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Bolsas nos EUA sobem em julho impulsionadas por temporada de balanços; será o fim do bear market?

Apesar da recuperação, novas correções podem acontecer à medida que resultados mostrem deterioração

Foto: Shutterstock

Depois de registrarem a pior performance desde 1970 no primeiro semestre, as bolsas americanas se recuperaram em julho e caminham para encerrar o mês em alta, a primeira desde março deste ano, com o índice S&P 500 subindo mais de 7% e o Nasdaq mostrando avanço perto de 10%.

O fato de alguns balanços das empresas nos EUA terem vindo mais resilientes do que o esperado e a perspectiva de que o banco central americano (Federal Reserve) possa desacelerar o ritmo de alta de juros sustentaram o fôlego das bolsas.

Mas o mercado de ações nos EUA de fato já antecipou o cenário mais negativo de uma recessão ou mais correções para baixo estão por vir quando os balanços das companhias começarem a mostrar deterioração?

O PIB americano mostrou uma queda de 0,9% no segundo trimestre, levando o país a entrar em recessão técnica. Olhando para os balanços do período, o cenário de recessão ainda não parece estar totalmente refletido no desempenho das empresas.

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Até 22 de julho, 21% das empresas do S&P 500 tinham reportado balanço. Dessas, 68% apresentaram lucro por ação acima do esperado pelo mercado, percentual que é inferior à média de 77% dos últimos cinco anos, segundo dados do FactSet.

Outro levantamento, do Earnings Scout, mostra que 74% das 116 empresas do S&P que reportaram resultado até 25 de julho bateram as estimativas de lucro por ação do mercado em 0,91% e 65% superaram as projeções de venda em 9,24%.

“Os balanços têm vindo em linha com o esperado, houve algumas revisões de guidance para baixo, mas não dá para dizer que os resultados estão ruins”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities.

Alguns setores, como bancos, divulgaram resultados piores do que o esperado, enquanto empresas de consumo básico, como a Coca-Cola (COCA34), superaram as projeções.

Mesmo no setor de tecnologia o resultado foi misto. Apple (AAPL34) e Amazon (AMZO34) vieram acima do esperado. Netflix (NFLX34), Google (GOGL34) e Microsoft (MSFT34) agradaram o mercado, enquanto Snap (S1NA34), Twitter (TWTR34) e Meta (M1TA34, ex-Facebook) vieram pior que o esperado, mostrando que grandes empresas geradoras de receitas têm se mostrado mais resilientes a um cenário de desaceleração econômica.

Segundo o BofA, a projeção de lucro por ação para o segundo semestre foi reduzida em 1%. Apesar das tendências fracas, o consenso de mercado ainda prevê crescimento anual do lucro por ação das empresas do S&P 500 de 11% no segundo semestre, ante avanço de 6% esperado no segundo trimestre. “Vemos um risco de queda de cerca de 20% no lucro por ação de 2023, com um cenário-base de recessão leve”, aponta o BofA em relatório de 25 de julho.

Queda na demanda por bens não duráveis

Embora os balanços ainda não mostrem cenário de recessão, alguns sinais de desaceleração da demanda, principalmente de bens de consumo discricionário, já podem ser notados.

A Netflix reportou perda de 970 mil assinantes, número menor que o esperado, mas ainda assim uma queda importante. A empresa de telecom AT&T cortou em US$ 1 bilhão a projeção para o fluxo de caixa livre em função de pagamentos de contas em atraso, um sinal de alerta do enfraquecimento do poder de compra dos consumidores, alerta o BofA.

Já o Walmart cortou projeção de lucro por ação e agora espera um recuo de 11% a 13% no ano, ante  previsão anterior de estabilidade, à medida que a inflação reduz o consumo de bens não essenciais,  como roupas e eletrônicos.

O chefe de investimentos da Avin Asset, Marcelo Karvelis, acredita que uma retração econômica não está integralmente nos preços nas bolsas. “Uma deterioração nas condições econômicas deve trazer mais volatilidade para o mercado”, diz.

Mas analistas de bancos como o JP Morgan acreditam que boa parte desse cenário negativo já está refletido nas ações americanas, após o S&P 500 cair mais de 20% no primeiro semestre.

