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Alta de juros nos EUA em março é quase garantida; para especialistas, balanço é onde mora a dúvida

Banco central americano se reúne nesta quarta-feira (26) para definir o rumo da política monetária

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. (Foto: Divulgação / Federal Reserve)

Os especialistas do mercado financeiro são quase unânimes na aposta de que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, sinalizará na próxima quarta-feira (26) que os juros do país vão aumentar em março. Falta consenso, no entanto, sobre o que a instituição dirá sobre o próprio balanço. Esta é a dúvida que tem deixado o mercado volátil.

Em meados de dezembro, o Fed deixou claro que julgava ser necessário elevar os juros pelo menos três vezes em 2022 e pegou o mercado no contrapé.

Até então, investidores previam apenas 31% de possibilidade de alta das taxas em março deste ano. Após a sinalização, houve um ajuste de posições e esse porcentual chegou a 81% recentemente, segundo dados do CME Group.

Expectativas para juros na reunião de março do Fed

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Curva de probabilidade da trajetória da taxa básica de juros dos EUA em março. A linha azul representa manutenção, a vermelha, alta de 0,25 ponto percentual, e a verde, de 0,50 ponto. Fonte: CME Group

Semanas depois, o Fed surpreendeu novamente ao divulgar que parte de suas autoridades era favorável à redução do balanço. Na prática, equivaleria a remover da economia americana os dólares injetados durante os anos de crise. O presidente da instituição, Jerome Powell, foi a público em seguida para tranquilizar o mercado, dizendo que a redução do balanço levaria tempo.

Por enquanto, o balanço do Fed está em cerca de US$ 9 trilhões e em expansão, porque a instituição segue comprando títulos de dívida no mercado. O consenso dos especialistas é de que as compras continuarão até meados de março e, a partir de então, serão interrompidas para que o ciclo de alta nos juros tenha início nos EUA.

O banco ING, porém, acha que o Fed pode ser mais austero, interrompendo as compras já na próxima quarta-feira. “Com a economia retomando toda a produção perdida, a inflação rodando no maior nível desde 1982 e a taxa de desemprego abaixo de 4%, há motivos suficientes para justificar a normalização da política monetária”, disse o banco, em um relatório.

Na opinião do ING, o encerramento antecipado das compras de títulos de dívida pelo Fed aceleraria também o início da redução no balanço da instituição. A maioria do mercado espera este movimento para o período entre setembro e outubro, mas há quem acredite que o Fed será mais rápido.

O Itaú BBA, por exemplo, espera que a diminuição comece já no segundo trimestre deste ano. “Entendemos que o
Fed poderia anunciar tal redução em maio ou junho. O processo provavelmente será mais rápido do que o
observado em 2017, diante do montante de ativos muito maior atualmente”, afirmou.

Segundo estimativas colhidas pelo Itaú BBA, se o Fed reduzir o balanço em US$ 300 bilhões neste ano e em US$ 1,3 trilhão em 2023, os juros dos títulos de dez anos da dívida dos EUA podem passar de 2% ao ano, algo que não acontece desde 2019.

Outros especialistas consideram que o Fed seguirá o cronograma esperado pelo mercado para reduzir o próprio balanço, mas avaliam que Powell aproveitará para falar sobre o assunto na entrevista coletiva que concederá após o anúncio da decisão de política monetária.

“Qualquer pista nova sobre os detalhes da redução do balanço será importante porque há várias questões em aberto sobre o momento, o ritmo e a composição desta diminuição”, afirmou o Wells Fargo.

Como o balanço do Fed afeta o Brasil

A última vez em que o Federal Reserve reduziu o tamanho do próprio balanço foi entre o início de 2018 e meados de 2019. Naquele período, o banco central americano acreditava que a economia do país estava forte o suficiente para que começasse a remoção dos estímulos adotados desde a crise financeira de 2008.

Os estímulos equivaliam, na prática, à injeção de dólares no sistema financeiro. Quando o banco central começou a reduzir o balanço — ou seja, a recolher esses dólares a mais que havia colocado na economia –, a consequência mais direta foi justamente a valorização da moeda americana em relação às de países emergentes.

No Brasil, a taxa de câmbio passou de R$ 3,27, no início de janeiro de 2018, para R$ 3,83 por dólar em agosto de 2019. A moeda americana também subiu quase 10% em relação ao yuan no mesmo intervalo, apesar dos controles aplicados pelo governo chinês à flutuação do câmbio.

Desta vez não deve ser diferente, segundo as estimativas do Wells Fargo. O banco aponta que o fortalecimento das moedas de países emergentes no início do ano é um fator pontua, e que, com o aumento dos juros e a redução no balanço do Fed, o mais provável é que o movimento se inverta.

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