A alta de 3,35% do custo com transportes em novembro, uma aceleração ante o avanço de 2,62% registrado em outubro, teve o maior impacto para o aumento de 0,95% do IPCA no mês passado, respondendo por 76% (ou 0,72 ponto percentual) do índice de inflação.
Esse aumento do custo com transportes foi puxado pela alta dos preços da gasolina de 7,38%, que contribuiu com o maior impacto individual no índice do mês (0,46 p.p.). Com o resultado de novembro, a variação acumulada do combustível nos últimos 12 meses foi de 50,78%. Além disso, houve altas também nos preços do etanol (10,53%), do óleo diesel (7,48%) e do gás veicular (4,30%).
O petróleo e a valorização do dólar em relação ao real têm provocado aumentos consecutivos nos preços dos combustíveis no Brasil. O preço do petróleo no mercado internacional impacta diretamente o preço dos combustíveis no mercado doméstico. Mas esse repasse não é imediato e leva um tempo para a Petrobras reajustar os preços.
Desde o último aumento do preço da gasolina pela Petrobras, 25 de outubro, a cotação do barril de petróleo tipo Brent recuou de US$ 85,99 para US$ 75,12 hoje às 10h30, o que levou o presidente Jair Bolsonaro chegar a afirmar que a Petrobras reduziria o preço da gasolina, sem confirmação pela empresa.
Preço do combustível vai aliviar em 2022?
Para 2022, os analistas não esperam uma queda tão forte do preço do petróleo dado o desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado internacional, fruto de menores investimentos no setor com a pressão da agenda ESG por fontes menos poluentes.
O JP Morgan prevê que o estoque de petróleo nos Estados Unidos deve retornar aos patamares pré-Covid somente em julho de 2023, o que aumenta o poder de barganha da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com o banco prevendo um preço médio para o barril tipo Brent de US$ 88 em 2022.
Alta do preço dos automóveis eleva custo de transportes
Outro fator que tem influenciado a alta do custo dos transportes é o aumento dos preços dos automóveis, com elevação de 2,36% dos veículos novos em novembro e de 2,38% dos usados, variações maiores que as de outubro (1,77% e 1,13%, respectivamente). Os preços das motocicletas (1,29%), por sua vez, subiram menos que no mês anterior (1,86%).
Essa alta tem sido reflexo da falta de peças com a interrupção da cadeia de suprimentos durante a pandemia, o que já melhorou, mas ainda não voltou ao nível normal.
Já do lado das quedas, o segmento de Saúde e Cuidados pessoais teve redução de 0,57% em novembro, seguido por Alimentação e Bebidas (-0,04%), com impactos de -0,07 p.p. e -0,01 p.p. no IPCA, respectivamente.
Inflação em 12 meses é maior desde 2003
A alta de 0,95% do IPCA no mês passado veio abaixo do esperado pelo mercado e mostrou uma desaceleração em relação a alta de 1,25% em outubro. Foi a maior variação para um mês de novembro desde 2015 (1,01%)
A variação acumulada em 12 meses, contudo, alcançou 10,74% em novembro, acima dos 10,67% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, e é a maior desde novembro de 2003 (11,02%). O número está bem acima do teto da meta de inflação de 5,25% para este ano.
Dado o patamar elevado da inflação, os analistas esperam que alta tenha um impacto na inflação de 2022, o que eles chamam de inércia inflacionária, processo em que a inflação passada se reflete nos preços presentes.
As projeções dos analistas no último Boletim Focus apontam para uma inflação terminando em 10,18% em 2021 e em 5,02% em 2022.