O BCE (Banco Central Europeu) aumentou a taxa de juros da zona do euro de 2,50% para 3,00% ao ano, conforme o esperado pelo mercado, mas surpreendeu os investidores ao sinalizar que vai manter este ritmo de alta em sua próxima decisão, marcada para 16 de março.
Com isso, a expectativa é de que os juros da zona do euro atinjam já no mês que vem o maior nível desde o fim de 2008.
E a presidente da instituição, Christine Lagarde, deixou claro durante entrevista coletiva que as taxas continuarão subindo nos meses seguintes, até que estejam num “território restritivo” – ou seja, em níveis que dificultem o crescimento da economia.
Apesar do recado duro, o mercado ainda parece ter dúvidas sobre o compromisso do BCE com a alta dos juros. Por volta das 12h, a taxa de juros projetada por títulos da dívida da Alemanha com vencimento em dois anos caía de 2,7% para 2,5%.
BCE descola do Fed
A decisão do BCE contrasta com a do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, que reduziu ontem o ritmo de alta nos juros americanos. Mas isso resulta principalmente dos diferentes estágios de ambas as instituições no combate à inflação.
Nos EUA, a inflação terminou o ano passado em 6,5%, depois de ter atingido um pico de 9,0% em junho. Na zona do euro, no entanto, a inflação bateu num teto de 10,6% em outubro e encerrou 2022 em 9,2%.
Nos dois lados do Atlântico, a meta de inflação é de 2,0% ao ano – ou seja, o Fed está muito mais perto de chegar a este objetivo que o BCE.
Além disso, na zona do euro, há dois fatores que complicam a vida do BCE, segundo o banco ING.
O primeiro deles é a chance cada vez maior de o bloco passar longe de uma recessão no primeiro semestre. “Isso dá às empresas mais poder de preço”, disse o banco, sugerindo que a pressão para queda nos preços ao consumidor está menor.
O segundo fator são os estímulos fiscais adotados na zona do euro, que podem mudar a fonte de pressão inflacionária. Até agora, o principal motivo para os preços altos eram problemas do lado da oferta – insumos escassos e caros, por exemplo. Daqui para frente, porém, a pressão pode vir por causa da demanda elevada, disse o ING.
Reino Unido deve desacelerar alta de juros
No Reino Unido, o BoE, seu banco central, aumentou os juros em 0,50 ponto porcentual, para 4% ao ano, mas sinalizou em comunicado divulgado ao mercado que a alta da taxa pode desacelerar nos próximos meses.
Isso porque, na avaliação das autoridades, embora a inflação ao consumidor continue elevada, “provavelmente atingiu um pico em muitas economias avançadas”.
A expectativa do banco central é de que a inflação ao consumidor do Reino Unido termine este ano em 4%, nível muito menor que o observado ao fim do ano passado, de 10,5%.
Além disso, o BoE fez as contas sobre como ficaria a inflação se a trajetória dos juros no Reino Unido ficasse dentro do que o mercado prevê, e deu mais um indício de que, em breve, pode parar de aumentar as taxas.
O mercado financeiro acredita que os juros no Reino Unido vão subir para 4,5% em meados deste ano, e cair gradativamente para 3,25% ao longo dos próximos três anos. Com isso, nas contas do BoE, a inflação ficaria abaixo da meta de 2% ao ano durante este período.
No comunicado divulgado ao mercado, o banco central disse que, embora haja espaço para eventuais desvios, “a meta de inflação se aplica a todos os momentos” – ou seja, se a alta de preços desacelerar demais, a instituição vai agir estimular a inflação.
⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!