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Fora da curva: onde investem os 5 fundos de ações líderes de ganhos em 2022

Depois de ganharem com Petrobras (PETR4), fundos do BTG e da XP zeraram posição no papel após a eleição

Foto: Shutterstock/Thapana_Studio

Enquanto o Ibovespa teve um ganho tímido de 4,69% em 2022, abaixo da alta de 12,37% do CDI, os cinco fundos de ações que tiveram a melhor performance ano passado entregaram um retorno de até seis vezes o principal índice da Bolsa.

Com a B3 sendo negociada abaixo da média histórica de 11 e 12 vezes o preço/lucro, os gestores aproveitaram a queda de alguns ativos no ano passado para comprar papéis que estavam com valores descontados como o da Petrobras (PETR3).

Apesar da expectativa de manutenção da taxa básica de juros em patamar elevado por mais tempo do que se previa neste ano e da maior incerteza em relação ao cenário fiscal, os gestores veem oportunidades em empresas resilientes, fortes geradoras de caixa e líderes em seus setores.

Veja baixo os fundos que lideraram os ganhos em 2022, segundo levantamento do TradeMap e suas estratégias.

tabela com fundos de ações que lideram os ganhos em 2022

Busca de oportunidades em mercados globais garante liderança ao fundo do BTG

A busca por oportunidades nos mercados globais garantiu a liderança de performance ao fundo Absoluto LS, gerido pela BTG Pactual Asset Management, que teve ganho de 27,97% em 2022.

Entre as estratégias que mais contribuíram para a boa performance da carteira estão a aposta na queda das bolsas americanas, na reabertura da China, em empresas de petróleo e posições long e short (de compra e venda) de ações no México, apontou a gestora na carta do segundo semestre de 2022.

No caso do México, o fundo comprou papéis de bancos regionais como o Banco del Bajio, cuja carteira é majoritariamente pós-fixada, e se beneficiou da alta de juros, e o Gentera, cujo portfólio de crédito é de menor risco, e vendeu ações de empresas como Walmex e América Móvil.

O fundo também ganhou com a aposta na alta dos papéis de empresas de petróleo como Petrobras (PETR3), Prio (PRIO3) e PetroReconcavo (RECVB3).

O Absoluto LS ainda mantém todas essas posições com exceção da Petrobras, que, segundo a gestora, hoje tem risco de retorno menos atrativo, “devido à incerteza causada pela intenção do novo governo em alterar a política de preços, cortar os dividendos e aumentar o investimento em refinarias e em energia renovável”, apontou o BTG na carta.

Após a eleição, o fundo tem focado em empresas de perfil mais defensivo por conta das dúvidas relacionas às políticas econômica e fiscal do novo governo.

“Esse é um ambiente de fragilidade para ativos locais, o que nos faz manter a cautela até que ações concretas da nova administração nos certifiquem do contrário”, completou o BTG na carta.

Value investing raiz

Com um foco na estratégia value investing, a mesma seguida por Warren Buffett que busca ativos descontados de empresas que sejam líderes em seu segmento e com boa perspectiva de resultados no longo prazo, o fundo de ações da gestora Charles River teve a segunda melhor performance em 2022, com alta de 24,57%.

A gestora aposta em modelos próprios de avaliação de risco e de análise de cenário, buscando investir com uma margem de segurança, em que a maior posição chega a 15% do portfólio.

“Ao longo do ano passado, tivemos 17 posições no fundo, das quais 16 tiveram contribuição positiva e só uma negativa”, afirma Camilo Marcantonio, sócio-fundador e gestor da Charles River Capital, que trabalhou por oito anos na Bain & Company prestando consultoria estratégica para grandes empresas e fundos de private equity.

Entre as posições que mais contribuíram para a boa performance do fundo estão os papéis da fabricante de componentes para motores Tupy (TUPY3), da empresa do setor agrícola BrasilAgro (AGRO3) e da Petrobras.

As duas primeira estão há de oito anos na carteira do fundo e subiram 33,70% e 12,18%, respectivamente,s em 2022.

A tese por trás do investimento na BrasilAgro – que adquire, desenvolve e comercializa propriedades rurais voltadas para o agronegócio – é a escassez de terras férteis no mundo para a expansão agrícola no médio e longo prazos, o que deve manter os preços dos produtos agrícolas em patamares elevados para justificar os investimentos.

Hoje o fundo conta com 14 posições compradas (apostando na alta) na carteira. Recentemente, aumentou a posição no Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul- BRSR6) e na siderúrgica Ternium (TXSA34).

