Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

De olho no potencial de alta das ações da Eletrobras (ELET3), analistas veem vantagem em usar FGTS na oferta

Só neste ano, os papéis ordinários da estatal se valorizaram cerca de 30%

Leandro Tavares

Leandro Tavares

Foto: Shutterstock

Assim como ocorreu nas ofertas de ações da Petrobras (PETR4; PETR3) e da Vale (VALE3), o processo de capitalização da Eletrobras (ELET3; ELET6) permite ao investidor pessoa física utilizar o saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para comprar as ações da companhia via fundos.

No entanto, é preciso avaliar se vale a pena entrar no papel, uma vez que a renda variável tem riscos relacionados ao cenário macroeconômico, como de taxa de juros e inflação, o que gera incerteza sobre a renda a ser gerada, além do próprio desempenho da empresa em questão.

Do ponto de vista de retorno, os recursos do FGTS são remunerados a 3% ao ano e pela variação da TR (taxa referencial), que em maio foi de apenas 0,1663%, além da parcela do resultado do fundo distribuída aos trabalhadores detentores de saldo em 31 de dezembro de cada ano. Em 2021, a rentabilidade do fundo de quem investe os recursos do FGTS (FI-FGTS) foi de 7,09%, abaixo da inflação de 10,06% medida pelo IPCA.

Leia também:
Eletrobras (ELET3): 13 perguntas e respostas para quem pretende participar da oferta de ações 

Vale a pena investir?

De olho apenas nos fundamentos da Eletrobras, analistas ouvidos pela Agência TradeMap enxergam potencial de alta das ações caso a privatização seja confirmada, mesmo com a valorização da ordem de 30% dos papéis só neste ano.

Fonte: TradeMap
Valorização dos papéis da Eletrobras (ELET3) desde o início de 2022. Fonte: TradeMap

O mercado espera, que com a capitalização, o papel ELET3 possa se valorizar até 50% em 12 meses. O potencial considera o preço de R$ 43,33 desta quinta-feira (2) e as projeções da Refinitiv disponíveis na plataforma do TradeMap.

“Reconhecemos que o cenário de sucesso da capitalização poderia destravar significante valor para a Eletrobras”, apontou o Goldman Sachs, em relatório divulgado em maio.

O banco tem preço-alvo de R$ 65 a R$ 67 para as ações ordinárias da Eletrobras (upside de 54%) e de R$ 71,8 a R$ 74,6 para os papéis preferenciais (potencial de alta de 75%) em 12 meses, considerando a capitalização.

Sem a oferta, o banco projeta os papéis cotados em R$ 46 (no caso dos ordinários) e R$ 51 (para os preferenciais).

Com isso, utilizar o dinheiro do FGTS, na visão dos analistas, pode ser benéfico porque, além de o rendimento do fundo de garantia ser baixo e menor até que a poupança, outras privatizações do passado foram favoráveis aos acionistas.

A Vale, por exemplo, privatizada em 1997, quando o governo federal transferiu o controle para um grupo de empresas privadas e fundos de pensão pelo valor de R$ 3,3 bilhões, viu suas ações valorizarem muito nos últimos 25 anos.

“De lá para cá, a ação da Vale valorizou cerca de 2.000% e é isso que o mercado quer ver de novo. A Eletrobras é uma empresa gigante brasileira, estatal assim como era a Vale, com um potencial operacional enorme e que vai destravar valor através da privatização”, defende o analista do time de Research da Warren, Gustavo Pazos.

Na oportunidade, o governo também disponibilizou a utilização dos recursos do FGTS e, na visão de Pazos, quem investiu na Vale, se deu bem.

Para Vicente Koki, analista de investimentos do setor elétrico da Mirae Asset, vale a pena investir nos papéis da Eletrobras principalmente com os recursos do FGTS. “O fundo rende muito pouco, atualiza muito pouco. É verdade que os juros subiram bastante nos últimos meses, mas, de qualquer forma, esse tipo de investimento vale a pena.”

O analista da Warren pondera, no entanto, que, por mais que seja uma ação do setor elétrico, conhecida no mercado por ser defensiva, ou seja, para proteção de carteira de investimento, o risco sempre existe. “Estamos falando de um investidor que vai tirar dinheiro do seu FGTS, que é um fundo de segurança, e investir num ativo de risco.”

