Ata do Copom indica taxa de juros básica mais elevada no final do ciclo por causa de risco fiscal

Em documento, BC afirmou que diretores chegaram a avaliar ritmo mais intenso de alta

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgada nesta quarta, dia 3, indica que a Selic, taxa de juros básica da economia, terminará o atual ciclo de aperto monetário mais elevada do que o esperado há um mês, como consequência da mudança no cenário fiscal. No final de outubro, o governo anunciou alteração no teto de gastos para acomodar mais despesas em 2022.

“O Comitê ponderou que a assimetria no balanço de riscos, resultante dos desenvolvimentos no cenário fiscal, implica elevação do risco altista para as projeções do seu cenário básico, e avalia que esse viés de alta é agora maior do que o anteriormente considerado. Como consequência, o Comitê concluiu que o grau apropriado de aperto monetário é significativamente mais contracionista do que o utilizado no cenário básico”.

A ata pode levar a uma nova revisão para cima das projeções da taxa básica no ano que vem. O último boletim Focus já mostrou que analistas esperam uma Selic de dois dígitos no ano que vem (a mediana indica juros básicos de 10,25% em dezembro de 2022).

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Na semana passada, após o governo afirmar que pretende alterar o teto de gastos para abrir quase R$ 100 bilhões a mais em espaço para despesas no Orçamento do ano que vem, o BC elevou a Selic para 7,75% ao ano, acelerando o passo do aperto monetário, que estava em 1 ponto percentual.

O documento ainda reafirmou o compromisso do Copom com entrega da meta de 2022. Para muitos analistas, o Comitê não conseguirá entregar o objetivo do ano que vem e se arrisca inclusive a não cumprir o de de 2023 (a meta para o IPCA do ano que vem é de alta de 3,5%, e a de 2023 de 3,25%, sempre com intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima e para baixo).

Ritmo maior de alta foi considerado

No documento, o colegiado afirma que avaliou a possibilidade de um ritmo de alta maior do que 1,5 ponto. “Prevaleceu, no entanto, a visão de que trajetórias de aperto da política monetária com passos de 1,50 ponto percentual, considerando taxas terminais diferentes, são consistentes, neste momento, com a convergência da inflação para a meta em 2022, mesmo considerando a atual assimetria no balanço de riscos”.

O Comitê ainda ressaltou que as contas públicas apresentam um comportamento “melhor do que o esperado”. “No entanto, surgiram, entre as reuniões do Comitê, questionamentos relevantes em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual, resultando em elevação dos prêmios de risco. Esses questionamentos também elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas”.

Na avaliação do BC, no ano que vem o crescimento da economia será beneficiado por três fatores. “Primeiro, pela continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços, mesmo que em menor intensidade do que se antecipava anteriormente; segundo, pelo desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa; e, terceiro, por resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária arrefece.”

 

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