Após um dia sem negócios na quarta-feira (2) devido ao feriado do Dia de Finados no Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, opera em queda, em linha com os pares internacionais, refletindo o tom duro do presidente do Federal Reserve (o banco central americano, o Fed), Jerome Powell, em discurso após a autoridade monetária elevar os juros em 0,75 ponto porcentual pela quarta vez consecutiva no país.
No índice, a Eneva (ENEV3) liderava as perdas às 13h40 com um recuo de 6,16%, seguida por São Martinho (SMTO3), que perdia 3,72%, e Braskem (BRKM5), que caía 3,25%. O Ibovespa recuava 0,45% no mesmo horário, operando aos 116.440 pontos.
Mais cedo, o CEO da Eneva, Pedro Zinner, anunciou a sua renúncia ao conselho de administração da companhia após quase seis anos no cargo. Segundo nota divulgada na terça-feira (1º), o executivo vai se dedicar a novos desafios profissionais.
O colegiado já deu início ao processo de sucessão de Zinner, que continuará no cargo até a conclusão da transição. Ainda não há data definida para a sua saída, mas deve ocorrer até 31 de março do próximo ano.
Em relatório publicado antes da abertura do mercado, O Itaú BBA afirmou que esperava a reação negativa do mercado, avaliando que os investidores podem se questionar sobre os motivos da decisão. “Alguns podem suspeitar que ele não está mais muito otimista com as perspectivas de longo prazo da empresa”, cogita o banco.
No caso de São Martinho, os analistas Régis Chinchila e Luis Novaes, da Terra Investimentos, veem a empresa com uma cadeia de distribuição prejudicada pelos protestos antidemocráticos vistos nas estradas brasileiras desde a noite de domingo. “As ações sofrem com a perspectiva de danos aos resultados em decorrência dos protestos que tomaram a infraestrutura rodoviária nos últimos dias”, comentam os analistas.
A Vale (VALE3), que recuava 3,31%, também pressionava o índice, ressalta o analista Edmar Oliveira, especialista de renda variável da One Investimentos.
Para o analista Leonardo Piovesan, da casa de análise Quantzed, a queda da ação da mineradora é reflexo de perdas recentes no minério de ferro entre outubro e o início de novembro. A tonelada do produto chegou a ser cotada na faixa dos US$ 100 e despencou para próximo de US$ 85.
Apesar disso, o minério de ferro negociado na bolsa de Dalian teve alta de 1,12%, a US$ 86,74. Oliveira acredita que, passadas as definições iniciais do novo governo de Xi Jinping na China, o mercado pode ficar mais otimista com os setores. O especialista da One acredita que as ações ligadas ao setor podem subir nas próximas semanas.
Ademais, a Gol (GOLL4) recuava 2,42% e Azul (AZUL4) perdia 1,84%. O analista da Quantzed entende que as baixas no setor aéreo estão ligadas a incertezas quanto ao futuro das manifestações nas estradas do país, que acabaram fazendo as companhias aéreas cancelarem e atrasarem voos nos últimos dias.
O Ibovespa, enquanto isso, caminha para a primeira queda da semana, embora o índice tenha chegado a cair mais de 2% no início do pregão, após o EWZ, principal ETF de ações brasileiras no exterior, recuar 3% na quarta, afetado pela fala de Powell.
O Federal Reserve cumpriu o roteiro imaginado pelo mercado ontem, ao elevar os juros americanos em 0,75 p.p e indicar uma desaceleração no ritmo de alta das taxas a partir das próximas reuniões. Meia hora depois da decisão, contudo, o presidente do BC dos EUA surpreendeu os investidores e jogou um balde de água fria no otimismo do mercado.
Em resumo, Powell afirmou que o mais importante agora não é pensar no ritmo de aumento, mas sim no nível final das taxas dos fed funds, os juros americanos. Disse ainda que o limite para o final do ciclo de alta aumentou desde a reunião anterior do Fed, e ficou mais perto de 5% do que dos 4,6% sinalizados da última vez.
Para Oliveira, da One, a queda da Bolsa é consequência do discurso feito por Powell na véspera, que o mercado está digerindo. “Além disso, passada a eleição, a Bolsa aguarda mais notícias de indicação de ministros e formação do novo governo Lula”, ele diz.
Leia também:
Balde de água fria: Powell sinaliza alta de juros menor, mas por mais tempo
IRB lidera altas da Bolsa
Na ponta positiva, o ressegurador IRB (IRBR3) subia 7%, seguido por empresas ligadas à curva de juros e à economia interna: Méliuz (CASH3 +5,69%), Magalu (MGLU3 +4,17%) e Americanas (AMER3 +3,96%).
Chinchilla e Novaes, da Terra, afirmam que o avanço dessas empresas se deve a uma expectativa de investidores para o quarto trimestre, que, na visão deles, é um “período de maior rentabilidade para as empresas de consumo”.
“Além disso, o mercado avalia o próximo ano, contando com a inflação convergindo à meta, juros estáveis, e possíveis políticas de incentivo ao consumo”, acrescentam.
No caso de IRB, os analistas da corretora enxergam que esse avanço reflete uma expectativa de investidores em um possível retorno à lucratividade na empresa nos próximos anos.
Ademais, Raízen (RAIZ4) subia 3,88%, Grupo Soma (SOMA3) ganhava 4,16% e Petz (PETZ3) apontava em 3,19% para cima.
Outra ação em alta é a do Banco Pan (BPAN4), que avançava 0,52% às 13h40 após abrir em baixa de mais de 4%. A instituição apresentou ao mercado, na manhã desta quinta-feira (3), seu resultado do terceiro trimestre deste ano. O banco digital reportou um lucro líquido estável na comparação anual, ao crescer apenas 1% e atingir R$ 193 milhões.
Para o Itaú BBA, o resultado trouxe sinais mistos. Em relatório, analistas da instituição afirmam que as operações operações de crédito foram fracas no trimestre, com a margem líquida de juros (NIM) pressionada, juntamente com um aumento de custos, mas a gestão mostrou que “pode obter lucros decentes mesmo em tempos turbulentos”.
Mercados externos
Os mercados globais operam negativos enquanto investidores digerem o discurso de Jerome Powell e reprecificam suas apostas sobre o futuro da taxa de juros americana.
Na Europa, os investidores repercutem a decisão de política monetária do Banco da Inglaterra. A instituição aumentou a taxa básica de juros do país em 0,75 p.p, atingindo os 3%, o maior valor desde 2008.