A Bolsa teve a segunda queda consecutiva no pregão de ontem, influenciada pela despreocupação que o governo Lula vem mostrando com as expectativas do mercado e pelo mau humor global com o risco de uma recessão mundial.
Nesta quarta (4), os investidores devem monitorar entrevistas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ata da última reunião do Fomc (comitê de política monetária do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
Segundo o Broadcast e a Folha de S. Paulo, o ministro discute com sua equipe um cardápio de medidas que poderiam elevar a arrecadação e reduzir despesas – se todas fossem adotadas, o que é improvável, o impacto poderia ser de até R$ 223 bilhões nas contas públicas.
Somente uma parte disso poderia ser feita através de decreto, com o restante dependendo de aval do Congresso. Além disso, a expectativa é que parte dessas ações enfrentem resistência dentro do próprio PT (Partido dos Trabalhadores).
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A expectativa é que Haddad fale mais detalhadamente sobre esses planos – ontem essa informação não melhorou o humor do mercado, com a sensação dos investidores de que o ministro está fraco e isolado, após não conseguir evitar a prorrogação da desoneração de combustíveis.
Logo pela manhã, às 8h30, ele se reúne com o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney. Ontem, o dirigente da entidade ouviu críticas públicas do ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), aos juros cobrados no crédito consignado a aposentados.
As falas de Lupi incluíram uma sugestão de reversão da reforma da Previdência, com o pedetista negando a existência de déficit nas contas públicas das aposentadorias, e ajudaram o mercado a cair ontem.
Haddad ainda recebe, às 9h30, a nova presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, e participa da posse do vice-presidente, Geraldo Alckmin, como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – a cerimônia acontece às 11h no Palácio do Planalto.
Às 14, o ministro da Fazenda concede entrevista ao jornal Valor Econômico.
Por que isso importa?
Quando o risco de descontrole das contas públicas de um país se eleva, investidores passam a pedir taxas de juros maiores lá na frente para comprar seus títulos públicos – ou, de forma mais simples, para emprestar dinheiro ao governo. Isso tende a reduzir o valor das ações de empresas negociadas em Bolsa e a desvalorizar o real.
Renúncia de Paes de Andrade
Os investidores ainda repercutem a informação de que o presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, teria renunciado ao comando da estatal para assumir um cargo no governo do Estado de São Paulo – o movimento já era esperado.
Segundo informações do jornal Valor, o executivo permanecerá no cargo até o seu sucessor assumir a cadeira – o Ministério de Minas e Energia informou ontem oficialmente ao conselho da Petrobras que o senador Jean Paul Prates (PT-RN) será o indicado.
Ata do Fomc
Lá fora, os olhos estarão voltados para a divulgação da ata da última reunião do Fomc, comitê de política monetária do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.
O documento será publicado às 16h. No encontro realizado em meados de dezembro, o Fed desacelerou a alta dos juros para 0,50 ponto percentual, depois da sequência de quatro aumentos de 0,75 ponto percentual.
A ata deve confirmar esse novo ritmo do aperto monetário, mas a dúvida agora é em qual momento o BC americano conseguirá encerrar o ciclo.
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Às 12h, o mercado monitora a divulgação da pesquisa JOLTs (Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Mão de Obra), que mostrará o número de vagas em aberto na economia dos EUA.
O dado mais importante para recalibrar as expectativas para juros é o payroll de dezembro, que será publicado na sexta (6) e que mostrará a criação de vagas e taxa de desemprego na maior economia do mundo – a expectativa é de desaceleração em relação a novembro.
Por volta das 7h45 desta quarta, os índices futuros americanos operavam em alta: o Dow Jones subia 0,22%, o S&P 500 avançava 0,34% e o Nasdaq ganhava 0,53%. O índice europeu Euro Stoxx 50 era negociado em alta de 1,56%.