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Big techs: com queda de até 73% no ano, é hora de investir em empresas como Facebook e Google?

Juros altos devem continuar penalizando papeis, mas há casos com múltiplos atrativos e negociando abaixo da média histórica

Gabriel Bosa

Gabriel Bosa

Foto: Shutterstock/gguy

Após a forte queda das ações das big techs americanas conhecidas pela sigla FAAMGs, em referência a Facebook (Meta), Apple, Amazon, Microsoft e Google (Alphabet), que reportaram resultados que decepcionaram o mercado no terceiro trimestre, será que esses papéis estão baratos? É hora de comprar ou o fundo do poço ainda não chegou?

Apesar do tombo dessas ações no ano, analistas e gestores ainda veem o risco dessas ações passarem por novas rodadas de correção nos próximos 12 meses, diante do cenário de que o banco central americano continuará subindo a taxa básica de juros.

Contudo, há empresas que estão com múltiplos atrativos após a correção vista em outubro e começam a mostrar oportunidades de compra.

A alta da taxa de juros e da inflação nos Estados Unidos tem penalizado desde o início do ano empresas de crescimento como as do setor de tecnologia, que dependem mais de investimentos para crescer, principalmente as que geram menos receita no presente, como a Meta (M1TA34) e a Tesla (TSLA34).

“Do ponto de vista macroeconômico, o pior ainda não passou. A taxa de juros [hoje entre 3,75% e 4% ao ano] deve ultrapassar o patamar de 5% nos EUA. O mercado já trabalha com essa possibilidade, mas podem vir surpresas negativas com a alta de juros”, diz Gustavo Pazos, analista da Warren.

Soma-se a isso a expectativa de desaceleração econômica, com aumento do risco de recessão, que tende a penalizar os resultados dessas companhias, com empresas e consumidores buscando reduzir seus gastos.

Facebook lidera perdas entre FAAMGs

Entre as FAAMGs, a que mais sofreu neste ano foi a Meta, dona do Facebook, Instagram e Whatsapp. O papel da companhia cai 73,57% no ano, até 3 de novembro, desvalorização bem acima da registrada pelo índice Nasdaq no período, de 33,89%.

Gráfico variação ações FAAMGs

Os investidores veem com receio os investimentos da empresa no Metaverso, segmento no qual ainda há dúvida sobre a rentabilidade do negócio. “A companhia teve muita despesa com gasto de pessoal e outros custos que vieram acima da expectativa”, diz Guilherme Zanin, estrategista da Avenue.

A empresa tem queimado caixa para financiar os investimentos. A geração de fluxo de caixa livre da Meta foi de US$ 173 milhões no último trimestre, contra US$ 12 bilhões em dezembro de 2021.

Além disso, a empresa enfrenta desafios com a atualização de privacidade do sistema iOS pela Apple, que pode prejudicar a oferta de anúncios direcionados aos usuários, além da concorrência do TikTok, que Mark Zuckerberg vem tentando combater com investimentos em vídeos no Instagram.

Esses desafios já se refletiram no balanço do último trimestre, quando a Meta reportou queda de 52% no lucro na comparação anual, o que levou a um tombo de 25% das ações após a divulgação.

Queda da receita com publicidade é risco

A expectativa de desaceleração da economia deve afetar as receitas com publicidade, uma vez que as empresas tendem a cortar custos e empresas com receita expostas a esse segmento como Meta e Google (GOGL34) tendem a sofrer mais, afirma Pazos.

No caso do Google, as receitas da empresa são mais diversificadas, com atuação em outros segmentos, como serviços de computação na nuvem (cloud computing) e de software.

A receita do Google com publicidade alcançou US$ 54,48 bilhões no terceiro trimestre, alta de 2,54% na comparação anual, mas abaixo da expectativa dos analistas, o que levou a uma queda de 9,63% das ações no dia seguinte do balanço.

Recessão é risco para Amazon e Apple

A expectativa de desaceleração econômica nos EUA no ano que vem, com impacto no consumo, deve afetar mais a Amazon (AMZO34) e a Apple (AAPL34), segundo Zanin.

Apesar de reportar um lucro acima do esperado, a Amazon anunciou projeções mais pessimistas para a receita no quarto trimestre, o que levou a uma queda de 6,80% dos papéis.

Já a Apple, apesar de reportar resultado acima das expectativas no terceiro trimestre, alertou para uma possível desaceleração do crescimento da receita no último trimestre.

“Algumas empresas já mostraram algum impacto da desaceleração econômica nos resultados, mas a perspectiva é de revisão para baixo”, diz Pazos.

