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Fomc, o cérebro do Fed, muda em 2023 – qual o efeito sobre o mercado?

Um terço do Fomc será substituído neste ano e o viés do grupo deve ficar menos propenso a alta de juros

Foto: Shutterstock/Pla2na

O comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, vai mudar em 2023.

O Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) é o órgão do Fed responsável pelas decisões sobre os juros dos Estados Unidos. É esse grupo que decide se as taxas sobem, caem ou ficam estáveis.

Ele é composto por 12 integrantes. Oito deles – os diretores do Fed e o presidente do Fed de Nova York – têm assento permanente no colegiado. As outras quatro vagas são rotativas e ocupadas a cada ano por um grupo diferente de presidentes regionais do Fed.

Hawkish ou dovish?

Em 2022, as autoridades que ocupavam os assentos rotativos eram os presidentes do Fed em Saint Louis, Boston, Kansas e Cleveland. Dentre eles, só Susan Collins, a presidente do Federal Reserve de Boston, era vista como neutra em relação à política monetária. Os demais eram tidos como “hawkish” – ou mais propensos a defender o combate à inflação com o aumento dos juros.

Em 2023, quem ocupará as vagas rotativas serão os presidentes do Fed em Chicago, Filadélfia, Dallas e Minneapolis. E a avaliação do mercado é de que este grupo é menos inclinado a aumentar os juros que o anterior.

Apenas um dos novos membros é visto como “hawkish” – Neel Kashkari, do Fed de Minneapolis. Os outros são considerados neutros ou “dovish” – menos propensos a defender a alta dos juros.

Os especialistas medem o viés dos membros do Fomc com base em manifestações públicas das autoridades.

No início de janeiro, por exemplo, Kashkari defendeu o rápido aumento dos juros americanos em 2022 e disse que, mesmo diante de sinais crescentes de que a inflação nos EUA atingiu um pico, “será apropriado continuar a aumentar as taxas pelo menos nas próximas reuniões até que haja confiança” neste cenário.

Patrick Harker, do Fed da Filadélfia, por sua vez, é bem mais contido nas previsões sobre como lidar com a inflação.

Em sua manifestação pública mais recente, em novembro do ano passado, ele enfatizou que qualquer decisão sobre os juros “dependerá de dados” e que o Fed precisa “ver um declínio sustentado em uma série de indicadores de inflação antes de parar de apertar a política monetária”.

O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, assumiu o cargo em 9 de janeiro e ainda não se manifestou publicamente a respeito da política monetária americana após esta data. Lorie Logan, a presidente do Fed de Dallas, também se posiconou pouco a esse respeito desde que chegou ao cargo, em meados do ano passado.

Mudança no Fomc vai fazer diferença?

Ainda que os novos membros do comitê de política monetária do Fed sejam menos propensos ao aumento dos juros, especialistas veem pouca chance de isso alterar dramaticamente a trajetória esperada para as taxas neste ano.

Segundo Paul Ashworth, economista da consultoria Capital Economics para a América do Norte, a troca dos membros poderia, na teoria, alterar a forma como o Fed reage aos sinais de desaceleração da inflação. “Mas, na prática, é difícil de ver quando essa rotação fez uma diferença significativa”, apontou.

Vale ressaltar também que, embora o Fomc seja composto por apenas 12 membros, os outros sete presidentes regionais do Federal Reserve participam das reuniões do colegiado e, mesmo sem direito a voto, ajudam na discussão sobre a política monetária.

Ou seja: a decisão final do órgão é influenciada por autoridades não votantes. Isso também é verdade em relação à projeção do Fed para a trajetória dos juros.

Os dados mais recentes, divulgados em dezembro, mostram que a expectativa do banco central americano era de que, ao fim de 2023, a taxa básica de juros dos EUA chegaria a 5,1%. Esse número é uma mediana das projeções colhidas junto aos diretores do banco central e aos presidentes regionais.

A previsão mais baixa é de 4,9% e a mais alta, de 5,6%. Trocando em miúdos, nenhuma das autoridades esperava cortes nos juros, seja na ala “hawkish” ou na ala “dovish“, assinala o JP Morgan, em relatório.

Juros podem subir menos?

A vasta maioria dos investidores acha que a próxima alta de juros do Fed, que será anunciada nesta quarta-feira, 1º de fevereiro, será de 0,25 ponto porcentual, segundo dados da ferramenta CME FedWatch.

Seria a segunda desaceleração consecutiva no ritmo de alta. Na decisão anterior, anunciada no fim do ano passado, o aumento havia sido de 0,50 p.p., já marcando uma desaceleração em relação aos aumentos de 0,75 ponto que vinham sendo praticados pelo Fed.

Essa expectativa de desaceleração, porém, reflete principalmente o fato de que em dezembro os EUA tiveram uma leve deflação, de 0,1%, em relação a novembro, assim como aumentos menores do que se previa nos salários dos trabalhadores americanos, segundo Victor Inoue, Gerente de Produtos na Wit Invest.

Ashworth, da Capital Economics, ressalta que essa projeção já embute a visão do mercado sobre a nova formação do comitê.

Para André Meirelles, diretor de alocação e distribuição na InvestSmart XP, o mercado parece estar precificando um Fomc mais dovish em 2023. “Quando olhamos para curva de juros dos Estados Unidos, percebe-se que há expectativa de corte de juros no final do ano, algo que vai contra os comunicados mais recentes do Fed.”

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