Foco em empresas resilientes e geradoras de caixa

Com foco em empresas com valuation atrativo, mas que também tenham resiliência, previsibilidade de receita e geração de caixa, o fundo XP Investor Dividendos teve um ganho de 15,92% em 2022 e bateu o Índice de Dividendos (IDIV) da Bolsa, que subiu 12,65%.

Entre os papéis que mais contribuíram para a alta do fundo estão BB Seguridade (BBSE3), Eletrobras (ELET6), Hypera (HYPE3), Petrobras e Cielo (CIEL3).

Hoje a maior posição do fundo é a Eletrobras. Embora o papel tenha subido pouco após a privatização da companhia, acumulando alta de 5,15% desde então, o analista de ações da XP Asset, Rodrigo Dias, vê grande potencial de alta para o ativo com o mercado já tendo embutido preços de energia mais baixos por conta da melhora das condições hidrológicas, reestruturação societária da empresa e redução de custos e passivos.

“A companhia vai conseguir manter uma rentabilidade de fluxo de caixa entre 10% e 15% nos próximos cinco anos”, afirma Dias.

Entre as posições adicionadas à carteira está a compra das ações da Auren Energia (AURE3), antiga Cesp, hoje controlada pelo grupo Votorantim junto com um fundo de pensão canadense (CPP Investments).

A empresa anunciou, em janeiro, a homologação do acordo entre a Cesp e a União, no qual a companhia será indenizada em R$ 1,7 bilhão pela reversão de bens não amortizados ou não depreciados em relação à Usina Hidrelétrica Três Irmãos.

“Montamos uma posição no papel um pouco antes do acordo. Vemos um enorme potencial de geração de caixa, boa governança e bom management [gestão da empresa].”

O analista vê capacidade de a empresa entregar um retorno com dividendos entre 10% e 15% e ainda continuar crescendo.

O fundo da XP ainda tem posição em papéis de bancos como Banco do Brasil e Itaú Unibanco (ITUB4).

A ação do Banco do Brasil negocia hoje com um múltiplo de preço/valor patrimonial da ação de 0,7 vezes, ou seja, o que não se justifica, na opinião de Dias, dada a rentabilidade de 21,8% do banco no terceiro trimestre no patamar dos pares privados.

“O papel do Banco do Brasil aguenta mais desaforo que o da Petrobras. Foi escolhido um pessoal de carreira para a diretoria do banco e ação está com um desconto que não se justifica”, destaca Dias.

Petrobras: comprar ou vender?

Depois de ganhar com a forte alta de 32% da Petrobras, que foi a maior pagadora de dividendos da Bolsa em 2022, a XP zerou a posição nos papéis da empresa um pouco antes da eleição ao ver maior risco de interferência do governo na estatal.

“Apesar de acharmos que o papel está muito barato, há um risco de destruição de valor que não conseguimos mensurar”, avalia Dias.

De acordo com o analista, a Petrobras e o BNDES devem ser usados como motor do crescimento do país, com o governo destacando que quer usar a estatal de petróleo como responsável pela transição energética para fontes de energia menos poluentes. “Isso é financeiramente inviável [para a Petrobras].”

Contudo, o analista da XP acredita que, se o presidente da estatal, Jean Paul Prates, adotar uma “postura razoável”, o papel pode valorizar.

Já a gestora Charles River não só manteve o papel em carteira como aumentou a posição com a queda da ação logo após a eleição, vendo o preço atual inferior ao valor justo da empresa.

“O preço [da ação da Petrobras] na nossa visão já incorpora muitos graus de conservadorismo”, afirma Marcantonio.

Segundo ele, a gestora sempre teve uma visão conservadora em relação à empresa e considerou um risco da gestão estatal e de alguns investimentos de retorno mais baixo. “Já assumimos, independentemente do governo, que alguns investimentos não serão tão eficientes”, disse o gestor.

Da mesma forma, a gestora também já assumiu alguma ineficiência no modelo de preços de combustíveis da estatal, que ainda assim não deve ter grande impacto para a empresa dado o desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda de petróleo. Esse contexto deve impedir uma queda muito grande dos preços dos combustíveis.

“Nosso modelo de avaliação já inclui alguns descontos de preços, mas, claro, se eles forem muito superiores ou se os investimentos de baixo retorno da empresa forem maiores que previmos, vamos rever nossa avaliação”, ressalta Marcantonio.

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