A chance de uma queda de 10% a 20% dos mercados acionários com aumento da aversão a ativos de riscos após o início da invasão militar da Rússia à Ucrânia é bastante “plausível”, segundo a consultoria britânica Capital Economics.
“A menos que a situação na Ucrânia melhore, a redução de risco global em andamento provavelmente continuará”, apontou a empresa em relatório divulgado nesta quinta-feira (24).
De acordo com a Capital Economics, existem poucos paralelos óbvios com essa crise, mas os principais índices de ações caíram entre 20% e 25% depois que o Iraque invadiu o Kuwait em 1990, embora tenham se recuperado quando a intervenção dos Estados Unidos levou um fim rápido à guerra.
Além da evolução da guerra entre Rússia e Ucrânia, a respostas dos principais bancos centrais à crise será o mais o fator mais importante para determinar o quão ruim serão as consequências no mercado.
Antes da escalada do conflito Rússia-Ucrânia nas últimas semanas, as ações já estavam sob pressão do aumento das taxas dos títulos do Tesouro americano no início de 2022, quando o Federal Reserve, banco central americano, e outros bancos centrais sinalizaram um ritmo mais agressivo de aperto da política monetária.
“Se o conflito levar os formuladores de políticas monetárias a adiar, ou pelo menos desacelerar, o processo de aperto, isso pode amortecer o impacto sobre os ativos de risco”, apontou a consultoria.
Segundo a Capital Economics, tudo vai depender de quanto tempo durar esse conflito. Em geral, esses eventos geopolíticos tiveram pouco impacto ao longo de um período de seis meses e este pode vir a ser o caso desta vez também, ressalta a consultoria.
Na invasão da Crimeia pela Rússia, em 2014, o preço do barril de petróleo chegou a cair 5,9% seis meses após o episódio, após ter atingido a máxima de US$ 115,06.
Alta de commodities
A Capital Economics, no entanto, destaca que a inflação tende a subir após essas crises, com os bancos centrais normalmente estabelecendo políticas um pouco mais flexíveis. A média da inflação no G7 após a invasão da Crimeia em 2014 subiu 0,2% seis meses após o evento.
Nesse cenário, os riscos são maiores para a zona do euro por causa de seus laços mais estreitos com a Rússia. O país responde por quase 40% da importação de gás e por 30% das compras de petróleo destinadas à região, aponta o UBS.
O banco prevê que se o preço do barril de petróleo ultrapassar os US$ 125 por barril, do atual patamar de US$ 99,56, nos próximos dois trimestres, o impacto no PIB global seria de queda de 0,5%. Nesse cenário, haveria também uma inflação mais alta com efeitos negativos no consumo.
Se a tensão entre Rússia e Ucrânia ficar maior, a Capital Economics prevê que o preço do barril de petróleo pode ficar entre US$ 120 e US$ 140.
Caso o barril da commodity suba para US$ 130 e os preços do gás europeu, para € 180 por megawatt hora (MWh) nas próximas semanas, a consultoria prevê que a inflação média nas principais economias avançadas aumentaria 1%, elevando a média para 6% no segundo trimestre.
Os preços mais altos dos alimentos também podem subir, uma vez que a Rússia e a Ucrânia exportam mais de um quarto da produção mundial de trigo, e a Ucrânia é um grande exportador de milho.
Dada a escala e a gravidade dos riscos, a Capital Economics elevou as previsões de curto prazo para o preço da maioria das commodities agrícolas em cerca de 25%.
Metais
Além disso, a Rússia também é um grande player em metais industriais, principalmente alumínio, níquel e paládio. “Indiscutivelmente, há uma maior probabilidade de que os produtores de metais estejam sujeitos a sanções ocidentais. Novamente, esperamos agora preços de metais industriais permaneçam mais altos por mais tempo”, aponta.
Mas o repasse do valor das commodities agrícolas para os preços ao consumidor, no entanto, tende a ser bastante fraco, e poderia elevar a inflação em 0,2% a 0,4% nos mercados desenvolvidos nos próximos meses.
“A inflação nominal ainda deve cair no final do ano, mas agora parece que a inflação média das economias avançadas ainda pode chegar a 4% em dezembro”, diz a consultoria.
A Capital Economics não acredita que o Banco Central Europeu (BCE) deva definir uma data final para o fim do programa de compra de ativos, o que era esperado para a reunião de 10 de março.
Para o Fed, o conflito torna um aumento de 0,50 ponto percentual em março ainda menos provável, mas a consultoria ainda mantém o cenário de o BC americano realizar quatro altas na taxa básica de juro neste ano.