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Estrangeiro investe menos na Bolsa em novembro de olho em contas do governo e na economia da China

Agravamento do mercado local contrasta com cenário global positivo com percepção de desaceleração dos juros americanos

Foto: Shutterstock/FOTOGRIN

Não são apenas os investidores brasileiros que estão apreensivos com as contas públicas a partir de 2023. O temor de descontrole fiscal do governo eleito também afugentou o investidor estrangeiro do mercado local, movimento que tende a se manter até que os rumos da economia estejam mais claros.

Dados da B3 mostram que em novembro os gringos mais compraram do que venderam ações e outros ativos de renda variáveis. No entanto, o saldo destes investimentos somou R$ 2,9 bilhões, o valor mais baixo desde setembro (R$ 585 milhões).

Vale ressaltar que em outubro, mês das eleições, os aportes internacionais somaram R$ 14,1 bilhões, sendo R$ 1,9 bilhão apenas no dia seguinte à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência do Brasil.

Analistas do mercado afirmam que esse aparente fim de lua-de-mel entre o investidor estrangeiro e o mercado brasileiro é resultado direto dos primeiros sinais emitidos pela equipe de transição do governo, sobretudo dos planos para aumentar os gastos públicos.

“No primeiro momento pós-eleição, o investidor viu a vitória de Lula como algo positivo. Mas depois, com as notícias do front fiscal surgindo, as pessoas ficaram mais cautelosas”, explica Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho

O futuro governo trabalha para aprovar a PEC da Transição, que permitiria gastos sem limites com programas como o Auxílio Brasil. Hoje, as despesas com o programa precisam respeitar o teto de gastos – regra que impede as despesas públicas de crescerem mais que a inflação.

No entanto, se o Auxílio Brasil continuar respeitando o teto, será inviável manter o valor do benefício em R$ 600 mensais no ano que vem, porque o orçamento de 2023 foi montado sem levar em consideração esta hipótese.

Se a PEC for aprovada, a estimativa é de que cerca de R$ 200 bilhões em despesas passem a operar fora do teto – sendo a maior parte delas (R$ 175 bilhões) referentes ao Auxílio Brasil. O furo da regra é visto pelo mercado como um sinal de pouco compromisso do governo eleito com a redução da dívida pública e o controle da inflação.

Além disso, é preciso levar em consideração também o contexto externo, segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

Foi em novembro que ocorreu o agravamento da pandemia de Covid-19 na China e que começaram a aumentar as preocupações com a recuperação econômica do país, que é grande consumidor das commodities exportadas pelo Brasil e por empresas que estão na Bolsa, como a Vale. “É natural que os investidores não façam grandes alocações quando o mercado está volátil”, pontua.

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Ao mesmo tempo, novembro foi marcado por uma melhora na percepção sobre o risco nos Estados Unidos, especialmente pela expectativa de desaceleração da alta dos juros pelo Fed (o banco central americano), após a sequência de apertos ao longo de 2022.

Dados recentes da inflação melhores do que o esperado pelo mercado tiraram parte da pressão sobre os juros, tendência confirmada por Jerome Powell, presidente da autoridade monetária, em discurso nesta quinta-feira (1).

Inversão de quadros

Apesar da predominância de cautela até que os próximos passos da política fiscal brasileira sejam conhecidos, Rostagno afirma que a atuação do Congresso tende a diminuir a aversão dos investidores internacionais ao mercado local.

A expectativa de que os congressistas freariam exageros do próximo governo em relação aos gastos públicos já havia ajudado a Bolsa após o primeiro turno, quando o resultado das urnas mostrou a eleição de deputados e senadores mais voltados ao centro e à direita do espectro político.

Esta previsão já começou a se materializar durante a transição, com as indicações dos congressistas de que pretendem impor restrições aos pedidos do governo Lula e evitar que o próximo governo receba um cheque em branco para gastar.

O cenário internacional, porém, deve jogar contra a Bolsa brasileira. Segundo o estrategista-chefe do Mizuho, o Fed terá mais dificuldade do que se espera para domar a inflação, e isso pode resultar em juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos.

Dados do mercado de trabalho americano publicados hoje reforçaram essa perspectiva, ao virem muito acima do esperado pelo mercado, o que indica que a economia ainda está bastante aquecida e ainda não sentiu o efeito da alta de juros.

O mercado estima que os juros americanos, que hoje estão entre 3,75% e 4,00% ao ano, vão subir para a faixa de 4,75% a 5%.

“Achamos que o Fed tem que ir além, e na medida que isso for se materializando, a tendência é o mercado ficar mais cauteloso e diminuir o apetite por risco no Brasil e países emergentes no geral”, diz Rostagno.

A opinião é compartilhada por Borsoi, da Nova Futura, que cita a constante mudança de humor dos investidores com a expectativa dos juros americanos.

“Há uma volatilidade muito alta em percepção ao Fed. Uma semana as coisas parecem bem, e hoje dados do payroll mais forte já mostram que não é bem assim e que precisa de mais moderação”, afirma.

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