Trava de segurança e privatização

Além do risco inerente da renda variável, Pazos, da Warren, lembra que o investidor que entrar nos papéis da Eletrobras durante o processo de capitalização deverá passar por um lock-up de um ano com os investimentos, conforme prevê o prospecto.

O lock-up é uma “trava de segurança”, que impede que os acionistas vendam suas participações na empresa por um determinado período. Geralmente, tem como objetivo proteger os acionistas minoritários, uma vez que os investidores de maior porte, como gestores e controladores, costumam ter mais acesso às informações das empresas.

Saiba mais:
O que é lock-up e como funciona essa trava para a venda de ações de um IPO

Outro aspecto que pode adicionar risco ao investimento é uma quebra de expectativa quanto à privatização. Caso ela não ocorra, o analista da Warren vê uma provável queda nos papéis, e enxerga que a valorização das ações da empresa nos últimos cinco anos – de cerca de 118% desde o primeiro dia de 2017, conforme gráfico a seguir – ocorreu justamente pela expectativa pela privatização. 

Fonte: TradeMap
Desempenho dos papéis da Eletrobras (ELET3) nos últimos 5 anos na Bolsa. Fonte: TradeMap

Pazos ressalta, contudo, que acha pouco provável que a privatização não aconteça. “Estou cético quanto a isso, mas estamos em ano eleitoral, com uma polarização grande desde as últimas eleições e agora não vai ser diferente, e isso pode tardar um pouco o processo”, analisa.

O futuro da Eletrobras

Além de enxergarem uma boa oportunidade para entrar nos papéis, tanto Koki quanto Pazos concordam em outro aspecto – a privatização será favorável para o operacional da companhia.

Atualmente, a Eletrobras responde por mais de 30% da capacidade instalada de geração do país, além de mais de 40% das linhas de transmissão.

De acordo com o analista do setor elétrico da Mirae Asset, além da questão operacional, o governo não tem capacidade de bancar os investimentos necessários que a Eletrobras precisa para maturar os ativos do portfólio e nem para aquisição de novos, seja via leilões ou mercado.

O setor continuará precisando de investimentos em infraestrutura e a Eletrobras deve continuar tendo uma participação relevante no setor elétrico”, argumenta Koki.

O analista da Warren, por sua vez, ressalta que a empresa ganhará capacidade de investimento e de gestão com a privatização, o que nunca conseguiu de forma adequada por ser uma estatal.

Oferta de bilhões

A oferta de ações da Eletrobras tem como objetivo aumentar o capital da empresa e, ao mesmo tempo, diluir a participação da União que, dessa forma, continuará como principal acionista, mas sem a maioria dos votos. Serão emitidas 627,7 milhões de ações na oferta primária e 69,8 milhões, na secundária, totalizando 697,5 milhões de papéis.

A operação deve movimentar cerca de R$ 30 bilhões. Se houver a colocação de um lote suplementar, que corresponde a até 15% da oferta inicial, o valor total ficará em torno de R$ 35 bilhões.

FGTS a partir de R$ 200

É possível usar até 50% do saldo de cada conta do FGTS (lembrando que cada empresa gera uma conta diferente) para investir nas ações da Eletrobras, sendo que o aporte mínimo é de R$ 200.

Até R$ 6 bilhões do fundo podem ser utilizados para esse fim. Essa participação se dará pelos Fundos Mútuos de Privatização ligados ao FGTS (FMP-FGTS), em processo já registrado na privatização da Vale e na capitalização da Petrobras.

É importante lembrar que a regra permite que até 50% do saldo das contas do FGTS seja investido em fundos FMP. Então caso o trabalhador tenha aportado nos fundos de privatização da Vale e da capitalização da Petrobras, terá que descontar esse valor do limite de 50%.

Quando será?

O período de reserva começou nesta sexta-feira (3) e vai até 8 de junho. Nesse intervalo, investidores devem informar se possuem interesse em participar da oferta e o valor que estão dispostos a investir. Para isso, é preciso ter conta em uma corretora de valores que fará a intermediação. A fixação do preço da oferta irá ocorrer no dia 9 de junho.

⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.