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Varejo em queda e inflação menor mostram economia fria, mas juros longos e dólar disparam

Apesar disso, juros futuros de vencimento longo abriram em alta com chance de BC concordar em rever meta de IPCA

Foto: Shutterstock/Vibhin Periye

Dois dados divulgados pelo IBGE nesta quinta (9) – o tombo das vendas no varejo em dezembro, o maior desde agosto de 2021, e a alta menor que a esperada da inflação em janeiro – apontam que os juros altos estão esfriando a atividade econômica, cenário que deve se manter neste início de 2023 e que facilita o trabalho do Banco Central, de conter a alta de preços.

Apesar disso, o dólar e os juros longos disparam na manhã de hoje, com rumores de que o Banco Central, sob ataque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode ceder e aceitar um afrouxamento da meta para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2023 e 2024.

O site Metrópoles afirmou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, estaria disposto a votar a favor de uma revisão para cima na meta de inflação deste ano, de 3,25% ao ano para 3,50% ao ano, na próxima reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional), em fevereiro.

O colegiado é composto por Campos Neto e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento, Simone Tebet.

“Essa movimentação [do mercado] é um pouco de estresse com o que está sendo ventilado, de que o Roberto Campos Neto vai aceitar uma revisão da meta. O mercado não vê isso com muitos bons olhos, e a curva longa está precificando um pouco mais de risco”, aponta Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.

Na contramão do mundo, onde a moeda americana perde força, no Brasil o dólar futuro estava em alta de 1,23% por volta das 11h50. No mesmo horário, os contratos DI com vencimento em 2029 subiam 0,24 ponto porcentual, a 13,39%, segundo dados da plataforma TradeMap.

Confira abaixo como o mercado viu a divulgação do IPCA de janeiro e o desempenho do comércio em dezembro.

Alta do IPCA perde ritmo, mas serviços preocupam

O IPCA de janeiro mostrou avanço de 0,53%, um pouco abaixo dos 0,57% projetados pelo mercado, segundo a Refinitiv, e apontou que o índice de difusão da inflação (ou seja, quantos itens apresentaram alta de preço) foi de 63% em janeiro, abaixo dos 69% registrados em dezembro.

“A composição do IPCA mostra que tanto os preços de bens industriais quanto de serviços já estão em desaceleração”, aponta Claudia Moreno, economista do C6 Bank. “A diferença é que em bens industriais o recuo deve acontecer mais rapidamente do que em serviços.”

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De acordo com a especialista, a alta em bens industriais foi de 0,20% em janeiro, elevação que reflete a normalização das cadeias de produção e queda dos preços das commodities.

Para a economista Laiz Carvalho, do BNP Paribas, a surpresa para baixo veio de dois grupos: vestuário e saúde e cuidados pessoais. Ela ponderou, entretanto, que os núcleos de inflação (indicadores que desconsideram produtos com preços mais voláteis na análise da alta de preços) continuam elevados.

“A média dos núcleos está em alta de 0,51%, e no caso dos serviços, a alta é de 0,58%”, disse a especialista, que acredita em alta de 6,5% do IPCA neste ano e corte dos juros somente em 2024. “Como disse o Bruno Serra ontem [diretor de política monetária do BC], apesar de o índice geral estar voltando, os núcleos ainda preocupam, por isso o BC se mantém vigilante.”

A equipe de macroeconomia do Itaú Unibanco alertou que a expectativa é que o IPCA em fevereiro acelere por fatores sazonais.

“À frente esperamos que a inflação acelere na leitura de fevereiro, principalmente com impacto dos reajustes de mensalidades e matrículas que sazonalmente pressionam a inflação do mês”, afirmou o banco em relatório.

O tombo do varejo

No final do ano passado, o varejo tombou 2,6% na comparação com novembro, uma queda bem maior do que a esperada por analistas ouvidos pela Reuters, que viam um recuo de 0,8% em dezembro.

Para Rafael Perez, economista da Suno, a tendência é que o setor de varejo se mantenha em queda nestes primeiros meses de 2023, com os juros altos e aumento da inadimplência refreando o consumo.

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“A tendência de queda no setor observada nos últimos meses é um sinal de que a taxa de juros já começa a influenciar o setor, além do aumento do endividamento e inadimplência das famílias, o que vem diminuindo o ímpeto por gasto pelas consumo”, apontou em relatório. “Por isso, dado o cenário doméstico ainda desafiador, acreditamos que nos próximos meses deve se manter essa tendência de desaceleração do segmento de varejo.”

Moreno, economista do C6 Bank, lembra que as vendas dos segmentos sensíveis à renda, como supermercados, caiu em dezembro, diferentemente do que era esperado. Ao mesmo tempo, apontou, itens que dependem de crédito, como automóveis e eletrodomésticos, se recuperaram.

“Esse comportamento não deve se repetir nos próximos meses”, ponderou. “Daqui para a frente, as vendas dos segmentos sensíveis ao crédito devem ter desempenho mais fraco, podendo, inclusive, encolher, pois elas sentem mais fortemente o impacto negativo do juro alto.”

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