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Redução do balanço do Fed ainda demora, diz Powell; mercados reagem bem

BC dos Estados Unidos começará a vender títulos, mas decisão ainda está sob análise

Silvia Rosa

Silvia Rosa

Um dos principais pontos de preocupação do mercado com a ata do Federal Reserve na semana passada foi com o anúncio da redução do balanço patrimonial do banco central dos Estados Unidos. Ao fazer essa redução, ou seja, vender ou deixar títulos hipotecários e da dívida pública vencerem, a autoridade monetária enxuga a liquidez dos mercados, cenário prejudicial para papeis mais arriscados (ações e ativos de países emergentes).

Mas declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, ao Senado americano no início da tarde desta terça, dia 11, ajudaram a tirar um pouco da pressão sobre esse ponto. Em sabatina de confirmação do seu segundo mandato à frente do banco, ele afirmou que essa decisão ainda demorará três ou quatro reuniões para ser tomada.

“Espero que 2022 seja um ano em que daremos passos para a normalização [da política monetária]: elevar os juros, terminar as compras de ativos e talvez mais tarde no ano também nos veremos permitindo que o balanço encolha”, declarou. “O comitê ainda não tomou decisão sobre o momento de nada disso, vamos ter que ser humildes e ágeis”.

O tom tranquilizou os mercados: às 15h20, o dólar caía 1,29%, e os contratos DI com vencimento em abril de 2025 recuavam 2 pontos, a 11,42%, segundos dados da plataforma TradeMap.

Na avaliação do analista da Guide Investimentos, Rodrigo Crespi, o câmbio reagiu com alívio às falas de Powell. “Foi mais um alívio com a informação de que o Fed pode demorar de três a quatro sessões para decidir sobre a redução do balanço patrimonial”, afirmou. “Vemos uma realização forte do dólar contra o real”.

Ata do Fed trouxe nervosismo ao mercado

Na semana passada, o Fed deu o recado: os juros da maior economia do mundo, hoje próximos de zero, vão subir mais cedo ou mais rapidamente do que era esperado. Mas essa não foi a pior notícia da ata da última reunião de política monetária do banco, pelo menos do ponto de vista de países emergentes como o Brasil.

No documento, o Fed sinalizou que vai além, e que pode começar a reduzir a carteira de ativos no balanço do banco ainda neste ano. Esse foi o ponto que causou mais preocupação no mercado: além de reduzir gradativamente as compras de títulos hipotecários e da dívida pública (o chamado tapering), o banco central indicou que pode reduzir sua posição nestes papéis ainda em 2022, retirando liquidez dos mercados.

Parte dos investidores teme que se repita o cenário verificado em 2013, quando o BC americano retirou os estímulos à economia de forma considerada abrupta.

Pé no acelerador, pé no freio

Para entender esse cenário, em primeiro lugar é importante saber que os bancos centrais usam diferentes instrumentos para estimular ou refrear a atividade econômica, dependendo do comportamento da inflação (no caso do Fed, também do mercado de trabalho).

Um deles é a taxa de juros básica, que serve como referência para as operações de crédito de um país. Se os juros pagos pelos títulos públicos ficam maiores, isso tende a reduzir os empréstimos e a atividade econômica. Além disso, os títulos, que são de baixíssimo risco, se tornam mais atrativos.

Se os juros ficam menores, é o contrário: a atividade tende a se aquecer e aplicações em ativos mais arriscados mas que pagam retornos maiores são estimuladas.

Outra forma de estimular a atividade é através da compra, pelo Fed, de títulos de dívida. Isso injeta mais liquidez (ou seja, mais dinheiro em circulação) no sistema financeiro, e foi uma estratégia importante para proteger a economia durante a crise trazida pela pandemia de coronavírus.

Como o momento atual é de preocupação com a escalada da inflação –a expectativa é que em 2021 a variação de preços atingirá 7% nos EUA, o maior nível em quatro décadas — o BC americano já anunciou que irá reduzir essas compras gradativamente (movimento conhecido como tapering).

“O tapering é como você acelerar um carro a 100 quilômetros por hora, e em algum momento começar a tirar o pé do acelerador”, explica Álvaro Frasson, economista responsável pela equipe de macroeconomia do BTG Pactual Digital. “Já subir os juros é colocar o pé no freio”.

Tudo isso estava mais ou menos no preço dos investidores. Na última ata, entretanto, o Fed anunciou que vai além: não só irá reduzir essas compras de títulos, mas também começará a se desfazer destes papéis – seja desistindo de trocar os títulos que vencem por títulos novos, seja vendendo os que estão em carteira, reduzindo ainda mais a liquidez do mercado.

“Eu não só deixo de comprar, como no caso do tapering, mas passo também a vender. Isso tira dinheiro de circulação”, esclarece Frasson. “Esse movimento já vinha sendo previsto, mas não tão antecipadamente”.

Em 2013, quando o Fed anunciou que iria começar o processo de retirada de estímulos, os mercados sofreram por com o receio de que enxugar a liquidez iria levar à estagnação da economia mundial (esse fenômeno foi batizado de taper tantrum).

“Na época, foi uma maneira brusca de se virar a chave. Mas acho que o momento atual não mostra isso, o Fed vem comunicando há bastante tempo que irá retirar os estímulos. Essa retirada de liquidez está sendo mais que avisada”, pondera o economista do BTG Pactual Digital.

Por que isso mexe com o mercado?

E por que as decisões sobre juros e estímulos à economia nos EUA acabam tendo tanto impacto no mercado brasileiro?

Para entender isso, é importante saber que, quando os juros sobem em países desenvolvidos, em especial na maior economia do mundo, que é a americana, a tendência é que aconteça um fenômeno batizado de “flight to quality” (quando investidores deixam ativos de maior risco, como os de países emergentes como o Brasil, para buscarem papéis considerados mais seguros).

Como os títulos da dívida pública dos Estados Unidos, conhecidos como treasuries, são considerados os ativos mais seguros do mundo, o interesse por eles sobe consideravelmente quando passam a pagar mais ao investidor.

Nessas horas, os investidores comparam os juros e a inflação dos Estados Unidos com esses mesmos indicadores para Brasil, calculando o chamado diferencial de juros. A partir dessas informações, avaliam o que vale mais a pena para a alocação de recursos em termos de risco e retorno.

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