Repercutindo a divulgação do PIB brasileiro abaixo das projeções do mercado para o terceiro trimestre, o Ibovespa fechou o pregão desta quinta-feira (1), o primeiro do mês de dezembro, em baixa de 1,39%, aos 110.926 pontos. Foram R$ 22,28 bilhões em volume negociado.
Com o saldo de hoje, a alta acumulada pelo índice desde o início do ano passou para 5,82%.
Após avançar 1,2% no segundo trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro desacelerou e cresceu 0,4% no período de julho a setembro, na comparação com o trimestre anterior. Especialistas ouvidos pela Reuters esperam um crescimento de 0,7%.
Além dos dados de atividade econômica, as incertezas no âmbito fiscal e em torno do novo time econômico seguem no radar dos investidores.
Nessa frente, porém, não são esperadas grandes novidades para os próximos dias, uma vez que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) só deve ser votada pelo Senado na semana que vem e que, segundo o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), o novo governo não tem pressa em anunciar o novo ministro da Fazenda.
Frigoríficos e varejistas despencam
As maiores baixas do Ibovespa foram de ações de frigoríficos e varejistas, mas quem puxou o índice para baixo foram as bluechips, que têm maior peso. Petrobras ON (PETR3) teve queda de 3,75%, Petrobras PN (PETR4) recuou 4,01%, B3 (B3SA3) caiu 2,51% e Eletrobras ON (ELET3) perdeu 2,95%.
Na outra ponta, a alta de pesos-pesados como Vale (VALE3), que subiu 0,55% e Ambev (ABEV3), com avanço de 1,01% ajudou a limitar as perdas do Ibovespa, de acordo com Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, em comentários ao mercado.
A queda das empresas ligadas ao consumo e ao varejo, de acordo com Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AGV Capital, reflete a divulgação do PIB, que foi puxado para baixo pelo setor de comércio. O movimento também está ligado à alta dos juros futuros, reverberando os temores fiscais.
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Os frigoríficos, enquanto isso, caem em meio a notícias de uma nova onda de gripe aviária, considerada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) como a mais grave da história.
Diante disso, a maior baixa do Ibovespa nesta quinta foi da ação da BRF (BRFS3), de 9,02%. A Marfrig (MRFG3), enquanto isso, caiu 6,97%, a Minerva (BEEF3) cedeu 4,88% e a JBS (JBSS3) recuou 2,18%.
Na visão de Pedro Lang, especialista da Valor Investimentos, o setor também sofre por uma expectativa de menor margem para negócio como um todo em 2023, com o cenário econômico desafiador para o segmento.
“Somado a isso, nos últimos dias foi revivido uma disputa entre BRF e a Ipiranga sobre uma joint-venture, indicando que a dívida atualizada estaria em patamar multimilionário, o que pode estar agravando a pressão sobre o ativo”, acrescentam Régis Chinchilla e Luis Novaes, analistas da Terra Investimentos.
A BRF emitiu comunicado afirmando que o processo está em andamento e valores ainda não foram definidos.
Temores de mudança na Petrobras
Já a baixa da Petrobras, que ocorre em dia de estabilidade para o petróleo, está ligada a temores acerca de mudanças no plano de investimentos da companhia, segundo Duarte.
Ontem (30), a Petrobras divulgou seu plano estratégico para os anos de 2023 até 2027, prevendo investimentos de US$ 78 bilhões no período. O montante é 15% maior do que o anterior e, segundo a petrolífera, está no mesmo patamar de outras empresas do setor.
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A Petrobras destacou que o planejamento considera a manutenção de “dupla resiliência”, econômica e ambiental, levando em conta cenários de baixos preços de petróleo no longo prazo, com o Brent a US$ 65 por barril, e com aumento da produção com baixo carbono.
Além dos US$ 78 bilhões anunciados, a empresa alocará US$ 20 bilhões em novas plataformas, o que totalizaria quase US$ 100 bilhões de recursos em projetos. E os desinvestimentos, ou seja, os ativos que a Petrobras pretende vender, devem estar na faixa de US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões.
No entanto, o coordenador-executivo do grupo de trabalho que cuida da área de energia na equipe de transição para o novo governo, Mauricio Tolmasquim, afirmou ao jornal Valor Econômico que existe a possibilidade de revisão deste plano.
Baixa no exterior
O dia também foi de baixa no exterior, refletindo dados que indicam uma desaceleração na atividade econômica. Em Nova York, o S&P 500 caiu 0,09%, o Dow Jones recuou 0,56% e o Nasdaq avançou 0,13%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 somou ganhos de 0,5%.
O PMI industrial dos Estados Unidos, que mede a atividade do setor, caiu para 49 em novembro, abaixo das expectativas de 49,8 e dos 50,2 registrados em outubro.
Já o índice de preços para despesas e consumo pessoal (PCE), o mais observado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano), apresentou alta de 0,3% em outubro, em linha com o anotado em setembro. O núcleo do índice, que exclui os preços de energia e alimentos, mais voláteis, ficou em 0,2%, abaixo das projeções de 0,3%.
Criptomoedas
O mercado de criptoativos começou o último mês de 2022 de lado, mas conseguiu manter a recuperação nos preços vistos na véspera.
Por volta das 16h55, o Bitcoin operava com queda de 1,09%, a R$ 88.413, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap, levando em consideração as últimas 24 horas. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) perdia 1,8%, negociado a R$ 6.663.
Os impactos da quebra da corretora FTX seguem no radar dos investidores, apesar de em menor intensidade do que nos dias anteriores.
Após o pico da crise, o mercado volta a se correlacionar com outros ativos, principalmente as ações de tecnologia, que tiveram bom desenho nesta quarta-feira.
O fluxo positivo foi impulsionado pelas falas de Jerome Powell, presidente do Fed (o banco central americano), sobre a possível desaceleração da escalada dos juros a partir deste mês.
Para Ayron Ferreira, analista chefe da Titanium Asset Management, o cenário dá margem para novas altas das criptos nas próximas semanas.
“O preço do BTC está em níveis de subvalorização, a alavancagem no setor tem diminuído devido a acontecimentos recentes e abre espaço para valorizações de curto prazo e um rally de final de ano”, informou.