Gestores compram Vale com reabertura da China e venda de empresa de metais

Empresa deve continuar distribuindo dividendos extraordinários em 2023, mas em volume menor

Foto: Shutterstock/Diego Thomazini

Gestores de fundos de investimentos aumentaram a posição em papéis da mineradora brasileira Vale (VALE3) em novembro, vendo uma perspectiva positiva para a companhia com a flexibilização das medidas de restrições adotadas pela China por conta da Covid-19 e a expectativa de venda de participação na empresa de metais básicos em 2023.

Em novembro, as ações da empresa saltaram 27,7% em função da expectativa de reabertura da economia chinesa, que tem sustentado a alta do preço do minério de ferro.

Depois de atingir o menor patamar em três anos, em 31 de outubro, cotado a US$ 79,50 por tonelada, o preço do minério com teor de 62% de ferro apresentou recuperação em novembro e já subiu 39,5% desde então, cotado a US$ 110,70 por tonelada em 8 de dezembro, segundo o índice Platts, da S&P Global Commodity Insights.

Nesse cenário, alguns gestores aproveitaram essa recuperação para aumentar a posição em papéis da Vale.

A Reach Capital foi uma delas. A gestora montou uma posição em Vale no fim de outubro, aumentou a alocação ao longo de novembro e conseguiu ganhar com a alta da ação no mês passado, segundo Pedro de Marco, analista de ações da Reach Capital.

O gestor vê um aumento da demanda por minério de ferro por conta da reabertura da China, que deve manter o preço alto da commodity. A expectativa é que a cotação ainda pode subir mais no segundo trimestre de 2023 se houver um impacto na produção devido ao período de chuvas.

Outra gestora que aumentou a posição em ações da Vale em novembro foi a Persevera. Para Paschoal Paione, gestor responsável por cobrir o setor de commodities, o preço do minério de ferro deve continuar próximo ao patamar de US$ 100 ano que vem, o que será suficiente para a Vale continuar pagando um dividendo robusto. “Aumentamos a posição em mineradoras como Vale, BHP e Rio Tinto”, disse.

Casas como Ibiuna, RPS e SulAmérica também aumentaram a posição no papel no mês passado, segundo informaram nas cartas de gestão de novembro.

O risco, segundo os gestores, é de um aumento muito grande no número de internações na China obrigar o governo a rever a flexibilização das medidas de restrição.

Outro risco é o de estouro da bolha no setor imobiliário, que vem apresentado problemas com as incorporadoras, caso da Evergrande. A China anunciou mês passado uma série de medidas de estímulo ao setor imobiliário. “O problema que vimos com as grandes incorporadoras foram atenuados”, diz De Marco.

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O gestor destaca que a China está investindo mais em infraestrutura, o que deve sustentar a demanda por aço, o que é positivo para a Vale.

O crescimento esperado para a China nos próximos anos, contudo, deve ser menor que as taxas de 8% a 9% vistas na última década. A S&P Global Ratings estima crescimento de 3,3% para a economia chinesa em 2022.

Vale revisa produção para baixo

A Vale revisou para baixo a produção de minério de ferro para o intervalo entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas no próximo ano, durante o Vale Day com investidores em 8 de dezembro.

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A estimativa para o encerramento deste ano ficou no limite inferior do intervalo de produção previsto para 2022, que era também de 310 milhões a 320 milhões de toneladas e abaixo do registrado em 2021. “O mercado esperava uma produção de 300 milhões de toneladas e a revisão do guidance frustrou o mercado”, disse de De Marco.

Para 2026, a previsão é de uma produção entre 340 a 360 milhões de toneladas e, em 2030, acima de 360 milhões de toneladas, retirando do horizonte o objetivo de produzir 400 milhões de tonelada por ano.

“A revisão do topo do guidance de produção da Vale veio 1,2% abaixo da nossa estimativa”, afirma Igor Guedes, analista da Genial Investimentos.  A corretora está com recomendação neutra para o papel da Vale.

Venda de empresa de metais básicos pode impulsionar papéis

A expectativa de venda de uma participação de 10% na empresa de metais básicos, como cobre e níquel, da qual a Vale pretende fazer o spin-off (separação), pode impulsionar os papéis da mineradora brasileira.

A empresa informou, durante o Vale Day, que já tem oferta não vinculante para parceria na empresa de metais. A ideia da Vale é trazer um sócio estratégico, com experiência na exploração de metais básicos, principalmente níquel, diz Guedes.

A expectativa é que o nome do novo parceiro seja divulgado no primeiro semestre de 2023.

A Vale está mirando o mercado de baterias para carros elétricos, o que deve elevar a demanda por esses metais.

A expectativa da Genial e da Reach Capital é que a Vale possa levantar cerca de US$ 2 bilhões com a venda da participação na empresa de metais básicos, recursos que devem ser empregados na nova empresa para expansão da produção – ou seja, não devem ser distribuídos aos acionistas da mineradora.

A venda, contudo, pode contribuir para a valorização dos papéis da Vale, já que a nova empresa deve ser avaliada a um múltiplo de EV [valor da empresa]/ Ebitda superior ao da mineradora, que hoje está em 4,5 vezes. Esse múltiplo mede o valor da empresa em relação ao lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

“Esperamos que a nova companhia seja avaliada por um múltiplo mais alto, entre 5 a 6 vezes”, diz De Marco.

Dividendos extraordinários continuam, mas em menor grau

Depois de se posicionar entre as maiores pagadoras de dividendos neste ano, a expectativa do mercado é de que a companhia continue pagando dividendos extraordinários aos acionistas no ano que vem. Apesar disso, o volume distribuído deve ser menor que o deste ano.

A Vale tem uma política de distribuição de dividendos que prevê uma remuneração mínima de 30% da diferença entre o Ebitda ajustado e o investimento corrente.

O conselho de administração da companhia ainda poderá deliberar a distribuição de dividendos extraordinários.

Em 2022, a companhia pagou R$ 16,2 bilhões em dividendos. A empresa informou que o excesso de caixa será alocado entre recompra de ações e dividendos extraordinários, prevendo um retorno com dividendos de 7 a 16% de yield em dezembro de 2022.

“Estimamos um yield [retorno com dividendos] de 8% a 10% para a Vale em 2023, que deve ser menor que o pago neste ano”, diz De Marco, ressaltando que isso se deve, em parte, pela expectativa de preço mais baixo do minério de ferro.

A Genial prevê uma distribuição de R$ 12,5 bilhões em dividendos em 2023, o que equivale a um dividend yield de 15,4%. “O preço do minério de ferro pode subir no curto prazo para US$ 115 por tonelada, mas não deve durar muitos meses”, diz Guedes.

“A Vale é uma empresa madura , que não precisa de muito reinvestimento”, diz Guedes.

O Bank of America também espera um cenário menos favorável para o minério de ferro em 2023, com a intenção da China de reduzir a produção de aço para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, o que deve se refletir em menor geração de caixa para a Vale . O banco está com recomendação neutra para o papel e estima um retorno com dividendos de 6,8% em 2023.

O Itaú BBA também prevê uma distribuição de dividendos menor em 2023, em função da expectativa de queda de 19% na projeção do Ebitda da mineradora, o que deve resultar em um dividend yield de 6% segundo apontou o banco em relatório.

O banco destaca, contudo, que o preço da ação da Vale está descontado em relação ao pares , negociando com um desconto de 17% do múltiplo EV/Ebitda em relação às mineradoras australianas.

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