Apesar das medidas de estímulo adotadas pelo banco central chinês (PBoC, Banco do Povo) para estimular a recuperação da economia chinesa, a Capital Economics prevê estagnação do crescimento da China neste ano, com taxas de crescimento trimestral modestas em 2023.
A avaliação foi feita pela consultoria britânica em relatório, que apontou três fatores que sustentam sua visão mais pessimista para a economia chinesa. O banco central chinês anunciou nesta segunda-feira (22) o corte da taxa básica de juros de empréstimos (LPR, na sigla em inglês) de um ano, que caiu de 3,70% a 3,65%.
“As medidas para afrouxar a política monetária e de crédito provavelmente não proporcionarão um impulso significativo à demanda (especialmente por habitação) nas atuais circunstâncias”, apontou a Capital Economics.
Esse foi o segundo corte de juros promovido na China em uma semana na tentativa de promover estímulos para recuperação da economia. No primeiro semestre, a economia chinesa cresceu 2,5% em relação ao ano anterior, bem abaixo da meta de crescimento para o ano, de 5,5%.
“À medida que os sinais de atividade fraca se acumulam, as expectativas para o crescimento chinês podem sofrer um reajuste doloroso”, afirmou a consultoria. O banco Nomura, por exemplo, revisou o crescimento para a economia chinesa de 3,3% para 2,8% na semana passada.
Os dados fracos de atividade em julho mostraram uma desaceleração da economia chinesa, que vem sofrendo com as constantes medidas de lockdowns em função da adoção da política de zero casos de Covid-19 no país e com a crise no mercado imobiliário, que vem se agravando com o aumento do calote de hipotecas.
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“As vendas no varejo, o investimento fixo e a produção industrial desaceleraram mais do que o esperado. Em resposta, o Banco Popular da China cortou as taxas de juros, uma medida que sugere que as autoridades chinesas estão cada vez mais preocupadas com as perspectivas para a segunda maior economia do mundo”, apontou a Capital Economics.
Crise imobiliária levará tempo para se resolver
Para a consultoria, grande parte da atual fraqueza da economia chinesa pode ser atribuída a problemas em seu setor imobiliário, que responde por cerca de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Apesar disso, a Capital Economics não vê o risco da crise imobiliária se transformar em uma crise financeira, como aconteceu nos EUA em 2007 e 2008. Isso porque os empréstimos imobiliários na China são muito menos alavancados quando comparados aos dos EUA.
Em média, os compradores de imóveis colocam metade do preço de venda como depósito. Os bancos da China também parecem estar mais protegidos de quaisquer problemas no setor imobiliário, até porque seu apoio estatal reduz o risco de contágio.
O grande problema no mercado imobiliário chinês, segundo a Capital Economics, é o aumento do calote de hipotecas em função do atraso na entrega dos imóveis, o que agravou as condições de liquidez das incorporadoras imobiliárias.
Tudo isso deixou o setor imobiliário da China mais frágil. As vendas de imóveis caíram 29% em julho na comparação anual, enquanto a construção de novas moradias caiu 45%.
O anúncio na semana passada de que o governo subscreverá os passivos das incorporadoras imobiliárias mais sólidas financeiramente foi um passo na direção certa, de acordo com a consultoria, mas a situação das empresas imobiliárias mais frágeis continua difícil de resolver e implicará em perdas, que terão que ser absorvidas pelo governo, investidores ou dos compradores.
A Capital Economics estima que essas perdas podem alcançar 7 trilhões de yuans ou o equivalente a 6% do PIB chinês. “E mesmo que um acordo sobre como alocar as perdas possa ser alcançado, quaisquer medidas para apoiar os desenvolvedores imobiliários entrariam em conflito com uma política mais ampla contra a tomada de risco excessivo no setor financeiro. Resolver esses problemas não será rápido ou fácil”, destacou a consultoria em relatório.
Seca na China traz risco de crise energética
Além do problema no setor imobiliário, as últimas semanas também trouxeram más notícias de outras partes da economia. Primeiro, o agravamento da seca no oeste da China ameaça desencadear uma crise energética nacional.
Em segundo lugar, as novas infecções por Covid atingiram o nível mais alto desde que Xangai saiu de seu bloqueio em maio. Mais de 30 cidades que juntas geram um quinto do PIB da China estão passando por surtos locais. “Se uma nova onda de infecções se espalhar, mais bloqueios se seguirão”, alertou a Capital Economics.
Boom de exportações parece desacelerar
Por fim, há sinais iniciais de que o boom de exportações que impulsionou a recuperação da China da fase inicial da pandemia pode estar desacelerando, à medida que os padrões de consumo no resto do mundo se normalizam e os estoques são reconstruídos.
As exportações representaram cerca de 19% do PIB chinês em 2021.
Para o Brasil, uma desaceleração da economia chinesa é uma má notícia, uma vez que o país é o nosso principal parceiro comercial e respondeu por 28% das exportações brasileiras de janeiro a junho.