Uma opção para o investidor diversificar sua carteira de investimentos e investir em empresas mundialmente conhecidas são as Brazilian Depositary Receipts (BDRs), que têm despertado cada vez mais o interesse dos brasileiros, desde que Comissão de Valores Imobiliários (CVM) passou a permitir, em agosto do ano passado, que qualquer investidor, independente do porte financeiro, possa aplicar seu dinheiro nessas ações.
Um BDR é um papel emitido e negociado no Brasil que representa ações de empresas listadas em bolsas de outros países, como na Nasdaq dos Estados Unidos, por exemplo. No mês passado, o volume negociado em BDRs cresceu 88% em relação a igual mês de 2020, para R$ 11,17 bilhões. E, em dezembro, o número de investidores que aplicaram em BDRs cresceu 151% ante um ano antes, para 306 mil.
As empresas de tecnologia, por enquanto, são as preferidas por aqui. Quem liderou a lista das mais negociadas em fevereiro foi o Mercado Livre (MELI34), que obteve um volume médio negociado por dia (ADTV) de R$ 91,6 mil no mês, o que corresponde a 15% do total de todos os papéis do tipo para o período, segundo dados da B3.
Na sequência, aparecem Tesla, Meta (ex-Facebook), Alphabet (dona do Google) e Amazon. Dentre elas, apenas o Mercado Livre registrou prejuízo no quarto trimestre de 2021. O restante anotou lucro, mas nem todos os resultados agradaram. Veja como foram os balanços destas empresas no quarto trimestre de 2021:
Mercado Livre (MELI34)
O Mercado Livre, que teve um prejuízo de US$ 46,1 milhões no quarto trimestre do ano passado, foi afetado por maiores custos no período, segundo Mateus Messias, analista da Inside Research. A empresa apresentou uma despesa total de US$ 2,56 bilhões no ano de 2021, um aumento de 62% no comparativo com 2020.
O prejuízo diminuiu 9% no comparativo com o mesmo período de 2020. Já no ano completo, a empresa obteve um lucro de US$ 83,3 milhões, e reverteu prejuízo de US$ 707 mil no ano de 2020. As informações são do balanço da companhia, divulgado no dia 22 de fevereiro.
A receita total da companhia no último trimestre do ano passado foi de US$ 2,1 bilhões, um aumento de 73,9% em relação a igual período em 2020. No acumulado do ano o montante saltou 66,6%, alcançando US$ 6,15 bilhões.
A fintech de pagamentos da companhia, o Mercado Pago, respondeu por 37% da receita líquida do período, com US$ 773 milhões. Segundo o co-fundador e CEO da companhia, Stelleo Tolda, os números da plataforma demonstram a capacidade de diversificação nas fontes de geração de caixa da empresa.
“A transformação gerada pela nossa fintech, cuja base de usuários e serviços cresceu ainda mais, nos permite criar valor e acelerar a inclusão financeira em um momento tão importante”, afirmou Tolda, em comunicado.
Além disso, parte do crescimento da receita se deve ao aumento na base de usuários ativos da companhia, que passou de 74 milhões no último trimestre de 2020 para 82,2 milhões no período equivalente em 2021.
“Mesmo com o crescimento da base de usuários ativos e novas soluções, os resultados ainda refletem o alto nível de investimentos em logística, tecnologia e marketing, com forma de se consolidar em um mercado onde a concorrência tem se tornado bastante acirrada”, afirma Messias.
Após a divulgação do balanço, o mercado reagiu de forma positiva, e as ações subiram 10% no dia seguinte na Nasdaq, índice que a empresa é listada. Nos últimos seis meses, contudo, as ações da empresa caíram 37,75%.
Para Guilherme Zanin, estrategista-chefe da Avenue, as ações da empresa caíram nos últimos meses porque estavam com “múltiplos bastante elevados”. Um múltiplo de mercado é a relação entre o preço de uma ação e suas variáveis operacionais, como dividendos, lucros e geração de caixa.
Tesla (TSLA34)
A empresa do bilionário Elon Musk divulgou seus resultados no dia 26 de janeiro, e reportou um lucro de US$ 2,32 bilhões no quarto trimestre, um resultado quase oito vezes maior que os US$ 270 milhões registrados no período equivalente de 2020.
A montadora reportou uma receita recorde de US$ 17,7 bilhões, um aumento de 65% no comparativo entre os últimos trimestres de 2020 e 2021.
Conforme disse o analista internacional da XP, Vinicius Araujo, em relatório, o dado positivo do balanço ficou por conta da capacidade de produção da empresa, demonstrada nas entregas de novos carros da companhia, que cresceram 87% em 2021.
A Tesla entregou 308 mil carros em todo o mundo no quarto trimestre, um recorde para a fabricante de veículos elétricos. No ano, foram 936 mil veículos vendidos, um resultado que foi 87% maior que em 2020 e superou as expectativas de crescer cerca de 50%.
“Olhando para o futuro, as duas novas fábricas da Tesla no Texas e Berlim podem eventualmente dobrar a capacidade de produção, mas a empresa não detalhou muito sobre os planos de expansão”, escreveu Araujo.
