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Com Petrobras (PETR4) perto de concluir venda de ativos, minipetros devem colocar casa em ordem

Para alguns analistas ouvidos pela Agência TradeMap, o momento das petrolíferas é de concluir essas aquisições recentes e integrar as operações

Foto: Shutterstock

Quem acompanha o noticiário de empresas nos últimos anos percebeu um movimento muito característico no setor de petróleo: empresas independentes do setor — como 3R Petroleum (RRRP3), Prio, a antiga PetroRio (PRIO3), e PetroRecôncavo (RECV3) — têm comprado diversos campos que eram da Petrobras (PETR4) para aumentar sua produção.

Contudo, essa situação pode já ter chegado ao fim. Isso porque a petrolífera estatal já vendeu os campos que pretendia, e, para alguns analistas ouvidos pela Agência TradeMap, o momento é de concluir essas aquisições recentes e integrar as operações.

“A maioria dos campos que estavam leiloados já foi arrematada. Hoje não vejo mais muito desejo das empresas de adquirirem outros campos. Elas já estão com dívidas e têm que digerir essas aquisições”, avalia o analista de investimentos e head de análise fundamentalista da Quantzed, Vitorio Galindo.

Na visão do analista Carlos Alves, sócio da gestora Polo Capital, este é um “belo desafio” a ser encarado pelas juniores do petróleo. Ele cita que um movimento que pode acontecer, principalmente por parte da PetroRecôncavo, é fazer ofertas a players privados que não estejam conseguindo pagar ou operar campos comprados da Petrobras.

“Se isso se confirmar, pode ser bom, pois ela é o único player ‘na mesa’ com capacidade financeira”, comenta Alves. Isso porque a 3R Petroleum já fez diversas aquisições e a Prio, que realizou apenas duas compras, a do Campo de Frade e do Campo de Polvo, fez compras mais “pontuais e calculadas” e não deve se aventurar no mercado num futuro próximo.

Vale ressaltar que a 3R e a PetroRecôncavo atuam primordialmente em campos chamados de onshore, ou seja, aqueles que se encontram dentro do continente. Já a Prio tem uma atuação mais focada em campos no oceano, chamados de offshore.

De 2019 pra cá, a 3R Petroleum comprou ou assinou contratos para adquirir nove campos, e o avanço da produção pode ser visto nos balanços recentes da empresa. Em 2021, por exemplo, a 3R teve uma produção média diária de 8,5 mil barris de óleo equivalente (boe). Já no segundo trimestre deste ano, a produção foi de 12,3 mil boe por dia.

Já a Prio possui quatro instalações – Campo de Frade, Campo de Polvo, Campo de Tubarão Martelo e Wahoo. Até o início de 2020, a Petrobras possuía 30% do primeiro campo, mas agora a Prio administra todo o projeto. Em 2021, a empresa teve uma produção média diária de 31,6 mil boe, e no segundo trimestre deste ano atingiu mais de 33,0 mil boe.

Um ponto importante a se ressaltar sobre a empresa é que esses campos não foram adquiridos da Petrobras, como lembra o gestor da Mantaro Capital, Leonardo Rufino.

A petrolífera independente até se dispôs a comprar o Campo de Albacora da estatal, mas não finalizou a compra. A Prio chegou a elevar a proposta pelo ativo após identificar que a reserva é maior do que a inicialmente calculada. Mesmo assim, a Petrobras rejeitou a proposta.

Já a PetroRecôncavo opera em dois ativos. “No Ativo Bahia, operamos 26 campos de concessão própria. No Ativo Potiguar, por meio da Potiguar E&P, operamos 32 campos de concessão própria e temos participação em 1 concessão operada por parceiros.”, afirma a empresa em seu site.

Petrobras pode mudar com novo governo?

A Petrobras sempre anda de mãos dadas com uma questão que incomoda alguns investidores – o risco de intervenção do governo. Isso porque a empresa é estatal, e tem o governo federal como principal acionista.

Somado a isso, a liderança do ex-presidente Lula nas pesquisas eleitorais já começa a movimentar as apostas de como seria a gerência de um novo governo petista na administração da empresa.

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De acordo com pesquisa feita pela Genial Investimentos em parceria com a Quaest, divulgada na madrugada desta quarta-feira (21), Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, lidera a corrida pela Presidência com 44% das intenções de voto. Na segunda posição, Jair Bolsonaro, do PL, tenta a reeleição e marca 34% das intenções.

O ex-presidente e líder nas pesquisas cita a estatal em um parágrafo do seu plano de governo. De acordo com o documento, a empresa terá seu plano estratégico e de investimento orientado para a “segurança energética, a autossuficiência nacional em petróleo e derivados, a garantia do abastecimento de combustíveis no país”.

“Portanto, a Petrobras voltará a ser uma empresa integrada de energia, investindo em exploração, produção, refino e distribuição, mas também atuando nos segmentos que se conectam à transição ecológica e energética”, diz o plano de governo petista.

Jair Bolsonaro, vice-líder nas pesquisas, não cita a empresa e apenas fala de privatização de estatais, sem entrar em detalhes. No entanto, há alguns meses o governo começou a estudar a venda da Petrobras ao setor privado

Petrobras de volta ao refino?

Embora tenha assumido compromisso junto ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de vender várias de suas refinarias, tanto os planos da Petrobras quanto os do PT preveem investimentos nessa área nos próximos anos.

A ex-presidente Dilma Rousseff, do PT, tanto quando atuou como chefe de estado quanto quando foi ministra de Lula, fez investimentos em refinarias que custaram muito aos cofres públicos.  Uma delas é a Abreu e Lima, conhecida como RNEST e localizada no estado do Pernambuco.

Em 2016, o TCU (Tribunal de Contas da União) constatou um superfaturamento de pelo menos R$ 2,1 bilhões nas obras da refinaria, chegando a bloquear bens das empreiteiras Odebrecht, OAS e do consórcio que tocou a construção de instalações no local.

Depois disso, o TCU verificou um superfaturamento nas tubovias da refinaria de mais de R$ 960 milhões. Contudo, a própria Petrobras cita em seu planejamento estratégico de 2022 a 2026 a intenção de retomar parte dos investimentos no local.

Segundo a estatal, a RNEST foi projetada para processar 230 mil barris de petróleo por dia, com foco em diesel. Até 2026, a Petrobras quer implantar mais um conjunto de unidades produtivas, o “Trem 2”, e espera adicionar mais 145 mil de barris de petróleo por dia na produção.

Alves, da Polo Capital, considera que esse investimento pode “até fazer sentido”. “Não vejo fazer refinaria como algo ruim. Em relação aos desinvestimentos, o que foi vendido era pequeno, não vejo a empresa vendendo ativos grandes no futuro”, comenta.

Mesmo existindo um risco ingerência estatal na Petrobras, alguns analistas acham isso difícil de ocorrer de forma abrupta. Leonardo Rufino, gestor da Mantaro Capital, acredita que pode até ocorrer uma intervenção de um eventual governo Lula na companhia, mas sem a “irracionalidade econômica” vista no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, também do PT.

“Embora uma nova gestão do Lula ainda seja uma incógnita, somos menos pessimistas do que o mercado. Acreditamos que parte dos investidores acreditam que a volta do Lula é uma volta do período do governo Dilma e não é isto. Não vemos chance disso acontecer”, comenta Rufino. 

Ao analisarmos o lucro anual da Petrobras desde 2002, houve prejuízo somente em três anos – 2014, 2015 e 2016, os últimos anos do governo Dilma.

lucro/prejuízo petrobras desde 2002

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