Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Com marco do saneamento sob risco, BRK Ambiental desiste de IPO e vê mercado desfavorável

Desistência do IPO reforça a "seca" que vive o mercado de capitais no Brasil

Foto: Shutterstock/Joa Souza

A BRK Ambiental, empresa do setor privado que presta serviços de saneamento básico em 13 estados do país, informou ao mercado na noite desta terça-feira (20) que desistiu de abrir capital na Bolsa, sete meses depois de ter de protocolado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) o pedido para fazer o IPO.

No comunicado, a companhia não entra em detalhes sobre os motivos da desistência. Limita-se apenas a dizer que as condições de mercado para abrir capital estão “desfavoráveis”.

O recuo da BRK ocorre ao mesmo tempo em que a equipe de transição do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indica a intenção de revisar o marco do saneamento, a lei que regula o setor.

A possível revisão do marco aumenta o grau de incerteza para quem atua no setor, pois há uma chance de que as regras do jogo mudem. Com isso, as condições para que uma empresa de saneamento faça um IPO também ficam piores, uma vez que a demanda de investidores pelo negócio pode ser menor do que a desejada.

Até as empresas de saneamento com capital aberto já têm sentido a cautela do mercado aumentar.

Na segunda (19), duas companhias estatais de saneamento, a Sabesp, de São Paulo, e a Copasa, de Minas Gerais, saíram das listas de ações favoritas dos analistas do Itaú BBA. A primeira saiu do chamado Top 5 e a segunda foi retirada da carteira de recomendações para quem busca bons dividendos.

Em relatório, os analistas do Itaú BBA admitem que acreditavam que um potencial processo de privatização da Sabesp poderia gerar grande valor para a companhia, uma vez que eles enxergam um espaço relevante para melhorias de eficiência nos próximos anos.

O mercado, inclusive, avaliou positivamente a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o governo de São Paulo, por ele ter se mostrado favorável à privatização, ao contrário do seu concorrente no segundo turno, o petista Fernando Haddad, que agora se prepara para ser o ministro da Fazenda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva a partir de 2023.

Apesar do otimismo com a privatização da Sabesp, o Itaú BBA destaca que as potenciais mudanças no marco do saneamento estudadas pela equipe de transição podem dificultar esse processo.

 

Leia mais:
Ibovespa deve ter valorização de pelo menos 20% em 2023 após dois anos sem pegar no tranco

“No texto atual, se uma companhia estatal é privatizada, ela pode manter seus contratos com os munícipios. Caso esse trecho da regulamentação seja revisto, essas companhias poderiam perder grande parte de seu valor em uma eventual privatização”, escreveram os analistas Victor Natal e Paulo Folha.

Em relação à saída da Copasa da carteira de dividendos, os analistas do banco ressaltaram que, apesar de atribuírem probabilidade menor a uma privatização da companhia, eventuais mudanças no marco do saneamento são igualmente negativas para a empresa.

Até meados do ano, o setor de saneamento era um dos que mais geravam otimismo entre analistas e investidores. Por estar inserido no guarda-chuva das chamadas utilities (empresas que fornecem serviços básicos à população, como as de energia elétrica), é visto como um mercado com um alto grau de previsibilidade em relação à capacidade de gerar receita.

Não à toa, as duas únicas empresas que acionaram a CVM neste ano para fazer um pedido de IPO são do setor de saneamento: a BRK Ambiental e a Corsan, estatal do Rio Grande do Sul.

A Corsan desistiu do IPO em julho e acabou indo a leilão. Nesta terça, foi arrematada pela Aegea, que fez uma oferta de R$ 4,15 bilhões.

Desde o ano passado, havia rumores no mercado de que a BRK Ambiental pudesse abrir seu capital na Bolsa brasileira como forma de captar recursos para participar de leilões de saneamento que têm sido realizados pelos governos estaduais.

Atualmente, a BRK Ambiental opera em estados de todas as regiões do país, com a oferta de serviços de água e esgoto e com mais de 16 milhões de clientes.

Os donos da BRK Ambiental são a Brookfield, gestora que tem 70% de ações da companhia, e o FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que é dono dos outros 30%.

Criado em 2007, o FI-FGTS é administrado pela Caixa Econômica Federal e tem seus recursos focados na concretização de projetos de infraestrutura no Brasil.

A desistência do IPO pela BRK Ambiental reforça a “seca” que vive o mercado de capitais no Brasil. Após um “boom” de ofertas em 2020 e 2021, o país não teve nenhum IPO em 2022.

 

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.