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Aperto do Fed pode intensificar desvalorização do real, diz economista do Banco Original

Anúncio do Fed de aceleração da redução dos estímulos torna cenário menos favorável para emergentes e pode ampliar desvalorização do real

O anúncio da aceleração da retirada dos estímulos pelo banco central americano, o Federal Reserve (Fed), e a possibilidade de antecipação da alta da taxa de juros nos Estados Unidos torna o cenário menos favorável para os mercados emergentes, podendo provocar uma desvalorização ainda maior da moeda brasileira, avalia o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso.

No caso do Brasil, dado que o Banco Central brasileiro é o que mais subiu a taxa básica de juros no mundo, a taxa Selic alta oferece uma linha de defesa para a moeda brasileira, tornando os ativos brasileiros mais atrativos comparados com outros emergentes, dado o grande diferencial de juros, explica Caruso.

“Mas isso não impede que o real se desvalorize porque temos incerteza política e fiscal grande”, diz. O Banco Original prevê um dólar a R$ 6,15 no fim de 2022.

O dólar comercial fechou em alta de 0,21% nesta quarta-feira, negociado a R$ 5,7055.

Se isso vai levar o Banco Central a ter que subir mais a taxa básica de juros, vai depender do impacto do câmbio na inflação e do quadro fiscal no Brasil, diz Caruso.

O banco central dos Estados Unidos anunciou que vai acelerar a redução do ritmo de compra de ativos (tapering) para  US$ 30 bilhões por mês a partir de janeiro, dobrando o volume do atual patamar de US$ 15 bilhões, podendo encerrar o programa em março de 2022.

A autoridade monetária também confirmou o que já vinha comunicando ao mercado de que mudou sua visão de que a alta da inflação era transitória ao retirar esse trecho do comunicado. “De fato, olhando para as projeções de inflação divulgadas hoje, nem em 2023 os membros do Fed enxergam que eles vão atingir a meta de 2%”, apontou Gustavo Cruz, economista estrategista da RB Investimentos em relatório.

“Na nossa leitura, o Fed entregou tudo que o mercado de esperava,  de que ele viria mais hawkish [mais inclinado ao aperto monetário]  e aceleraria para US$ 30 bilhoes por mês o corte na compra de ativos”, disse Caruso.

Em entrevista coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, evitou dar mais pistas sobre se a antecipação do fim do programa de compra de ativos significará uma elavação da taxa de juros mais cedo que o esperado pelo mercado. As projeções do Fed indicam três altas de juros em 2022.

“O Fed tem tido muito cuidado em dissociar as duas coisas, o tapering da alta de juros. Essas três altas já estavam refletidas na curva de juros”, disse Caruso.

Nos Estados Unidos, a taxa do título americano de 10 anos (Treasury) subia de 1,441% para 1,465% às 16h25. Já o Dollar Index, que acompanha o desempenho da moeda americana frente ao uma cesta de moedas subia 0,27%.

A discussão agora é se o Fed poderá elevar a taxa básica de juros acima do esperado pelo mercado para trazer as expectativas de inflação para a meta ou até acelerar o ritmo de alta de juros, diz Caruso. “Nosso viés é que ele não vai  acelerar o ritmo de alta da taxa de juros além dos 0,25 ponto”, disse Caruso, que espera uma elevação da taxa básica nos EUA apenas no segundo semestre.

Apesar da alta de juros nos EUA já estar em parte refletida nos preços dos ativos no mercado, isso pode trazer um problema para os mercados emergentes aumentando a pressão de desvalorização do câmbio, afirma Caruso. “Uma coisa é estar na curva de juros e ser uma possibilidade, outra é estar entregando de fato essa alta”, diz.

Quando a taxa nos Estados Unidos sobe, os investidores tendem a migrar as alocações em ativos de risco para aplicar nos papéis do Tesuro americano, considerados como porto seguro.

A necessidade de uma alta maior da taxa básica de juros por parte do Banco Central a esse cenário vai depender do impacto do câmbio na inflação e do perfil das contas públicas, diz Caruso.

“Se olhamos para o cenário alternativo do BC, ele já considera o risco de uma alta maior das taxas de juros nos EUA”, diz Caruso, que mantém a projeção de alta da taxa Selic para 12,25% no fim do ciclo de aperto monetário.

Para Caruso, o surgimento da nova variante do coronavírus ômicron não foi suficiente para fazer os bancos centrais mudarem o plano de voo dado que ela não tem aumentado o número de hospitalizações que exigisse medidas de lockdown para conter o avanço da doença, diz.

O presidente do Fed, Jerome Poweel, disse hoje que a variante ômicron é um risco para o crescimento da economia, mas ela não impacta o plano do banco cnetral americano de acelerar o tapering.

Juros acompanham dólar apesar de IBC-Br

No mercado de juros futuros, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) subiram. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2023 subiu de 11,48%, no ajuste anterior, para 11,58%. Já a taxa do DI para janeiro de 2027 avançou  de 10,37% para 10,38%.

As taxas dos títulos do Tesouro Direto também subiram nesta quarta-feira.

A taxa do papel prefixado para 2024 subia, às 15h22, de 10,67% para 10,78% , enquanto a taxa do título para 2031 avançava de 10,47% para 10,53%.

Já as taxas dos títulos atrelados à inflação Tesouro IPCA+ também operavam em alta. A taxa do papel com vencimento em 2026 subia de 4,96% para 4,97%, enquanto a taxa do título para 2055 avançava de 5,07% para 5,14%.

Quando as taxas sobem, os papéis emitidos com taxas de juros mais baixas se desvalorizam. Assim quem tem os papéis prefixados nas carteiras com prazos mais curtos teve perda hoje. Mas essa perda só será realizada se o investidor vender esse papel agora. Se ele carregar o título até o vencimento, não sofrerá este prejuízo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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