O preço do barril de petróleo no mercado internacional, embora tenha perdido força ao longo dos últimos meses, após ter chegado ao pico de US$ 133 no mês de março, se mantém firme em um patamar elevado, próximo dos US$ 100, bem acima da cotação média do ano passado, de cerca de US$ 70,18, ou do nível pré-pandemia, de US$ 60.
A commodity se beneficia não apenas do aumento da demanda proporcionada pela reabertura da economia em todo o mundo, viabilizada pelo avanço da vacinação, mas também da guerra entre russos e ucranianos, que estourou no início do ano e restringiu a produção de petróleo da Rússia, alvo de sanções internacionais.
No Brasil, engana-se quem pensa que a Petrobras (PETR4), uma gigante estatal, é a única a surfar o avanço dos preços do petróleo, com seus lucros trimestrais históricos que superaram a casa dos R$ 40 bilhões em 2022.
Na Bolsa, há outras três petrolíferas brasileiras, do setor privado e de menor porte, que também se aproveitam da onda favorável: Prio (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3) e PetroReconcavo (RECV3), apelidadas carinhosamente pelo mercado como “petro juniors” ou “minipetros“.
O efeito positivo nas três é perceptível nos resultados de cada uma. No terceiro trimestre, a Prio teve o lucro líquido multiplicado por seis em relação a igual período do ano passado, para R$ US$ 153 milhões, enquanto a PetroReconcavo viu seus ganhos crescerem 824%, para R$ 211,8 milhões. A 3R, por sua vez, saiu do vermelho de um ano atrás para lucrar R$ 469,8 milhões no terceiro trimestre deste ano.
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O embargo´internacional ao petróleo russo começou logo após o início do conflito, em um esforço de grandes potências do Ocidente para forçar o presidente Vladimir Putin a interromper a guerra. Em maio, por exemplo, a União Europeia deixou de importar cerca de 90% do petróleo da Rússia, cuja produção é uma das maiores do mundo, com uma participação de 10% da oferta global.
O banimento do petróleo russo na União Europeia deve acabar em dezembro, mas será substituido por outras restrições. Junto com os Estados Unidos, os europeus pretender impor um teto ao preço do petróleo que vem da Rússia, a partir do dia 5 de dezembro, período em que um novo pacote de sanções será colocado em prática.
Para o analista de commodities da Western Asset, Patrick Conrad, o embargo ao petróleo russo é benéfico para as petrolíferas de menor porte do Brasil não somente porque eleva o preço, mas também porque viabiliza uma maior inserção dessas empresas no mercado internacional, para atender os países que antes compravam da Rússia.
“A Rússia produz mais ou menos 10 milhões de barris de petróleo por dia, dos quais exporta metade. Desses cinco milhões, antes da invasão à Ucrânia, três milhões iam para o mercado europeu, principal região que está impondo as sanções ao petróleo russo”, avalia Conrad.
Das três minipetros, só Prio e 3R fazem algum tipo de exportação, mas não revelam dados em seus balanços. Em agosto, aliás, o CEO da Prio, Milton Rangel, disse ao Valor Econômico que já percebia um aumento da demanda após sanções contra a Rússia. Segundo ele, a produção brasileira de petróleo estava ajudando a substituir parte da produção da Rússia, uma vez que o petróleo russo tem similaridades com o que é extraído no pós-sal do Brasil.
A Petroreconcavo é a única das três que não exporta porque tem um contrato de exclusividade de fornecimento para a Petrobras, que se encerra em agosto do ano que vem.
No entanto, em entrevista à Agência TradeMap, o diretor de relações com investidores da companhia, Marcelo Cruvinel, não descartou a possibilidade de entrar no mercado externo após o fim da relação exclusiva com a estatal.
“Estruturar uma área de comercialização e estruturar isso para fora do Brasil é uma alternativa que podemos tomar, mas até então nossos contratos são com a Petrobras”, disse o executivo.
Para entrar no mercado internacional, no entanto, é preciso ser competitivo. E as minipetros brasileiras têm conseguido ter custos menores na hora de extrair o petróleo nos campos de exploração, destaca o assessor de investimentos Pedro Queiroz, da SVN, escritório de agentes autônomos ligado à XP.
“As minipetros se beneficiam desse cenário de petróleo mais alto porque possuem um lifting cost muito mais baixo. A tese dessas empresas é reduzir esse custo ainda mais, aumentando suas margens financeiras”, diz Queiroz.
A Prio, por exemplo, apresentou um custo de extração, chamado no mercado de lifting cost, de US$ 9,5 por barril no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 22,7% relação aos US$ 12,30 do mesmo período do ano passado e sendo o menor patamar já registrado pela empresa. A PetroReconcavo, por sua vez, teve recuo de 8%, para US$ 11,55.
A única que apresenta alta é a 3R, que viu o custo de extração saltar 68% no terceiro trimestre ante igual período do ano passado, para US$ 14,30. Segundo a empresa, o aumento do custo se deve à incorporação de novos ativos. A dinâmica se intensificou nos últimos meses e deve se estender até o encerramento da operação de compra do Polo Potiguar, vendido pela Petrobras.
A empresa acredita que o processo de diluição de custos fixos ocorrerá gradativamente à medida que implementa as atividades de revitalização e redesenvolvimento dos campos adquiridos.
Quem está melhor?
Mas alguma das minipetros está melhor posicionada para se aproveitar do embargo ao petróleo russo? Para Conrad, da Western Asset, a Prio leva uma pequena vantagem por concentrar sua exploração em campos localizados no oceano, chamados de offshore, que podem lhe proporcionar custos menores.
A Prio possui quatro instalações no oceano: Campo de Frade, Campo de Polvo, Campo de Tubarão Martelo e Wahoo. Até o início de 2020, a Petrobras possuía 30% do primeiro campo, mas agora a Prio administra todo o projeto. No terceiro trimestre deste ano, a empresa atingiu uma produção média de 45,7 mil barris equivalentes de petróleo (boe, na sigla em inglês), maior que a média de 31,6 mil boe apresentada em todo ano de 2021.
“A Prio pode tirar o óleo do fundo do mar e já mandar para a exportação, sem nem precisar vir até o continente”, diz Conrad.
E para onde vai o petróleo russo?
Apesar do embargo internacional aplicado pelo Ocidente, a Rússia tem conseguido exportar para outros países, como China e Índia. Conrad, da Western, acredita, contudo, que esses países não conseguirão absorver a totalidade das exportações russas, já que possuem contratos de fornecimento de longo prazo com países do Oriente Médio.
“Com a China e a Índia absorvendo somente parte das exportções russas, estimamos que de 500 mil a 2 milhões de barris russos deixarão de ser exportados por dia. Com essa falta, o mercado de óleo fica ‘esticado’, o que tende a reagir no preço”, comenta o analista de commodities.
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Embora a oferta apertada beneficie as minipetros, esse cenário pode gerar pressões inflacionárias no mundo, incluindo o Brasil, país dependente do transporte terrestre, que utiliza combustíveis derivados do petróleo.
Queiroz, da SVN, ressalta que o país teve um pico de inflação quando o petróleo passou dos US$ 100, e acredita que caso o Brent volte a patamares próximos aos US$ 120, é provável que o novo governo eleito, que possui uma bandeira de compromisso social, possa intervir no preço praticado internamente de alguma forma.
Conrad, da Western, também vê um petróleo acima dos US$ 100 no ano que vem, mas o movimento irá depender do quanto as grandes economias globais irão aumentar seus juros, bem como a revisão ou não das políticas de Covid-zero na China.