Em contrapartida, a companhia apontou que problemas em relação à cadeia global de suprimentos, como os semicondutores, por exemplo, que contribuíram para uma redução nas vendas para a maioria das outras grandes montadoras, também irão atingir a Tesla em 2022.
Meta (FBOK34)
A controladora do Facebook registrou um lucro líquido de US$ 10,3 bilhões no quarto trimestre, uma queda de 8% no comparativo com o período equivalente em 2020. Segundo o analista internacional da XP, o resultado, apesar de positivo, decepcionou o mercado por não conseguir crescer sua base de usuários.
Na avaliação de Guilherme Zanin, da Avenue, a empresa apresenta essa dificuldade desde antes da pandemia porque já se consolidou no seu nicho.
A rede social registrou 2,91 bilhões de usuários ativos mensais no quarto trimestre, sem crescimento em relação ao terceiro trimestre de 2021. “O Facebook está sentindo o impacto do aumento da concorrência por uma mudança no interesse pelo vídeo, onde a publicidade não é tão lucrativa”, afirma Araujo.
Para o futuro, Mateus Messias projeta que o uso de suas plataformas para o marketing, as funcionalidades de e-commerce e pagamentos serão fontes importantes de geração de receitas para a empresa nos próximos anos.
A receita trimestral da empresa também cresceu de outubro a dezembro de 2021, e registrou um avanço de 20% no comparativo com o trimestre final de 2020, para US$ 33,67 bilhões.
Alphabet (GOGL34)
A dona do Google obteve um lucro líquido de US$ 20,6 bilhões no último trimestre de 2021, um avanço de 32% no comparativo com o período equivalente em 2020. A receita do segmento de anúncios e publicidade do Google foi de US$ 61,24 bilhões no trimestre, um aumento de 33% em relação aos US$ 46,2 bilhões no mesmo período do ano anterior.
Segundo Araujo, da XP, em relatório, a receita proveniente do YouTube foi a única que veio abaixo do esperado, devido à concorrência com o TikTok.
Para Messias, da Inside, os resultados da empresa foram fortes mesmo com uma base de comparação robusta em 2020, e projeta alguns desafios para 2022. “Vemos como risco de curto prazo uma desaceleração econômica global, o que deve impactar as receitas gastas com marketing de pequenos negócios”, comenta.
O segmento de nuvem também foi destaque e registrou um crescimento de receita de 45%, para US$ 5,54 bilhões. Nos últimos anos, a empresa direcionou uma boa parte de seus investimentos e novos funcionários para essa divisão, que fica atrás da Amazon (AMZO34) e da Microsoft (MSFT34) na venda deste tipo de serviços para corporações.
A Alphabet fechou o ano com um lucro líquido total de US$ 76 bilhões, quase o dobro dos US$ 40 bilhões no ano passado.
Amazon (AMZO34)
A companhia de Jeff Bezos viu seu lucro crescer em duas vezes no comparativo entre os três últimos meses de 2020 e os de 2021, e alcançou o montante de US$ 14,3 bilhões no segundo. A receita da Amazon foi de US$ 137,4 bilhões no período.
Para Messias, o número veio acima das expectativas do mercado por conta dos eventos de final de ano como a black friday e o Natal, que impulsionaram parte das vendas.
“Apesar do crescimento mais tímido do varejo online, acreditamos que a companhia tenha acertado na decisão de aumentar a assinatura prime nos EUA, equilibrando o aumento de custos logísticos e com funcionários”, comenta.
Além disso, Messias acredita que a plataforma de serviços da nuvem da empresa está entrando em segmentos promissores para os próximos anos, como o Metaverso, e também outros já consolidados como o financeiro e automotivo.
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Juros altos afetam as ações
Na última quarta-feira (16), o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, elevou os juros americanos em 0,25 ponto porcentual. Contudo, esse movimento era antecipado pelo mercado desde meados do ano de 2021, quando a inflação começou a se mostrar como um problema por lá.
Esse cenário de ameaça na alta dos juros prejudica empresas de tecnologia, que predominam a lista dos BDRs mais negociados na B3.
“A alta dos juros é negativa para o setor de tecnologia pois ele precisa se endividar para poder crescer de forma exponencial, e se a taxa aumenta, essa dívida começa a ficar mais cara”, comenta Zanin, da Avenue.
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Desde o meio do ano passado, os investidores têm visto uma queda nas ações dessas companhias lá fora e por aqui. Os BDRs do Mercado Livre, por exemplo, desvalorizaram 86% de setembro de 2021 para cá, passando de R$ 83,37 para os atuais R$ 43,26.

As BDRs mais negociadas por aqui também sofreram com o aumento nos juros:
Empresa | Ticker | Valor máximo do papel durante o 4º trimestre | Valor atual do BDR | Desvalorização |
Mercado Livre | MELI34 | R$ 83,37 | R$ 43,26 | 86% |
Tesla | TSLA34 | R$ 216 | R$ 130,81 | 65,12% |
Meta | FBOK34 | R$ 71,50 | R$ 35,96 | 98,33% |
Alphabet | GOGL34 | R$ 112,05 | R$ 88,55 | 26,54% |
Amazon | AMZO34 | R$ 131,55 | R$ 96,63 | 36,14% |