Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Demanda por Tesouro Direto cai em outubro, mas pode se recuperar com chance de juros maiores

Aportes feitos pelos investidores foram os mais baixos desde maio de 2021

Foto: Shutterstock/rafastockbr

A busca por títulos do Tesouro Direto diminuiu em outubro pelo terceiro mês seguido, com queda na demanda em todas as categorias, segundo dados do Ministério da Economia divulgados nesta quinta-feira (25).

Os números mostraram que as vendas de títulos pelo governo superaram os resgates feitos pelos investidores em R$ 774,1 milhões. Este, no entanto, foi o pior saldo desde maio do ano passado, quando as vendas líquidas foram de R$ 597,2 milhões.

A perda de interesse dos investidores pelo Tesouro Direto coincide com a pausa no ciclo de alta dos juros – que diminui o apelo dos investimentos nos títulos vinculados à Selic, a taxa básica de juros -, a deflação na economia brasileira – que é desfavorável aos títulos corrigidos pela inflação – e o período eleitoral – que traz incerteza sobre o cenário econômico e joga contra o investimento em papéis prefixados.

A situação, porém, pode se inverter nos próximos meses. A recente disparada dos juros futuros e o retorno das discussões sobre novos aumentos da Selic, dadas as dúvidas sobre o grau de compromisso do governo eleito com o equilíbrio das contas públicas, devem atrair novamente os investidores para o Tesouro Direto.

Cenário incerto

Ricardo Teófilo, head de renda fixa da Órama, destaca que o comportamento dos juros futuros está atrelado às respostas que o novo governo vai dar ao mercado financeiro.

A principal preocupação é como o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai tratar a questão fiscal, considerada pelo mercado financeiro como um dos principais problemas do país.

Os sinais dados até agora foram de que o próximo governo quer uma licença para remover, por um período indeterminado, gastos sociais como o Auxílio Brasil das restrições impostas pelo teto de gastos – regra que impede as despesas públicas de crescerem mais que a inflação.

Isso porque, durante a campanha, tanto Lula quanto Bolsonaro prometeram manter o pagamento de R$ 600 mensais do Auxílio Brasil no ano que vem, mas esta despesa não estava incluída no orçamento de 2023.

O gasto adicional também estava fora da conta do mercado, que passou a enxergar na despesa extra um elemento inflacionário e que pode levar a novas altas nos juros.

Saiba mais:
Tesouro Direto: prefixado para 2025 passa de 14%; é hora de comprar?

“Tudo isso deu uma tumultuada no cenário e passou a se precificar um novo aumento dos juros, revertendo as discussões anteriores sobre a possibilidade de corte da taxa”, afirma Teófilo “Caso esse cenário se mantenha, e não há nenhuma definição, é possível que fluxo para renda fixa retorne mais intenso”.

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo, segue na mesma linha ao condicionar a melhora do cenário de juros às definições da nova política fiscal e dos nomes que serão indicados para compor a equipe econômica.

“Se o governo optar por uma política fiscal muito expansionista, a tendência é o cenário ficar mais inflacionário”, afirma.

Atualmente, o mercado acha que a inflação terminará o ano que vem em 5,01%, acima do limite de 4,75% ao ano previsto no regime de metas do Banco Central. Segundo Costa, as previsões tendem a aumentar se persistirem as dúvidas a respeito de como o próximo governo vai controlar a dívida pública.

“A tendência é revisar para cima. O quanto poderia ser, ainda não tem como responder, já que não se sabe o que o governo vai fazer com a questão da política fiscal”, diz.

Nesse momento de incerteza, o sócio da Monte Bravo não recomenda aportes no Tesouro Direto em opções prefixadas e indexadas ao IPCA, os mais sensíveis às mudanças dos juros.

“A questão da PEC pode ser resolvida em questão de duas a três semanas. Isso vai tirar uma incerteza grande do mercado. E ao longo de dezembro o novo governo deve anunciar os novos ministérios, o que vai ajudar a dar clareza ao cenário”, explica.

Tesouro Direto ligado à inflação sofreu mais

Os títulos do Tesouro Direto relacionados à inflação foram os mais prejudicados pela queda na demanda em outubro. O Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal) teve o pior resultado, com um resgate líquido de R$ 57,8 milhões, ante a entrada de R$ 86,7 milhões em setembro.

Já as vendas líquidas de títulos IPCA+ com juros semestrais (NTN-B) somaram R$ 18,8 milhões em investimentos, queda de 70% em relação ao mês anterior.

Os papéis de IPCA já haviam sido destaque negativo em setembro, segundo mês seguido de deflação na economia brasileira.

Como parte da remuneração destes títulos cresce quando a inflação aumenta, em períodos de deflação – ou seja, de queda nos preços -, acontece o inverso, e há corrosão do rendimento proporcionado pelos papéis. O

Em outubro estava previsto o fim deste efeito negativo do IPCA, o que acabou se confirmando com a alta de 0,59% no índice, acima do esperado pelos analistas.

Selic e prefixados também recuam

Os papéis do Tesouro Selic (LTF), que tradicionalmente são os mais procurados do Tesouro Direto, registraram a entrada líquida de R$ 753,4 milhões em investimentos em outubro, queda de 19% ante setembro (R$ 909,4 milhões).

A opção é a mais impactada pela pausa na alta da taxa Selic porque oferece um rendimento semelhante ao da taxa básica de juros. A Selic está parada em 13,75% ao ano desde o início de agosto, após passar quase um ano e meio em alta.

Os papéis do Tesouro Direto indexados à taxa básica de juros são os mais indicados em momentos de forte incerteza e de expectativa de alta de juros, pois a remuneração que oferecem aumenta na mesma proporção.

O alto grau de liquidez e o acompanhamento da taxa de juros também fazem com que os papéis indexados à Selic sejam os mais recomendados para investidores mais conservadores e para a construção de uma reserva de emergência.

As opções prefixadas viram os aportes em outubro na comparação com setembro. As vendas líquidas de papel prefixado (LTN) pelo Tesouro caíram de R$ 102,8 milhões para R$ 50,9 milhões.

A opção prefixada com juros semestrais (NTN-F) teve retração mais suave. Em outubro, o papel registrou saldo positivo de R$ 26,9 milhões, queda de 24% ante setembro (R$ 35,4 milhões).

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.