Alta dos juros segue a todo vapor na Europa, mas pode perder fôlego no Reino Unido

Presidente do BCE sinalizou nova alta de 0,50 ponto porcentual nos juros em março

Christine Lagarde, presidente do BCE. Foto: Alexandros Michailidis/Shutterstock

O BCE (Banco Central Europeu) aumentou a taxa de juros da zona do euro de 2,50% para 3,00% ao ano, conforme o esperado pelo mercado, mas surpreendeu os investidores ao sinalizar que vai manter este ritmo de alta em sua próxima decisão, marcada para 16 de março.

Com isso, a expectativa é de que os juros da zona do euro atinjam já no mês que vem o maior nível desde o fim de 2008.

E a presidente da instituição, Christine Lagarde, deixou claro durante entrevista coletiva que as taxas continuarão subindo nos meses seguintes, até que estejam num “território restritivo” – ou seja, em níveis que dificultem o crescimento da economia.

Apesar do recado duro, o mercado ainda parece ter dúvidas sobre o compromisso do BCE com a alta dos juros. Por volta das 12h, a taxa de juros projetada por títulos da dívida da Alemanha com vencimento em dois anos caía de 2,7% para 2,5%.

BCE descola do Fed

A decisão do BCE contrasta com a do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, que reduziu ontem o ritmo de alta nos juros americanos. Mas isso resulta principalmente dos diferentes estágios de ambas as instituições no combate à inflação.

Nos EUA, a inflação terminou o ano passado em 6,5%, depois de ter atingido um pico de 9,0% em junho. Na zona do euro, no entanto, a inflação bateu num teto de 10,6% em outubro e encerrou 2022 em 9,2%.

Nos dois lados do Atlântico, a meta de inflação é de 2,0% ao ano – ou seja, o Fed está muito mais perto de chegar a este objetivo que o BCE.

Além disso, na zona do euro, há dois fatores que complicam a vida do BCE, segundo o banco ING.

O primeiro deles é a chance cada vez maior de o bloco passar longe de uma recessão no primeiro semestre. “Isso dá às empresas mais poder de preço”, disse o banco, sugerindo que a pressão para queda nos preços ao consumidor está menor.

O segundo fator são os estímulos fiscais adotados na zona do euro, que podem mudar a fonte de pressão inflacionária. Até agora, o principal motivo para os preços altos eram problemas do lado da oferta – insumos escassos e caros, por exemplo. Daqui para frente, porém, a pressão pode vir por causa da demanda elevada, disse o ING.

Reino Unido deve desacelerar alta de juros

No Reino Unido, o BoE, seu banco central, aumentou os juros em 0,50 ponto porcentual, para 4% ao ano, mas sinalizou em comunicado divulgado ao mercado que a alta da taxa pode desacelerar nos próximos meses.

Isso porque, na avaliação das autoridades, embora a inflação ao consumidor continue elevada, “provavelmente atingiu um pico em muitas economias avançadas”.

A expectativa do banco central é de que a inflação ao consumidor do Reino Unido termine este ano em 4%, nível muito menor que o observado ao fim do ano passado, de 10,5%.

Além disso, o BoE fez as contas sobre como ficaria a inflação se a trajetória dos juros no Reino Unido ficasse dentro do que o mercado prevê, e deu mais um indício de que, em breve, pode parar de aumentar as taxas.

O mercado financeiro acredita que os juros no Reino Unido vão subir para 4,5% em meados deste ano, e cair gradativamente para 3,25% ao longo dos próximos três anos. Com isso, nas contas do BoE, a inflação ficaria abaixo da meta de 2% ao ano durante este período.

No comunicado divulgado ao mercado, o banco central disse que, embora haja espaço para eventuais desvios, “a meta de inflação se aplica a todos os momentos” – ou seja, se a alta de preços desacelerar demais, a instituição vai agir estimular a inflação.

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