índices bolsas americanas

 

“A percepção é que muito desse cenário negativo já estava refletido nos preços, o que explica essa recuperação em julho”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities.

O estrategista da Avenue, contudo, destaca que ainda é cedo para falar em uma recuperação sustentada das bolsas. “Tudo vai depender do tamanho da recessão”, diz.

Para o JP, uma queda dos PMIs [índices de gerente de compras] para abaixo de 50, indicando contração da economia, pode levar a uma revisão dos lucros para baixo.

Mas uma piora do resultado das empresas e indicadores de PMIs mais fracos poderiam fazer o Fed adotar uma postura menos dura no aperto da taxa de juros em setembro, o que poderia levar os investidores a voltarem para o mercado de ações.

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“Dado o ponto de partida já baixo nos mercados de ações, é possível que os investidores usem essa redefinição nos lucros e qualquer alteração resultante nas mensagens do Fed como uma oportunidade para adicionar risco [na carteira]”, diz o JP em relatório.

Mudança de tendência ou rali de curto prazo?

Para Eduardo Grübler, gestor de renda variável da Warren, essa recuperação das bolsas americanas em julho é temporária e a tendência de longo prazo ainda é de baixa, com as empresas revisando as projeções de lucro para baixo, o que deve levar a uma nova onda de revisões de múltiplos.

O ponto de inflexão, segundo Grüble, só virá quando a economia americana começar a crescer de maneira sustentável. “Mas não vejo isso mudando nos próximos 18 meses”, diz.

A Capital Economics espera que a economia americana desacelerará neste ano e só começará a se recuperar gradualmente em 2023.

Nesse cenário, a consultoria não vê uma retomada das bolsas americanas neste ano e atribuiu a recuperação dos mercados no curto prazo à queda das taxas de juros de longo prazo, com os investidores passando a apostar em um ciclo menor de aperto monetário pelo Fed.

“Com o crescimento econômico em desaceleração, dólar americano forte e margens esticadas, achamos que as empresas do S&P 500 terão dificuldades para atender às previsões otimistas dos analistas”, apontou a consultoria em relatório.

A Capital Economics prevê que o S&P 500 encerre o ano em 3.400, o que implica uma queda de 16% em relação ao patamar atual, só devendo se recuperar no fim de 2023, quando o Fed começar a reduzir a taxa de juros.

É hora de voltar a buscar oportunidade em techs?

Segundo o BofA, as ações do setor de tecnologia e de consumo discricionário ainda não refletem um cenário de recessão e devem continuar performando pior que as ações de empresas de valor, mais maduras e geradoras de caixa.

O BofA destaca que o crescimento da concorrência, a desaceleração da economia e o aumento do custo de capital são ventos contrários cíclicos para o setor de tecnologia. Além disso, a tendência de desglobalização na cadeia de produção pós-Covid-19 e guerra na Ucrânia é negativa para o segmento.

Nesse cenário, o JP também está com recomendação overweight (acima da média do mercado) para as empresas de valor, mas vê a possibilidade de recuperação no curto prazo das empresas de crescimento, como do setor de tecnologia, que foram as que mais sofreram neste ano.

Grübler, da Warren, prefere os setores de energia e consumo não durável. “Na pandemia teve aumento de bens de consumo durável e agora a demanda está diminuindo”, diz.

Para quem acredita em uma mudança de tendência, Castro, da Avenue, vê os bancos e as ações de tecnologia como apostas interessantes, mas de risco e retorno maior. Em tecnologia, o estrategista-chefe vê oportunidade no Google, pela solidez da empresa, e também do setor de cibersegurança, que deve se beneficiar do crescimento das atividades online.

Já Karvelis prefere ações de setores mais defensivos, principalmente de energia, como da Exxon Mobil (EXXO34), e de consumo não discricionário (não relacionados com ciclos econômicos), como Procter & Gamble (PGCO34) e Coca-Cola, além de produtos aeroespaciais como Lockheed Martin (LMTB34), que se beneficia do aumento global de gastos com defesa.

Na parte de tecnologia, a maior concentração da gestora é em ações de empresas mais capitalizadas e com forte geração de caixa, como Apple (AAPL34) e Microsoft.

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