de negociação de suas ações em Hong Kong a partir da noite passada. Com isso, cresce a percepção de que a quebra da Evergrande, segundo maior incorporadora imobiliária da China, pode se materializar neste ano.

O desenrolar da situação da Evergrande também pode afetar o mercado brasileiro, na visão de Gomes. A empresa, por exemplo, tem potencial de influenciar negativamente a Vale, visto que é uma grande consumidora de minério, explica o analista.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro foi internado durante a madrugada e passa por exames para verificar suspeitas de obstrução intestinal. Segundo a Secretaria de Comunicação do governo federal, um desconforto abdominal foi o motivo da hospitalização. A Secretaria informou que “o presidente passa bem e que mais detalhes serão divulgados posteriormente, após atualização do boletim médico”.

Para além disso, o presidente sancionou a desoneração da folha para 17 setores até 2023. Em nota, a Presidência afirmou que “não será necessária nova compensação fiscal” porque “se trata de prorrogação de benefício fiscal já existente e a medida foi considerada no Relatório de Estimativa de Receita do Projeto de Lei Orçamentária de 2022”.

Na análise de Gomes, as incertezas fiscais também pesam sobre o Ibovespa, depois de Bolsonaro ter mencionado a possibilidade de revisão do teto de gastos.

Nesta manhã ainda, os analistas de mercado ouvidos pela pesquisa Focus voltaram a reduzir suas projeções para alta do PIB em 2022. Agora, a expectativa é de um crescimento de 0,36%, inferior ao estimado na semana anterior, quando as apostas haviam sido reduzidas para 0,42%.

A avaliação é que neste ano a atividade irá sofrer com a forte elevação da taxa de juros e inflação ainda em um patamar alto, além das incertezas trazidas pelas eleições presidenciais.

Os analistas acreditam que a Selic encerrará 2022 em 11,5% ao ano. As apostas para o câmbio no final deste ano se mantiveram em R$ 5,60, e as projeções para o IPCA, em 5,03%.

O analista da Acqua-Vero menciona também os últimos dados de PMI (Índice de Gerentes de Compras), que podem ter afetado o principal índice da B3, depois de registrarem contração de dezembro.

As maiores quedas do índice no fechamento eram de Cyrela (CYRE3), Alpargatas (ALPA4) e Magazine Luiza (MGLU3), que perderam 7,99%, 7% e 6,93%, respectivamente. Liderando as altas, por outro lado, estavam CSN Mineração (CMIN3), BRF (BRFS3) e Itaú (ITUB4), com ganhos de 4,6%, 3,11% e 2,75%.

A forte queda de Alpargatas veio no pregão seguinte à confirmação da venda da Osklen. Apesar de a venda ter sido anunciada em novembro e ter sido bem recebida na ocasião, o valor final da aquisição pode ser um dos fatores por trás da queda do papel no dia de hoje, na análise de Heitor de Nicola, assessor de renda variável da Acqua-Vero.

O valor da venda de toda a participação da Alpargatas na Osklen, de cerca de 60%, foi de R$ 400 milhões, sendo uma parte fixa, que representa 75% do montante e que será paga em três parcelas corrigidas pela variação positiva do CDI, e uma parte variável, equivalente a até 25% do preço de aquisição.

“Quando a Alpargatas comprou a Osklen em 2014, eles pagaram cerca de R$ 320 milhões. Se corrigirmos esse valor pelo CDI, esse valor chega hoje na casa dos R$ 550 milhões. O que isso significa? Estamos vendo a empresa vender algo por R$ 400 milhões algo que, trazendo para valores presentes, estaria na casa de R$ 550 milhões”, explica de Nicola, ressaltando que esse pode ser um dos fatores para o mau humor do mercado.

A queda da ação também reflete a perda generalizada no setor de varejo, consequência da alta nos juros futuros. Além de Magalu, destaque para Grupo Soma (SOMA3), que teve baixa de 6,6%, a R$ 11,89, e Carrefour (CRFB3), que perdeu 6,1%, a R$ 14,32.

O varejo, porém, não foi o único setor a sentir o peso da alta dos juros. “O que ocorre quando temos elevação de juros é a queda de ativos relacionados à construção civil. Caem as construtoras, os fundos imobiliários e o varejo” aponta Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.

Entre as construtoras, além de Cyrela, as maiores perdas foram de MRV (MRVE3) e Tenda (TEND3), que caíram 5,75% e 5,33%, respectivamente, a R$ 11,31 e R$ 15,82.

Na mesma linha, as administradoras de shoppings também caíram em bloco, com Iguatemi (IGTI11) recuando 5,81%, a R$ 17,02, Multiplan (MULT3) perdendo 6,78%, a R$ 17,45, BR Malls (BRML3) em baixa de 3,85%, a R$ 7,99, e JHSF caindo 6,63%, a R$ 5,21.

As ações de tecnologia também foram penalizadas pelos juros e fecharam em queda, na contramão de seus pares americanos, que subiram. Méliuz (CASH3) caiu 5,86%, a R$ 3,05; Banco Pan (BPAN4), 4,21%, a R$ 10,23, Locaweb (LWSA3), 3,12%, a R$ 12,75; e Banco Inter (BIDI11), 1,47%, a R$ 28,15.

Apesar da alta da BRF, as ações de frigoríficos tiveram fortes baixas depois de a Casa Branca anunciar que irá endurecer medidas para combater o que classifica como abuso de preços e margens de lucro da indústria, JBS (JBSS3) fechou em baixa de 4,22%, a R$ 36,35, Marfrig (MRFG3) caiu 3,63%, a R$ 21,27, e Minerva (BEEF3) perdeu 1,51%, a R$ 10,44.

A alta de gigantes como Petrobras (PETR4), Vale (VALE3) e bancos ajudam a limitar a queda do índice. Petrobras subiu 2,25%, a R$ 29,09, enquanto Vale teve avanço de 0,05%, a R$ 78.

As ações do setor bancário operam com valorização após o governo federal desistir de prorrogar as alíquotas mais altas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida estava em estudo para compensar as despesas com a desoneração da folha de pagamentos. Além de Itaú, Bradesco (BBDC4) ganhou 2,5%, a R$ 16,69, e Santander (SANB11) avançou 2,54%, a R$ 30,74.

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