A Apple tem se mostrado mais resiliente a esse cenário e vem procurando diversificar as fontes de receita investindo em serviços de nuvem.

É hora de comprar?

Apesar da queda acumulada pelas big techs, Marcelo Arnosti, estrategista-chefe de Multimercados, Renda Variável e Offshore da BB Asset, afirma que os preços ainda não estão baixos o suficiente para estimular a entrada dos investidores.

A previsão do gestor é que o clima adverso seja revertido apenas a partir de março do próximo ano.

“Precisamos ter uma indicação de que os bancos centrais vão diminuir o aperto monetário e que a atividade econômica vai melhorar”, afirma.

Na mesma linha, a Órama Investimentos se desfez de todas as empresas de tecnologia na sua carteira de BDRs.

Phil Soares, chefe de análises de ações da Órama, afirma que o mercado deve levar de um a dois anos para analisar o impacto que o atual momento de desafios terá em cada empresa.

Para Pazos, da Warren, o fundo do poço ainda não chegou. Um dos motivos é que o aumento esperado da taxa de desemprego nos EUA deve levar os americanos a venderem mais ações, já que a poupança desses investidores está em renda variável, o que pode levar a uma queda maior dos papéis.

Pazos ainda vê a continuidade do movimento de migração para ações de empresas de valor, que geram mais caixa, e ativos com menos risco, como a renda fixa. “Por isso achamos que não é um bom momento para entrar”, diz.

Por outro lado, após a forte queda das ações das big techs neste ano, os ativos começam a ficar baratos e podem ser uma oportunidade para quem tem horizonte de médio e longo prazo.

Historicamente, as empresas do grupo chamado de FAAMGs negociam com prêmio em relação ao S&P 500. Hoje, após a queda neste ano, essa empresas negociam com múltiplo de preço/lucro de 15,3 vezes,  próximo ao do S&P 500, de 15,1 vezes, e abaixo do múltiplo do índice da bolsa de tecnologia Nasdaq, de 15,9 vezes, diz Zanin.

Empresas baratas

Com a forte queda neste ano, empresas como o Google já negociam abaixo da média histórica.

A ação da Alphabet negocia hoje a um múltiplo preço sobre o lucro projetado para 12 meses de 17,2 vezes, abaixo do patamar de março de 2020 em plena pandemia, de 18,8 vezes, e perto do patamar de junho de 2012, que era de 17,24 vezes, diz Marcelo Karvelis, chefe de investimentos da Avin Asset, gestora do fundo Avin Global Equities.

“O Google é a empresa que mais vai se beneficiar do uso de inteligência artificial e nesses níveis a ação já dá mais margem de segurança para comprar”, diz Karvelis.

De forma geral, a gestora está com uma posição underweight (abaixo da média do mercado) em ações de tecnologia, concentrada em grandes nomes como Apple, Microsoft, Amazon e Google.

“São empresas globais que não têm como não ter na carteira porque são líderes em seus mercados e apresentam geração de lucro consistente”, diz Karvelis.

Já Zanin, da Avenue, vê oportunidade nos papéis do Google e da Microsoft.

No caso do Google, Zanin destaca que a empresa tem o maior caixa líquido entre as FAAMGs, de US$ 132 bilhões, o que mostra sua solidez financeira.

Já a Microsoft (MSFT34) tem um histórico de conseguir atravessar com sucesso todas as crises, nunca tendo reportado um trimestre de prejuízo desde sua listagem na Bolsa americana em 1986.

A Microsoft registrou queda de 14% no último resultado fiscal ante o mesmo período do ano anterior e apontou para vendas menores de computadores à frente.

A venda de computadores desacelerou depois da pandemia e a empresa tem enfrentado maior competição com a Apple no segmento de serviços na nuvem, além de ser prejudicada pela alta do dólar, diz Zanin.

Queda das big techs impacta BDRs

O tombo dos papéis das companhias americanas incide diretamente na desvalorização das BDRs (sigla de Brazilian Depositary Receipts), os recibos que permitem a negociação de ativos internacionais na Bolsa de Valores brasileira.

Das dez opções com maior volume médio diário negociado no BDRX, o índice que reúne os principais papéis deste tipo, todas são do segmento de tecnologia.

tabela com BDRs mais negociados

Para André Moura, sócio da Nau Capital, o prazo para a recuperação dos ativos deve se alongar até 2024. Para quem tem estômago para segurar até lá, a recompensa pode ser atrativa diante do potencial das empresas.

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